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segunda-feira, 30 de março de 2009
Samba de Morro
segunda-feira, 23 de março de 2009
Bar do Zé
- Bom dia!
- Bom dia!
- Me vê um pão com queijo branco sem miolo e um café com leite.
- Sai um Minas na Canoa e uma Média pro rapaz! – diz o balconista.
A linguagem das padarias, bares e lanchonetes de São Paulo é, no mínimo, interessante. O Bar e Café Faculdade, orgulhosamente conhecido como Bar do Zé, é um lugar em que se ouve este tipo de tradução do seu pedido. Localizado na esquina das ruas D. Maria Antônia com Dr. Vila Nova, segundo alguns freqüentadores e ex-balconistas há mais de 100 anos, inicialmente como quitanda, em 1968 passou a ser administrado pelo Zé, sempre amigo dos clientes que acabou compartilhando seu nome com o estabelecimento.
O livro São Paulo de Bar em Bar, escrito por Francesc Petit, o descreve assim: “Atrás do Mackenzie e a dois passos da antiga Filosofia da USP, nosso boteco de esquina assistiu de camarote às famosas e trágicas manifestações estudantis de 1968. Em seus banquinhos, Chico Buarque ensaiou as primeiras composições. E Delfim Netto e Franco Montoro ensaiaram para a vida política. Movimentado o dia inteiro, bebida alcoólica só a partir do meio dia. Serve cerveja gelada e belíssimas caipirinhas, feitas pelo Geraldão. Faz sucesso o Peru Faculdade: peito de peru defumado no pão francês, queijo prato ou branco, alface, tomate, maionese e molho tártaro – os dois últimos feitos no próprio bar, há 25 anos, Pelo Beto. O freguês ainda conta com o bom humor do seu Lopes, português incapaz de dizer duas palavras sem fazer uma gozação”.
Embora a tradição dê uma característica especial ao lugar como enfatiza Petit, suas instalações são simples, capazes de passar despercebidas por um transeunte. Apelidado de sujinho por alguns, está disponível sempre das 5h30min até a 0h30min, servindo desde o café da manhã até o jantar com opções muito gostosas.
Recentemente, o Zé decidiu parar de trabalhar. Não por causa de dinheiro, pois como garante o José (balconista que, entre idas e vindas, tem 9 registros no Bar do Zé): “se fosse por dinheiro ele teria parado faz tempo, hoje tem quatro estabelecimentos”. O verdadeiro motivo da “aposentadoria” do Zé foi uma trombose e uma hérnia persistente. Suas visitas periódicas são a prova de que parou forçadamente.
Outra pérola da comunicação ouvi essa semana, quando fui tomar café da manhã, por volta de 7h30min. De repente entra uma linda jovem, arrumada para o trabalho. Só de vê-la entrar o balconista já faz o pedido. É um Toddy batido e um pão. Quando ele entrega a ela, pergunto:
- Como é aquele pão que ela pediu?
- É pão na chapa tradicional só que com requeijão - explica.
- Vê um pra mim, por favor!
Ele olha em direção ao chapeiro e diz:
- Geraldo, vê um Xerox do pão da Aline, faz uma cópia aí!
segunda-feira, 16 de março de 2009
O Outono e as Mulheres
Caminho em direção ao ponto onde embarcarei num ônibus. Destino: São Paulo. Passarei duas noites, mas a bagagem ficou pesada. Uma mochila nas costas e uma mala com rodas. De longe vejo duas pessoas sentadas no ponto de ônibus. Aproximo-me, acho um lugar na ponta do banco e sento. Uma mulata aparentando vinte e cinco anos tem uma pinça e um pedaço de um espelho quebrado na mão bem ao centro do banco. Na extremidade oposta a minha, um senhor de quarenta e poucos anos, muito magro e com cabelo cuidadosamente pintado de preto e penteado de lado e com um bigode grisalho bem aparado.
Ainda não eram sete horas da manhã. Vendo aquela moça aparando sua sobrancelha naquele lugar, numa manhã de domingo, reverêncio sua atitude. Imaginei que ela esperaria o ônibus que a levaria ao trabalho em pleno domingo e pela falta de tempo em sua rotina aproveitava para cuidar de sua aparência.
Alguns minutos depois um carro encosta na sarjeta reduzindo bruscamente sua velocidade sobre as poças da chuva que caiu na última noite do verão e no amanhecer do primeiro dia do outono. Senti um alívio por não ter me molhado. Desce uma moça branca com cabelos longos, lisos, claros e ainda molhados do banho. Suspeito que tenha trinta anos. Carrega uma sacola bem grande. Agradece a carona do rapaz e mira a mulata: “Sua carona já está ali pelo convento.”
A partir daí começam a conversar. A da sacola reclama que o seu homem pediu que ela levasse a comida, razão do pacote. Comentam um caso de um rapaz que levou três tiros. “Deu até no Jornal Regional”, diz uma delas. “Aquele lá tem três vidas”, responde a outra, demonstrando intimidade com o tal rapaz. O senhor da ponta demonstra interesse e pergunta: “Ele é lá do bairro da mocoquinha?”.
Enquanto ainda ajeita sua sobrancelha, conta que na noite anterior seus amigos insistiam para que ela ficasse, mas queria dormir. “Aquele lá cheira demais, eu não consigo acompanhar”, justificou. Então a da sacola conta qual será seu destino. Visitará seu homem na penitenciária e levará parte do seu afeto com a comida na sacola. Parece comida pra um mês. Voltam ao papo da cocaína, como se falassem de bananas. O senhor demonstra desinteresse pelo papo.
Não apenas ele, eu também. Olho quatro cachorros que interagem pela rua. Latem para chamar a atenção uns dos outros e exploram o espaço que dominam. Formam uma bela matilha, pela atitude e pela suas pelagens: um branco com manchas, outro bege, um preto e outro marrom. Liberdade. Abaixando a cabeça, observo o pé da mulata, que calça um chinelo que termina bem antes do fim de seu calcanhar.
O ônibus aponta, confiro o letreiro do destino e embarco.
A.A.N.
Março/2009
segunda-feira, 2 de março de 2009
As escolhas e suas consequências
As escolhas e suas conseqüências
Viver é uma escolha. Ambos os sentidos dessa frase são verdadeiros: pode-se acabar com a vida morrendo e durante o período entre o nascimento e a morte surgem várias situações em que duas ou mais saídas são apresentadas, os novos caminhos a serem escolhidos.
As circunstâncias das escolhas são as mais variadas, algumas têm conseqüências mais simples enquanto outras têm mais complexas. A partir das conseqüências é que deve se tomar a real decisão. Esse é o problema que está levando o mundo ao caos no qual se encontra. Não é simples levar em conta no que culminará uma decisão. Nota-se que quanto maior o grau de instrução de uma pessoa, maior a chance da decisão tomada ser a melhor possível. Como o grau de instrução da maior parte da população brasileira é baixo, as pessoas tomam decisões precipitadas e sem levar em conta as conseqüências.
Além das situações em que a escolha é responsabilidade da pessoa, existem situações que fogem do controle opcional. O indivíduo que não tem oportunidade de ter educação, o que é de direito de qualquer cidadão e falta aos brasileiros, tende a não tomar as decisões mais corretas, podendo arriscar sua vida por isso. Considerando o derrotismo e o sofrimento de uma falta de emprego e de não poder dar o melhor para os filhos, o pai pode desesperar-se e passar a praticar crimes para conseguir dinheiro. Enfim, todas más escolhas dependem de uma série de acontecimentos precedentes na vida e que muitas vezes não deve-se a culpa a esses indivíduos. Se os acordos que existem entre os seres humanos fossem cumpridos, principalmente no que diz respeito aos governantes, a situação sem dúvida melhoraria.
Outro fator que interfere ultimamente nas escolhas, é a transformação do que é cultural em natural. As coisas consideradas erradas passam a ser aceitas como certas. A busca desenfreada de estar a frente das outras pessoas monetariamente, o racismo, os preconceitos e outras situações foram criadas pela cultura e são consideradas naturais.
Falta bom senso para saber pensar nas conseqüências e falta força de vontade para lutar a favor de suas necessidades. Se não são fornecidas as menores condições para sua sobrevivência, se é de direito e não se recebe, deve-se tomar a decisão de lutar a favor dos seus direitos ou suprir essa falta com muita força de vontade e com muito trabalho.