sábado, 21 de abril de 2018

Pré-ocupação e Pró-cura

Arte de Weberson Santiago



Me peguei quase surtando com o excesso de tarefas. Os e-mails com solicitações se multiplicavam, mensagens no WhatsApp pipocavam com pedidos de clientes e tarefas de trabalho. Por mais que eu eliminasse algumas, outras surgiam, e a sensação que eu tinha era de que eram muitas demandas para pouco Augusto.

Cada tarefa vem acompanhada de um prazo, e a somatória dos prazos me pressionava, a ponto de pensar que eu poderia me perder e não conseguiria entregar as tarefas. Eu que sempre me gabei de não precisar de agenda para lembrar dos meus compromissos, percebi que era hora de rever minha maneira de pensar.

Se eu não tivesse uma clara noção de todas as tarefas no decorrer dos próximos meses, continuaria perdido no meio do excesso. Embora tenha a disposição a agenda do celular, resolvi apelar para o método tradicional: peguei um punhado de canetas coloridas e um calendário de mesa e comecei a marcar os compromissos, períodos de atividades e todos prazos finais para entrega de trabalhos. Em seguida, montei uma planilha de compromissos na semana, de maneira que pudesse ver onde eu estaria em que hora durante todos os dias.

Apesar de saber tudo o que pus no papel, parece que o calendário e a tabela de horários me acalmaram. Fizeram com que eu tivesse ao meu alcance a estrutura de funcionamento da minha rotina. Mesmo com muitas atividades, eu pude estabelecer uma hierarquia de prioridades que consideravam o prazo e a importância de cada atividade, bem como o melhor horário para fazê-las em meio aos compromissos.

A organização do ambiente ao nosso redor tem o poder de fazer com que nos sintamos organizados. Se a bagunça vai se acumulando, nossos pensamentos e sentimentos vão se desorganizando. Então eu entro no modo pré-ocupação: as pendências ficam vindo na cabeça mesmo que não tenha a possibilidade de resolvê-las naquele momento. No modo pré-ocupação, começo a me ocupar das minhas atividades muito antes de poder fazê-las. Isso gasta uma baita energia e desgasta, sem contar a quantidade de pensamentos e sentimentos negativos relacionados, como ansiedade, nervosismo, fadiga, entre outros.

Quando me pego assim, procuro ativar o modo pró-cura. Parto em busca de uma solução prática que possa me ajudar a sair da preocupação excessiva. Procurar uma alternativa para solucionar o impasse é minha forma de lidar com isso. Como é muito difícil sair de um modo pré-ocupação quando estamos nele, muitas vezes busco ajuda em alguma pessoa de confiança com quem compartilho meu dilema e essa pessoa me ajuda a pensar em uma alternativa. Geralmente conto com a Natália ou minha terapeuta. Busco compreender o que está acontecendo e fazer algo concreto para lidar com meus pensamentos e sentimentos negativos, ao invés de ficar paralisado e tomado por eles.

O grande desafio da vida moderna é conseguir fazer uma coisa de cada vez, sem pensar no que passou ou no que está por vir. Procure você também suas estratégias para lidar com isso.

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Quando estiver no ápice da dificuldade, deixe tudo de lado e respire. Apenas respire.


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 21/04/2018, Edição Nº 1508.

sábado, 7 de abril de 2018

Safada Irresistível


Arte de Weberson Santiago



Já foi considerado defeito de fábrica, mas nada mais delicioso do que uma mulher safada.

Ser parceiro de uma mulher safada é como ganhar na loteria. Você ganha tudo aos montes. Os beijos têm mais línguas. Os perfumes demoram mais a sair das narinas. As curvas parecem descida de serra para o litoral: parecem não ter fim e os parceiros terminam molhados.

Safada sem nenhuma vergonha de ser chamada assim. Sem-vergonha de ser assim: despudorada, ávida, desejosa. Faminta de sexo e de amor. Sedenta de viver com intensidade. Não ser chamada de safada pelo insulto, “mas por mérito da malícia, como virtude da insinuação, pelo atrevimento sugestivo”, como poetizou Fabrício Carpinejar. Não a safada, mas a sa-fa-da. Pronunciado com a canalhice do sorriso de canto de lábio.

Não a mulher safada que coleciona os homens que seduziu, mas a mulher safada que escolhe colocar toda a sua safadeza em prática com o homem que escolheu se aprofundar na relação. A safada que lhe manda flores para o cara no aniversário de relacionamento porque não gosta de ser convencional.

A safada que sabe o que quer entre quatro paredes, não por falta de educação, mas para satisfazer o seu desejo. Não por obediência do corpo, mas em nome da profundidade da alma. Safada por opção, não pela infelicidade de uma traição ou por uma falta de pudores. A Safada Irresistível que é o par perfeito para o Adorável Canalha, tão bem definido pelo Carpinejar.

A safada. Como uma pegada de jeito que usa a língua portuguesa ao invés das mãos. Não como depreciação, e sim como admiração. Um elogio para dizer que é impossível domesticar, é impossível prender essa mulher. Safada como um pokemon que evoluiu da mulher "sem-vergonha".

Bem diferente da trapaceira, que não é verdadeira e seduz com interesses secundários, ou da devassa, alguém que não presta nem para ser safada e invade a vida de alguém para fazer estragos.

Eu me desmonto ao estar diante de uma mulher safada. Uma safada que significa o contrário do dicionário. Nem perca tempo consultando o Michaelis e o Houaiss, que não incluem o sentimento da pronúncia. Estou falando da safada que evoca o desejo de desvendá-la. A safada que se descobre algo interessante e novo a cada encontro.

Safada funciona como um ataque. Não uma violência gratuita, mas uma tentativa de tiro certeiro para uma conquista definitiva. Uma tentativa sempre em vão. Não há isca que fisgue uma safada, porque ela sabe que a graça é fazer com que ele a conquiste a cada dia. É irresistível se entregar a dela.
Quando for escolher uma mulher para se entregar, não tenha dúvida: escolha uma mulher safada. Ou ela escolherá você.

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Não adianta resistir, agora é a vez das mulheres.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 07/04/2018, Edição Nº 1506.