sábado, 29 de outubro de 2011

Apaixonada

Arte de Weberson Santiago



Eu te quis desde o primeiro momento que eu te vi. Uma coisa estranha que eu nunca havia sentido. Não precisou chegar perto para isso acontecer. Não sei se o cheiro chegou antes ou se o sentimento anda mais rápido que o nosso próprio corpo.

Falando em corpo, talvez o cheiro tenha chegado mesmo antes. Depois de algumas semanas, quando estava dependurada no seu pescoço, tive a certeza que aquele era o lugar que eu queria ficar para o resto da minha vida. Não foi preciso experimentar o beijo para saber o gosto da sua paixão. Não careci de declarações de amor para ouvir as palavras escritas nos seus olhos.

Quando me dei conta, estava lutando contra o exagero do apego. O mais estranho é que me apegava ao que poderia acontecer e não a algo que eu já tenha vivido. Sentia que se eu não trouxesse você para meus dias eu estaria desperdiçando uma grande oportunidade. Nosso encontro me fez experimentar a vontade do futuro.

Foi o que me fez querer ser percebida por você. Chamar a sua atenção para que você me notasse e  que quisesse misturar nossas histórias. Como quando damos as mãos e entrelaçamos os nossos dedos ou quando emaranhamos as nossas pernas durante a noite para embaralhar os nossos sonhos. Passei por cima do medo de parecer oferecida e consegui o que queria, você me notou e me convidou para dançar. Nos tornamos um par a dançar com a música que a vida nos apresenta, encolhendo as trilhas sonoras que marcam os nossos caminhos.

Então, pude perceber que na nossa relação eu me transformaria, me aprimoraria. Com você ao meu lado, eu estava me tornando melhor a cada dia, deixando para trás aquilo que podia ser abandonado, o que já não faz mais sentido, o que ficou no passado e não é mais para mim. Eu me sinto segura ao seu lado, como se nada pudesse nos atingir. As vezes temos nossos atritos, mas é muito pouco perto do resto.

E assim eu passei a querer mais e mais. Ao descobrir que nossa combinação proporcionava a temperança, que me trazia equilíbrio, eu quis me casar. Na verdade, desde que eu te vi, sonhava com você me esperando enquanto eu caminhava na sua direção até o altar. Sim, eu quero que você me acorde com seus beijos do pescoço aos pés, passando pelos meus seios, pela minha barriga, pelas minhas coxas. Não apenas aos domingos, mas todos os dias.

Deve ser pelo nosso amor e pelas emoções fortes que ele ascende em mim que de vez em quando sou tomada por um imenso ciúme. É impossível que só eu perceba o seu encanto, o quanto você é capaz de se fazer feliz me fazendo feliz. É por isso que eu tenho medo de te perder. De que você não esteja mais do outro lado do telefone quando a gente já não tiver mais nada pra falar. 

Eu decidi que eu não quero mais lutar contra o apego exagerado, vou fazer por onde esse apego se fazer necessário a cada dia para que a gente continue sempre juntos.

Somos a possibilidade de combinar os ingredientes complicados da vida para que tudo resulte em alguma coisa de agradável sabor, de percepção do que é belo e simples, da sofisticação inteligente do que é comum e ao mesmo tempo diferente. Somos uma receita a se reinventar a cada dia. Pode parecer complicada de se realizar, mas o resultado é sempre um novo paladar. Você me alimenta de uma forma que nunca consigo ficar saciada.

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Nos tornamos homens de verdade a medida que tentamos imaginar como funciona o sentimento da mulher, e conseguimos.


Publicado no Jornal Democratacoluna Crônicas de Padaria

Publicado no Caderno Cultura, p. 3, 29/10/2011, Edição Nº 1171.



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