segunda-feira, 30 de março de 2009

Samba de Morro

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Samba de Morro


Moro no bairro do morro azul, mas de morro ele não tem nada. Está longe de ser como a Mangueira ou qualquer outro que seja berço de sambistas como Cartola, Carlos Cachaça, Geraldo Pereira, entre outros. Mesmo assim, é o samba saído desses morros que embalam bons momentos que eu passo aqui no Morro Azul.
É por tratar de temas cotidianos e traduzir os mais diversos sentimentos em palavras de forma poética, que gosto do samba.  Pode ir da melancolia ao deslumbramento, passando pela tristeza, nostalgia, cegueira, alegria, pelo saudosismo, êxtase, fascínio, ilusão, e por aí vai. Uma injustiça ter sido ignorado por quase duas décadas.

O samba não só descreve a vida, é um estilo de vida. Como escreveu Wilson das Neves com Paulo César Pinheiro:
O samba é meu dom
Aprendi bater samba ao compasso do meu coração
De quadra, de enredo, de roda, na palma da mão
De breque, de partido alto e o samba canção
O samba é meu dom
Aprendi dançar samba vendo um samba de pé no chão
No Império Serrano a escola da minha paixão
No terreiro, na rua, no bar, gafieira e salão
O samba é meu dom
Aprendi cantar samba com quem dele fez profissão
Mario Reis, Vassourinha, Ataulfo, Ismael, Jamelão
Com Roberto Silva, Sinhô, Donga, Ciro e João (...)
O samba é meu dom
É no samba que eu vivo
Do samba é que eu ganho meu pão
E é no samba que eu quero morrer
De baqueta na mão
Pois quem é de samba
Meu nome não esquece mais não

Essa eu mando pro Joaquim, que me disse apaixonado e com medo de viver essa paixão, como bem descrevem Silas de Oliveira e Joaquim Ilarindo em Meu Drama:
Sinto, abalada minha calma
E embriagada minh’alma
Efeito da tua sedução
Oh! Minha romântica senhora tentação
Não deixes que eu venha sucumbir
Neste vendaval de paixão
Jamais pensei em minha vida
Sentir tamanha emoção
Será que o amor por ironia
Deu-me a fantasia
Vestida de obsessão
A ti confesso que me apaixonei
Será uma maldição?
Não sei...
À Paola, que não teve o receio descrito pela letra acima e acabou com o discurso da música Tendência, de autoria de Dona Ivone Lara:
Você entrou em minha vida
Usou e abusou, fez o que quis
E agora de desespera, dizendo que é infeliz
Não foi surpresa pra mim, você começou pelo fim
Não me comove o pranto de quem é ruim, e assim
Quem sabe essa mágoa passando
Você venha se redimir
Dos erros que tanto insistiu por prazer
Pra vingar-se de mim
Diz que é carente de amor
Então você tem que mudar
Se precisar, pode me procurar
Não, pra que lamentar
Se o que aconteceu era de esperar
Se eu lhe dei a mão foi por me enganar
Foi por entender que o amor não pode haver
Sem compreensão, a desunião tende a aparece
E aí está o que aconteceu
Você destruiu o que era seu!

Uma estrofe para os amantes sofredores, ou melhor, para aqueles que viram uma ex-amante nos braços de outro alguém. O título é “Nervos de Aço”, de Paulinho da Viola:
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Ao lado de um tipo qualquer
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do meu pode ser

Outro dia escrevia no computador e ouvia um samba na voz de Fabiana Cozza quando o Reinaldo, que estava pintando a janela de casa comentou: “Eita música boa pra trabalhar!”. “Se é!”, respondi. O samba agrada.
Para terminar, faço minhas as palavras de Paulinho da Viola na música Eu Canto Samba:
Eu canto samba
Por que só assim eu me sinto contente
Eu vou ao samba
Porque longe dele eu não posso viver
Com ele de fato eu tenho uma velha intimidade
Se fico sozinho ele vem me socorrer
Há muito tempo eu escuto esse papo furado
Dizendo que o samba acabou
Só se for quando o dia clareou

Salve o samba! Samba de Morro, Samba de Breque, Samba Batido, Samba Corrido, Samba Enredo, Samba de Partido Alto, Samba de Roda, Samba de Terreiro, Samba Canção, Samba Choro!

A.A.N.
Março/2009

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Recomendo O Samba é Meu Dom na voz do próprio Wilson das Neves, Meu Drama cantado pela Banda Casuarina, Tendência na voz de Fabiana Cozza, e Nervos de Aço e Eu canto Samba na versão acústica do Paulinho da Viola.

Este texto é dedicado ao amigo Renato Rotta, que há tempos me apresenta bons sambas. Ele assina um blog pra quem quer conhecer mais do samba e se interar dos shows que acontecem. Freqüentador assíduo, avalia as casas que conhece e relata os shows que assiste. www.sambacidade.blogspot.com

segunda-feira, 23 de março de 2009

Bar do Zé

- Bom dia!

- Bom dia!

- Me vê um pão com queijo branco sem miolo e um café com leite.

- Sai um Minas na Canoa e uma Média pro rapaz! – diz o balconista.

A linguagem das padarias, bares e lanchonetes de São Paulo é, no mínimo, interessante. O Bar e Café Faculdade, orgulhosamente conhecido como Bar do Zé, é um lugar em que se ouve este tipo de tradução do seu pedido. Localizado na esquina das ruas D. Maria Antônia com Dr. Vila Nova, segundo alguns freqüentadores e ex-balconistas há mais de 100 anos, inicialmente como quitanda, em 1968 passou a ser administrado pelo Zé, sempre amigo dos clientes que acabou compartilhando seu nome com o estabelecimento.

O livro São Paulo de Bar em Bar, escrito por Francesc Petit, o descreve assim: “Atrás do Mackenzie e a dois passos da antiga Filosofia da USP, nosso boteco de esquina assistiu de camarote às famosas e trágicas manifestações estudantis de 1968. Em seus banquinhos, Chico Buarque ensaiou as primeiras composições. E Delfim Netto e Franco Montoro ensaiaram para a vida política. Movimentado o dia inteiro, bebida alcoólica só a partir do meio dia. Serve cerveja gelada e belíssimas caipirinhas, feitas pelo Geraldão. Faz sucesso o Peru Faculdade: peito de peru defumado no pão francês, queijo prato ou branco, alface, tomate, maionese e molho tártaro – os dois últimos feitos no próprio bar, há 25 anos, Pelo Beto. O freguês ainda conta com o bom humor do seu Lopes, português incapaz de dizer duas palavras sem fazer uma gozação”.

Embora a tradição dê uma característica especial ao lugar como enfatiza Petit, suas instalações são simples, capazes de passar despercebidas por um transeunte. Apelidado de sujinho por alguns, está disponível sempre das 5h30min até a 0h30min, servindo desde o café da manhã até o jantar com opções muito gostosas.

Recentemente, o Zé decidiu parar de trabalhar. Não por causa de dinheiro, pois como garante o José (balconista que, entre idas e vindas, tem 9 registros no Bar do Zé): “se fosse por dinheiro ele teria parado faz tempo, hoje tem quatro estabelecimentos”. O verdadeiro motivo da “aposentadoria” do Zé foi uma trombose e uma hérnia persistente. Suas visitas periódicas são a prova de que parou forçadamente. 

Outra pérola da comunicação ouvi essa semana, quando fui tomar café da manhã, por volta de 7h30min. De repente entra uma linda jovem, arrumada para o trabalho. Só de vê-la entrar o balconista já faz o pedido. É um Toddy batido e um pão. Quando ele entrega a ela, pergunto:

- Como é aquele pão que ela pediu?

- É pão na chapa tradicional só que com requeijão - explica.

- Vê um pra mim, por favor!

Ele olha em direção ao chapeiro e diz:

- Geraldo, vê um Xerox do pão da Aline, faz uma cópia aí!

segunda-feira, 16 de março de 2009

O Outono e as Mulheres

Caminho em direção ao ponto onde embarcarei num ônibus. Destino: São Paulo. Passarei duas noites, mas a bagagem ficou pesada. Uma mochila nas costas e uma mala com rodas. De longe vejo duas pessoas sentadas no ponto de ônibus. Aproximo-me, acho um lugar na ponta do banco e sento. Uma mulata aparentando vinte e cinco anos tem uma pinça e um pedaço de um espelho quebrado na mão bem ao centro do banco. Na extremidade oposta a minha, um senhor de quarenta e poucos anos, muito magro e com cabelo cuidadosamente pintado de preto e penteado de lado e com um bigode grisalho bem aparado.

Ainda não eram sete horas da manhã. Vendo aquela moça aparando sua sobrancelha naquele lugar, numa manhã de domingo, reverêncio sua atitude. Imaginei que ela esperaria o ônibus que a levaria ao trabalho em pleno domingo e pela falta de tempo em sua rotina aproveitava para cuidar de sua aparência.

Alguns minutos depois um carro encosta na sarjeta reduzindo bruscamente sua velocidade sobre as poças da chuva que caiu na última noite do verão e no amanhecer do primeiro dia do outono. Senti um alívio por não ter me molhado. Desce uma moça branca com cabelos longos, lisos, claros e ainda molhados do banho. Suspeito que tenha trinta anos. Carrega uma sacola bem grande. Agradece a carona do rapaz e mira a mulata: “Sua carona já está ali pelo convento.”

A partir daí começam a conversar. A da sacola reclama que o seu homem pediu que ela levasse a comida, razão do pacote. Comentam um caso de um rapaz que levou três tiros. “Deu até no Jornal Regional”, diz uma delas. “Aquele lá tem três vidas”, responde a outra, demonstrando intimidade com o tal rapaz. O senhor da ponta demonstra interesse e pergunta: “Ele é lá do bairro da mocoquinha?”.

Enquanto ainda ajeita sua sobrancelha, conta que na noite anterior seus amigos insistiam para que ela ficasse, mas queria dormir. “Aquele lá cheira demais, eu não consigo acompanhar”, justificou. Então a da sacola conta qual será seu destino. Visitará seu homem na penitenciária e levará parte do seu afeto com a comida na sacola. Parece comida pra um mês. Voltam ao papo da cocaína, como se falassem de bananas. O senhor demonstra desinteresse pelo papo.

Não apenas ele, eu também. Olho quatro cachorros que interagem pela rua. Latem para chamar a atenção uns dos outros e exploram o espaço que dominam. Formam uma bela matilha, pela atitude e pela suas pelagens: um branco com manchas, outro bege, um preto e outro marrom. Liberdade. Abaixando a cabeça, observo o pé da mulata, que calça um chinelo que termina bem antes do fim de seu calcanhar.

O ônibus aponta, confiro o letreiro do destino e embarco.

A.A.N.

Março/2009

segunda-feira, 2 de março de 2009

As escolhas e suas consequências

Trago uma redação que fiz durante o 3º colegial, em 2000. Ela recebeu nota máxima em todos os quesitos: tema, texto, modalidade, coerência e coesão. Uma nota é uma avaliação arbitrária, sobretudo em relação a um texto, mas me recordo que a professora costumava economizar pontos nas correções.
Tem alguns conceitos psicológicos, embora não tivesse contato com a área quando a escrevi. Muitas das opiniões que coloco neste texto mudaram, acho algumas afirmações um tanto quanto radicais, não me recordava de alguns pontos de vista até reler o texto para publicá-lo no Observatório. Sobre isso, escreveu Nietzsche: "A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez". 

As escolhas e suas conseqüências

Viver é uma escolha. Ambos os sentidos dessa frase são verdadeiros: pode-se acabar com a vida morrendo e durante o período entre o nascimento e a morte surgem várias situações em que duas ou mais saídas são apresentadas, os novos caminhos a serem escolhidos.

As circunstâncias das escolhas são as mais variadas, algumas têm conseqüências mais simples enquanto outras têm mais complexas. A partir das conseqüências é que deve se tomar a real decisão. Esse é o problema que está levando o mundo ao caos no qual se encontra. Não é simples levar em conta no que culminará uma decisão. Nota-se que quanto maior o grau de instrução de uma pessoa, maior a chance da decisão tomada ser a melhor possível. Como o grau de instrução da maior parte da população brasileira é baixo, as pessoas tomam decisões precipitadas e sem levar em conta as conseqüências.

Além das situações em que a escolha é responsabilidade da pessoa, existem situações que fogem do controle opcional. O indivíduo que não tem oportunidade de ter educação, o que é de direito de qualquer cidadão e falta aos brasileiros, tende a não tomar as decisões mais corretas, podendo arriscar sua vida por isso. Considerando o derrotismo e o sofrimento de uma falta de emprego e de não poder dar o melhor para os filhos, o pai pode desesperar-se e passar a praticar crimes para conseguir dinheiro. Enfim, todas más escolhas dependem de uma série de acontecimentos precedentes na vida e que muitas vezes não deve-se a culpa a esses indivíduos. Se os acordos que existem entre os seres humanos fossem cumpridos, principalmente no que diz respeito aos governantes, a situação sem dúvida melhoraria.

Outro fator que interfere ultimamente nas escolhas, é a transformação do que é cultural em natural. As coisas consideradas erradas passam a ser aceitas como certas. A busca desenfreada de estar a frente das outras pessoas monetariamente, o racismo, os preconceitos e outras situações foram criadas pela cultura e são consideradas naturais.

Falta bom senso para saber pensar nas conseqüências e falta força de vontade para lutar a favor de suas necessidades. Se não são fornecidas as menores condições para sua sobrevivência, se é de direito e não se recebe, deve-se tomar a decisão de lutar a favor dos seus direitos ou suprir essa falta com muita força de vontade e com muito trabalho.