sábado, 27 de fevereiro de 2010

Os cronistas e as mulheres

Um dos cronistas que mais gosto é o Fabrício Carpinejar. O esquisitão é capaz de descrever o amor como poucos fazem na pós-modernidade. Escreve sem perder a poesia ao destrinchar o mais humano dos comportamentos. Um dos seus sites chama-se Consultório Poético, em que responde a cartas de apaixonados e amantes com 15 minutos de verdade sem pena nem dó.

Entre seus últimos livros o Canalha!, que fala sobre o que seria o verdadeiro canalha e outras questões do homem contemporâneo nas crônicas que compõem a obra. O que me prendeu aos seus escritos foi o quanto suas palavras delineavam aquelas situações mais sutis da relação homem – mulher, cheias de importância e dignas de atenção. Talvez o maior (e melhor) efeito do Carpinejar seja o reconhecimento do leitor ao que acontece ali na sua casa toda hora e o fato de que muitas das suas análises soam verdadeiras.

Aliás, foi este livro Canalha! o responsável pelo meu último relacionamento. Ela me perguntou se conhecia o autor, respondi que não só conhecia, mas tinha o recém lançado livro. Do empréstimo ao início da relação foi rápido. Ele passou a ser a nossa linguagem, vivíamos à Carpinejar as coisas e as relações por aí. Acompanhavamos o Blog e o Twitter como pílulas ingeridas em doses durante o dia. A produtividade do autor é alta e havia sempre muito material novo. Acompanhavamos também a sua história de amor com a médica Cinthya Verri, era uma relação bem pública (e publicada) nos espaços dele e no Blog dela. Durante uma entrevista de Jô Soares com Carpinejar, o entrevistador interrompeu a conversa para elogiar a beleza da namorada e ele se saiu bem ao assumir que sabia que era feio.

A certa altura nos deparamos com uma mudança no conteúdo das crônicas: Carpinejar começou a escrever sobre certas divergências entre eles, a fazer analises de atitudes com significado que incomodavam a ele ou a ela, criticou besteiras ditas por uma amiga dela durante uma noite, analisou o reencontro dela com um ex-namorado que um dia foi seu melhor. Ela, revisando crônicas para um próximo livro dele, leu uma sobre uma transa dele com outra, anterior a ela. Transformou a ira em um Blog que descrevia requintes cruéis em como matá-lo. Começamos a estranhar a exposição excessiva dos problemas do casal e concluímos: eles estão em crise!

A certa altura mandei um e-mail ao Carpinejar contando sobre sua responsabilidade no meu relacionamento. Ele respondeu dizendo que sua mãe dizia que ele tinha vocação para padre e que a história de nossa aproximação entremeada por seus escritos renderia um outro livro. “Adoro ser responsável pela felicidade alheia”, concluiu ele.

Porém, comecei a notar que não era apenas o relacionamento do Carpinejar que estava em crise. Percebi que nossas expectativas e disponibilidades eram diferentes. Sofri, mas saquei que tinha ido até onde era possível para mim e que o que tinha era menos do que precisava neste momento de minha vida. Liguei, descrevi meus pensamentos e me afastei. Quase uma semana depois não resisti e mandei um e-mail de despedida a ela dizendo “Sinto e expresso. Digo e deixo de carregar comigo. Se falei no silêncio do início, não agüentaria ficar mudo no barulho do fim. Sinto que as palavras e as lágrimas levam você de mim.” No rodapé, coloquei uma observação sobre a dificuldade de enviar o e-mail: “Queria publicar no blog, mas exporia demais. Agora entendo o Carpinejar, talvez publicar no espaço público seja se expor menos, dependendo da situação. Apesar disso, espero nunca precisar apelar para o Blog, na tentativa de sustentar uma relação”.

Hoje pela manhã, fui pego de surpresa quando fui ler as crônicas do dia e da véspera ao encontrar o relato do rompimento. Carpinejar e Cinthya também não estão mais juntos. Em Excesso de Dom e Separação Criativa ele narra a desunião, que mais uma vez se casou perfeitamente com o que nós vivemos. Á Carpinejar pudemos viver também o nosso fim:

“Já observei casamentos desfeitos porque um falou para outro que acabou e não voltava mais. E nenhum dos dois cedeu e insistiu e perguntou de novo. Passaram a história inteira para provar o que ele ou ela desperdiçou e o dano irreparável de suas frases. Enterremos logo nossas maldades para velar as injúrias.

É só oferecer ao nosso par a mesma capacidade que temos de nos perdoar. Desapareceria metade dos problemas. Os inimigos são netos de nossas teimosias. O boicote é uma forma de educar pelo sacrifício. A pior forma. É ficar preocupado em honrar o castigo. É preparar uma vingança ao invés de se distanciar um pouco para entender o que gerou a discórdia.

Trata-se ainda de um sacrifício mútuo, os dois vão perder a possibilidade de criar uma intimidade maior e mais generosa. Aquele que atacou pedia ajuda. E atacou pois não sabia justamente pedir ajuda. Preocupados em nos defender, não alcançamos o apelo e retribuímos o inferno. A palavra engana. A palavra manda embora e o corpo pede um abraço.

Há de se procurar o gesto. O que me interessa é o gesto, o resto da palavra. A origem. Se aquilo foi feito para permanecer mais perto. Quando viajo para serra gaúcha, as estradas me ensinam a importância do que é torto. Elas seguem a natureza ardilosa dos morros, assustam com suas curvas, mas sempre me deixam na cidade em que nasci”.

No meu caso, o sacrifício mútuo do fim foi simbolizado no último presente: um par de lanças indígenas esculpidas em fibra de bananeira trazida por ela de uma viagem, que ela fez questão de explicar que tinham um pequeno detalhe que as diferenciavam e que uma ficaria pra mim e outra pra ela. O significado: a diferença era sutil entre as lanças e entre nós, mas o suficiente para acabarmos feridos. Não adiantaria mais qualquer ataque, pois se eu senti pela lança a dor do fim, ela também tinha a sua para estampar o seu sofrimento.

É meu caro Fabro, ficam para nós duas lições.

A primeira é que, realmente, apelar ao Blog não sustenta uma relação.

A segunda, mais importante, é que um cronista só deslancha quando amou verdadeiramente uma mulher que era apaixonada pelo escritor.

É possível que o homem por detrás do escritor seja mais difícil de acompanhar do que as crônicas publicadas e que apenas sugerem quem ele é. O fato é que elas nos deixaram o que nos é fascinante: a inspiração poética para uma nova safra de boas crônicas, o espaço para ceifar os melhores relatos de nossas novas experiências e a liberdade para plantar as sementes do porvir. Daí nascerá uma escrita diferente, única e que seria inexistente caso não tivéssemos vivido o amor com elas.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O SEXO E OS BRASILEIROS: NÃO FAZEMOS O QUE FALAMOS E NÃO FALAMOS O QUE FAZEMOS!




Durante todo o ano de 2005, em parceria com a Prof.a Dr.a Cibele Santoro enquanto filiados a Universidade Mackenzie, conduzi uma pesquisa cujo título é “A Relação entre Pensamentos, Sentimentos e Comportamentos Sexuais de Risco em Jovens”. O objetivo deste trabalho era analisar quais os pensamentos e sentimentos dos jovens acerca do sexo, a percepção do que seriam os comportamentos sexuais de risco (para gravidez e DSTs) e os pensamentos e sentimentos relacionados a estes comportamentos, que aqui posso chamar de “inconsequentes”. Foi conduzida coleta de dados com 60 participantes com idade entre 18 e 25 anos, sendo 30 homens e 30 mulheres, que responderam um longo questionário sobre o tema, que incluía questões de tomada de decisão, perguntas sobre o sexo dos jovens em geral e sobre si mesmo.

Os resultados demonstraram uma diferenciação clara entre o falar sobre sexo e o fazer sexo. A experiência prática da maioria era pequena, mas a capacidade de falar sobre o tema, a noção de risco e o que é correto como atitude pareceu grande. Entretanto, na hora de avaliar a história sexual individual, esta não correspondia ao conhecimento do risco e de comportamento adequado. Relatando os dados de maneira informal, me pareceu que todos apresentavam um manual de instruções do sexo, mas que na hora da prática este ficava guardado no fundo da gaveta. Além disso, quando o jovem descrevia o comportamento de outros jovens, o relato era mais fiel a realidade, enquanto quando sobre si mesmo, os comportamentos de risco vinham amenizados e em menor freqüência. Este último dado foi relacionado a possíveis punições ao falar abertamente sobre o tema, o que na época da pesquisa era uma conseqüência social freqüente.

Neste domingo, 21 de fevereiro, o Instituto Datafolha divulgou uma pesquisa, realizada pela última vez há 12 anos, sobre a sexualidade dos brasileiros em geral. Os dados são muitos, trago resumidamente os principais e comento cada tópico, que renderiam uma boa discussão ou um texto cada um:

LIBERADOS E ABERTOS A EXPERIÊNCIAS SÃO OS OUTROS

Os dados: Há descompasso entre a idéia que os pesquisados fazem do povo brasileiro e a imagem que têm de si mesmos em relação à sexualidade. Na visão de 45% dos entrevistados pelo Datafolha, os brasileiros, do ponto de vista sexual, são "totalmente liberados, abertos a qualquer experiência". Já 37% acham que, embora liberadas, as pessoas no Brasil fazem restrições a algumas experiências. Curiosamente, quando os entrevistados respondem sobre eles mesmos, apenas 24% se classificam como totalmente liberados - ao passo que 42% declaram ter restrições.

Comentário: Há uma discrepância no que definimos o padrão brasileiro de sexualidade e o que fazemos no sexo. Muitas outras culturas são mais liberais com a sexualidade, enquanto nos descrevemos dessa forma e agimos com certo receio. Concordo com Contardo Calligaris, psicanalista, sobre estes resultados: "Andar de sunga e rebolar quando toca um samba é cultura de praia; não é liberdade sexual"

PREGUIÇA DE FAZER SEXO OU SINAL DE LIBERTAÇÃO?

Os dados: No momento da pesquisa 23% estavam havia 8 meses sem sexo. A maior parte está na faixa de 35 a 60 anos. "O número não me espanta. Ao contrário, acredito que, na vida real, possa ser maior", diz Calligaris. Ele também não estranha que 23% dos "sem-transa" sejam casados. "Podemos morar com um parceiro ou parceira charmosíssimos, ficar nos acalentando, dormir juntinhos... mas transa é algo que precisa ser cultivado. E cultivar o desejo de transar é cultivar fantasias. Quem tem certa preguiça para isso acaba transando menos."

Comentário: Alguém duvida que a preguiça seja um dos grandes males de nós brasileiros? O Carnaval talvez termine em março!

BRASILEIROS SOLTAM A LÍNGUA

Os dados: Ficou mais fácil falar de sexo, só que essa "naturalidade" traz também a obsessão com performance, nova medida de todas as coisas. A comparação da mais recente pesquisa Datafolha sobre a sexualidade do brasileiro com sua versão anterior, de 1997, mostra que, ao longo desses 12 anos - um período curto em escala histórica-, não houve grandes reviravoltas. O traço mais marcante é que as pessoas passaram a discutir o sexo com maior desembaraço.

Houve uma notável queda na proporção dos que se recusaram a responder a alguma pergunta. Um exemplo: em 1997, 23% haviam se negado a revelar com quantos anos tiveram sua primeira relação sexual; em 2009, esse número se reduziu para apenas 4%.

Essa chave interpretativa ajuda a explicar vários aspectos da pesquisa. Um bom exemplo é o salto de 15% para 41% na fatia dos que alegam que suas relações sexuais duram entre 30 minutos e uma hora. Outro é o aumento de 18 pontos percentuais na proporção dos que afirmam sempre atingir o orgasmo, em que pese a grande diferença observada nas declarações de homens (76%) e mulheres (39%)nesse quesito.

Comentário: A reflexão dos pesquisadores basta: “O problema com essa excessiva medicalização do sexo é que ela esconde a importância antropológica de uma moral sexual, qualquer que seja o seu conteúdo. Desde que o ser humano no curso de sua evolução abandonou o ciclo biológico do cio, a cultura substituiu a fisiologia na regulação do sexo. E é no mínimo irrealista imaginar que possamos viver com pouco ou nenhum tipo de limite”.

HÁ UM ABISMO ENTRE O DISCURSO E A AÇÃO

Os dados: O fato de as pessoas discutirem mais o sexo não é garantia de que estejam falando a verdade. Há um abismo entre as práticas sexuais e aquilo que se declara numa pesquisa, mesmo anônima como esta.

Comentário: Embora pesquisas deste porte sejam bem formuladas estatisticamente e com resultados confiáveis que consideram margens de erro, na pesquisa conduzida por mim com jovens, essa ausência de correspondência entre o relato e o fato já era facilmente detectada. Analistas do Comportamento tem se dedicado a este fenômeno comportamental em uma área de estudo chamada Correspondência entre Comportamento Verbal e Não Verbal. As conseqüências para o mundo (físico e social) do falar e do fazer são diferentes e retroagem sobre o indivíduo de formas diferentes, aumentando a probabilidade de fazer e não relatar ou não fazer e relatar, por exemplo, a depender do contexto.

O TABU DA MASTURBAÇÃO RESISTE

Os dados: Sessenta por cento da população do país não se masturba. A maioria dos brasileiros pesquisados reconhece que a prática é "saudável e humana", mas não a admite, na hora de preencher o questionário sobre os próprios costumes. As mulheres elevam a taxa da população brasileira que supostamente não se toca: 78% disseram não ter o hábito. Entre os homens, metade afirmou ter o hábito.

Comentário: Masturbação em um país predominantemente cristão (de maioria católica) ainda é tema indiscutível. O resultado soa inacreditável. Maioria diz que se masturbar é "saudável e natural", mas não assume a prática, pra lá de comum na intimidade; a dificuldade com o tema é mais gritante entre as mulheres. Retomando a explicação analítico-comportamental do comentário anterior: dizer que masturbação é algo humano e natural não é sinal de que o faço como algo humano e natural.

ELES E ELAS MENTEM SOBRE O NÚMERO DE PARCEIROS

Os dados: Não que seja da conta de alguém, mas, em média, a brasileira já teve relações sexuais com 3,9 pessoas. Entre os homens, a média vai a 20,3. Em termos de quantidade de parceiros, o contraste entre homem e mulher continua alto. Enquanto 32% delas afirmaram que tiveram relações com uma só pessoa em toda a sua vida, 34% deles disseram ter feito sexo com mais de dez, até o momento da pesquisa.

Comentário: Realmente as mulheres diminuem o total e os homens exageram na conta! Apesar do grito contra o machismo já está até ficando velho, muita coisa parece funcionar de acordo com essas “regras”, pelo menos no âmbito individual.

ELES TAMBÉM FINGEM PRAZER...

...e elas dão mais importância ao próprio prazer; devagar, comportamentos sexuais dos dois gêneros se aproximam.

Os dados: A minoria insatisfeita diminuiu, pelo menos na pesquisa. Doze anos atrás, 46% dos brasileiros diziam ter orgasmos "sempre". Agora, mais da metade da população cravou essa resposta. Daí a concluir que o prazer no país vai bem obrigado há uma distância. A mesma que separa a mulher do homem, quando o tema é sexo. É o homem, claro, quem levanta a média do gozo líquido e certo, em todo ato sexual: 76% deles compareceram com o categórico "sempre". Entre elas, 39%. Os resultados da pesquisa reforçam que o muro entre homem e mulher está se dissolvendo. Um sinal disso, para todos os especialistas aqui, é o novo interesse masculino no prazer feminino: o medo de não satisfazer a parceira atormenta 56% dos pesquisados. Regina Navarro Lins, psicanalista, comenta: "O homem quer trocar, começa a se livrar dos mitos das masculinidade. E a mulher começa a separar amor e sexo, o que é essencial.

Comentário: Difícil discordar de que os papéis masculinos e femininos têm mudado bastante, temos as configurações das famílias atuais profundamente diferentes de gerações anteriores como prova irrefutável. A mudança parece positiva, embora tenha até publicado crônica [Pegadoras] dizendo que as mulheres passaram da medida, se igualando ao machismo, penso que a próxima tendência é para um equilíbrio.

ENTRE O ARMÁRIO E O PRECONCEITO

Os dados: Só 2% dos brasileiros se declaram homossexuais; estudos mostram que esse grupo já representa até 12% da população mundial. Isso ajuda a entender porque somente 2% dos 1.888 entrevistados pelo Datafolha declararam-se gays. A pesquisa foi realizada em 125 municípios de 25 Estados com homens e mulheres entre 18 e 60 anos e tem margem de erro de 2%. Estudos internacionais indicam que, na média, a população gay varia de 7% a 12% do total.

Comentário: Ficar no armário é a estratégia de sobrevivência da maioria dos gays. Quando se descobrem diferentes, eles costumam isolar-se da família e, muitas vezes, passam a representar um papel "heterossexual". De qualquer forma, tal conduta sempre é acompanhada por sofrimento e sentimento de rejeição, mesmo que muitos se adaptem a todas as questões impostas.

PESQUISA NEGA MITO DA PROMISCUIDADE

Os dados: Gays carregam a pecha de transar mais e com mais parceiros que os heterossexuais. Mas eles são mais promíscuos? Pesquisa Datafolha revela que, em termos de frequência sexual, gays e héteros têm, praticamente, o mesmo perfil. Considerando margem de erro e amostragem, o resultado é um "empate técnico". Douglas Drumond diz que o fato de gays terem mais parceiros não deve ser visto como algo negativo". "Gay ou hétero, o homem é mais sexualizado." Para o antropólogo Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, o mito da promiscuidade gay é herança histórica sem fundamento. ""A destruição de Sodoma e Gomorra teria sido uma consequência das práticas sexuais naquelas cidades, em que a homossexualidade era livre."

Comentário: Nada como uma pesquisa para desmistificar o que é repetido e que não necessariamente corresponde a realidade.

ASSEXUADOS NUM PAÍS SENSUAL

Os dados: Eles também começam a sair do armário. De um armário comportadíssimo. Autodenominados "assexuais", homens e mulheres têm usado a internet para defender a liberdade de, simplesmente, não fazer sexo. Segundo o Datafolha, 5% dos rapazes de 18 a 24 anos declaram não ter interesse em sexo. Os números também consolaram a auxiliar administrativa Eva Nilda, 42. Ao saber que 11% das mulheres na sua faixa etária disseram não ter interesse em sexo, arriscou: "Deve ser normal, né?" Nilda manteve-se virgem até os 39 anos. Como sonha ter um filho, resolveu, mesmo sem vontade, transar com um namorado. "Forcei a barra e me arrependi. Estou casada, mas não gosto de sexo."

Comentário: Os dados da pesquisa demonstram que ainda temos muito a aprender com a sexualidade, ou melhor, sobre a individualidade na prática sexual. Vale notar que o espaço para expressar “não faço e não tenho vontade de sexo” só começa a surgir agora. Além disso, para os praticantes que torceram o nariz e pensaram que “são pessoas mal resolvidas e infelizes”, não é necessariamente verdade, pois só é considerado distúrbio quando gera sofrimento.

AMIZADE COLORIDA, O RETORNO

Os dados: Quase um em cada cinco jovens entrevistados pelo Datafolha disse ter tido a primeira experiência sexual com um amigo ou amiga. É a volta da "amizade colorida", mostrada na pesquisa e confirmada por quem lida com sexualidade jovem. "A tranquilidade em falar sobre sexo motivou os jovens, nas últimas décadas, a trocar profissionais do sexo por namorados, e mesmo por amigos", diz o psiquiatra e colunista do Folhateen Jairo Bouer.

Comentário: Em se tratando de iniciação sexual, a afetividade é um componente importantíssimo. Considerando que este tipo de relação entre amigos tende a envolver mais afeto do que a relação paga a um profissional, podemos considerar um comportamento mais ajustado.

SERÁ QUE FOI RUIM PRA VOCÊ?

Os dados: O maior temor do brasileiro é o de não satisfazer o parceiro. É um medo que nivela homens e mulheres, casados e solteiros, moradores de todas as regiões, de diferentes idades, níveis socioeconômicos e escolaridades. Mas a grande novidade é essa igualdade entre os gêneros, em termos de "neura" sexual. O temor de não dar prazer à parceira já atormenta 56% dos homens.

Comentário: Estar sob controle do comportamento do parceiro, se preocupar com seu sentimento e prazer é o caminho para uma vida sexual satisfatória.

PARES JOVENS ABREM MÃO DA VIDA SEXUAL

Os dados: O que está por trás dos acordos conjugais que excluem intimidade? Uma parcela de 10% dos casados declarou que não faz sexo. A maioria está na faixa entre 45 e 60 anos, a mais vulnerável aos problemas fisiológicos que incidem sobre a vida sexual. Até aqui, sem surpresas. Mas uma parte significativa dos casados sem sexo (35%) são bem mais jovens: 19% têm entre 25 a 34 anos e 16%, têm de 35 a 44 anos. Problemas relacionados à menopausa e ao declínio da função erétil no homem, além da perda de interesse entre os parceiros pelo desgaste de uma relação antiga, estão comumente associados aos casamentos sem sexo.

Comentário: Concordo ipsis litteris com a sexóloga Regina Navarro Lins, que diz "É besteira isso de 'usar a criatividade' para resgatar o desejo no casamento. É o desejo que gera criatividade, não o contrário. Não adianta forçar".

SER FIEL É ESSENCIAL. MAS O QUE É TRAIR?

Os dados: Embora metade das pessoas creia que casamento aberto não dá certo, porcentagens significativas de homens (41%) e mulheres (39%) discordam. E 40% propõem um alargamento dos limites, ao afirmar que sexo virtual não é traição. Os resultados mostram empate técnico entre quem acha o sexo virtual uma forma de infidelidade e quem acha que não.

Comentário: Brasileiros e brasileiras acham a “fidelidade muito importante no relacionamento”. Daí a saber onde ela começa e termina é outra história. Se os comportamentos conjugais de homens e mulheres vêm mudando, o acesso a tecnologia, as jornadas longas de trabalho, a comunicação fluída e o mundo virtual possibilitam muitas formas de infidelidade pouco claras e conhecidas para que haja consenso neste quesito.

SOBRA SEXO NO IMAGINÁRIO E FALTA NA VIDA

Os dados: Talvez não seja impossível ser feliz sozinho, nem o amor seja mais tão fundamental assim. Tom Jobim escreveu os famosos versos de "Wave" (""fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho") em 1967, na aurora da revolução sexual. Depois, vieram a pílula e a lei do divórcio; a moral afetiva e sexual liberalizou-se. Nesse ambiente menos reprimido, era de se esperar que homens e mulheres adultos e livres tivessem mais oportunidades de fazer sexo. Será? Nem tanto: o número de brasileiros sem parceiro fixo chega a 28%, diz o Datafolha. Mais: 23% dos entrevistados não tinham mantido nenhuma relação sexual entre janeiro e setembro de 2009. Há sexo demais no imaginário e menos na vida das pessoas.

Comentário: Não é preciso muita experiência clínica como psicólogo para descobrir que a vida íntima de brasileiros sem parceiro fixo não é assim aquela loucura que se poderia esperar. Realmente somos bons em pensar e falar sobre sexo, na hora de fazer a realidade é outra.

O PÊNIS DO VIZINHO É SEMPRE MAIOR...

...mas a maioria se diz satisfeita com as medidas do seu órgão

Os dados: Vamos direto ao que interessa: é 14 cm a média nacional do pinto duro -e 9,5 cm a do pinto mole. Isso em se tratando do comprimento. No caso da circunferência, situa-se o dito-cujo em 12 cm quando ereto - e em 9,3 cm quando triste. (Agora, enquanto o leitorado macho corre atrás de uma fita métrica, pausa para uma pequena digressão.) Símbolo de poder em várias culturas - inclusive na ocidental e na brasileira-, o tamanho do pênis é um assunto inesgotável nas mesas de bar e nos divãs de psicanalistas. E está sempre acompanhado de desinformação e polêmica. Pois o pobre brasileiro tem complexo de inferioridade: 50% acham que o normal deve ser superior a 15 cm, alcançando dimensões siderais acima até de 20 cm.

Mas, mesmo achando que o do vizinho é maior, o homem brasileiro surpreendentemente se declara (65% dos entrevistados pelo Datafolha) "totalmente satisfeito" com suas dimensões. É a famosa inveja do pênis - só que às avessas.

Comentário: Mais uma “regra” ou “preocupação” que não é o mais relevante para a satisfação sexual.

EM LUGAR PÚBLICO É MELHOR?

Os dados: Por aqui, entre as opções de fantasias apresentadas aos entrevistados, a campeã é transar em locais públicos abertos, assumida por 35%, empatada com transar em locais públicos fechados (34%). A maioria dos homens brasileiros fantasia com duas ou mais mulheres. Já a principal fantasia revelada por elas é transar amarrada, vendada ou amordaçada. Mas a maioria nega ter qualquer dos devaneios sexuais apresentados na pesquisa.

Comentário: Estamos distantes de se livrar das conseqüências aversivas em falar abertamente sobre o assunto, mas sobretudo de fantasias e devaneios. Contar a própria fantasia significa revelar algo que vai contra a autoimagem, daí a resistência da maioria. Trocando em miúdo, até as fantasias revelamos a socialmente aceita, mesmo que não seja a que mais tenho vontade de realizar. Fantasias e devaneios são atividades humanas saudáveis, estreitamente ligadas à criatividade e a solução de problemas.

UMA CONCLUSÃO

Os dados obtidos na minha pesquisa de 2005 vão de encontro com os resultados do Datafolha, demonstrando que as características daquele grupo de jovens podem ser generalizadas na população brasileira em geral, especialmente no que tange a questão de não fazermos o que falamos e não falarmos o que fazemos quando o assunto é sexo!

TRAZER O TEMA A TONA É A RELEVÂNCIA PRIMÁRIA DE PESQUISAS COMO ESSA. MAIS QUE ISSO, OS RESULTADOS QUESTIONAM GRANDES INVERDADES QUE SÃO PROPAGADAS NO COTIDIANO. É PRECISO REVÊ-LAS, NÃO APENAS PARA FALARMOS SOMENTE AS VERDADES QUE REPRESENTEM A MAIORIA, MAS PARA QUE O SEXO DEIXE DE SER UMA GRANDE FONTE DE SOFRIMENTO HUMANO. DESCOMPLICAR O SEXO NÃO SIGNIFICA PROMOVER A PRÁTICA SEXUAL EXCESSIVA, MAS DISSEMINAR A ACEITAÇÃO DO INDIVÍDUO PARA COM O SEU CORPO E SEUS SENTIMENTOS.

Ninho


Dizem que na casa onde o pássaro faz um ninho há receptividade e segurança.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A vida continua depois do carnaval

Quarta feira de cinzas, 14 horas, dia chuvoso de fevereiro. Hora marcada para a reunião dos integrantes do “No comando do seu Peso”, um grupo que se encontra com o objetivo de incentivar a perda de peso. Cristina é a presidente da reunião, comanda o grupo, leva materiais para discussão e acompanha os resultados da balança, algo bem discreto medido na frente de todo os demais presentes. Mas o que importa a tal privacidade, se Cristina conseguiu “eliminar”, como ela própria diz, 45 quilos sem cirurgia. Cada membro novo que chega às reuniões, ela saca sua foto de gorda e mostra. Sim, aquela foto que durante muito tempo ela tinha horror só de pensar, mas que hoje usa como medalha pendurada no pescoço. O programa americano adaptado no Brasil diz que o líder deve ser um modelo de comportamento.

Depois de mais de uma hora de palestra temática para aprender a diferenciar a “fome física” da “fome compulsiva” que, segundo Cristina “é esta a chave do sucesso”, abre-se espaço para quem quiser falar. Este momento que precede a pesagem mais parece o confessionário das farras alimentares, com direito a previsão do número a ser dado pela balança.

Tereza, 43 anos, casada, 2 filhos que moram em outra cidade, 112 Kg, pede a palavra: “Fui assistir ao desfile das escolas de samba da cidade, sempre gostei de carnaval, mas meu marido como sempre não quis me acompanhar. Os meninos foram viajar com os amigos, então chamei e Keilla, minha vizinha, e fomos pro sambódromo. Como na semana passada aprendemos a nos preparar para quando saímos da rotina alimentar, peguei uma sacola térmica e coloquei os lanches e refeições do jeito que estava na dieta. Aí, tivemos que chegar cedo pra pegar um bom lugar, esperar na fila no meio de muita gente e quando olhei para o lado, ‘cadê a sacola de comida?’. Algum esfomeado ficou de olho e pegou quando me distraí. Aí, sabe como é, né? Aquela vaca da Kelly, magra de ruindade, ficou do meu lado comendo tudo o que vendia. Era churros, pastel, pipoca, amendoim... Eu que fiquei lá mais de 12 horas, como ia poder ficar sem comer? Mas eu tentei controlar a quantidade...”.

Marcos, 52 anos, solteiro, 169 quilos, interrompe dizendo: “É por isso que eu não gosto de Carnaval, uma bagunça, aquele povo bêbado, aquela pouca vergonha. Não vou a um lugar desses nem me pagando. Fiquei o feriado todo em casa, até assisti alguma coisa pela televisão, até porque só passa isso... Na segunda, eram três horas da manhã, aquele desfile sem fim, a narração sem graça da TV, começou a me dar uma fome... Não compro mais doces, pra não ter recaídas nessas horas. Como não tinha nada de sustância, me deu vontade de comer caqui, porque eu tenho um pé em casa. Fui lá no fundo e matei minha vontade: comi três dúzias de caqui”.

Em meio às risadas incontroláveis e patéticas Maria, 37 anos, deprimida e solitária com seus 143 quilos: “Eu não vejo graça nessa história do caqui, embora ache que vocês dois até deveriam comemorar. Um não queria sair e ficou em casa. A outra não deixou de fazer o que queria. Meu carnaval foi mais trágico que isso, essa data completa 12 anos...”, “que o seu namorado te largou, abandonou sem muitas explicações e levou tudo o que tinha, não é, Maria?”, antecipa Marcos. “Sei que vocês já conhecem a história, mas eu nunca me senti tão sozinha. Não sei onde achei forças para ir até o salão de festa do condomínio, onde todo ano fazem uma matinê. Bem que tentei paquerar por lá, mas o único homem desimpedido era o Seu Joaquim, aposentado e viúvo de 78 anos. Resumindo, já que vocês sempre ficam enfadados com minhas histórias, esse meu carnaval teve confete e serpentina, enchi a cara de chopp na festa do condomínio e terminei a noite comendo chocolates coloridos no sofá da sala, sozinha.”

“Que tal vermos como cada um está em relação a sua meta, pessoal?”, diz Cristina.






segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Auto Consciência Ambiental: Não Desperdice os Seus Sentimentos!

Muitos buscam promover Consciência Ambiental, Responsabilidade Sócio Ambiental e Respeito ao Meio Ambiente. Porém, confundem-se tais conceitos políticos respectivamente com “não matar plantas e animais”, “distribuir ajuda material a famílias de baixa renda” e “se preocupar com a emissão de poluentes”.

Fatídica atenção se faz necessária, sobretudo aos comportamentos humanos que promovem o indesejável a longo prazo em nome de necessidades imediatas. Entretanto, essas bandeiras são mais significativas do que parecem e seu alcance poderia ser maior do que vem sendo.

O termo ambiente que integra cada um dos nomes supracitados não é apenas o lugar onde há natureza preservada ou quase intacta. Ambiente é todo local que habitamos no mundo, nossas cidades são, hoje, nosso ambiente natural. Portanto, é preciso se preocupar com o que preservamos também em nossos ambientes além das plantas e animais.

Consciência Ambiental é tomar conhecimento de como usamos cada um dos espaços que ocupamos em nossa vida: a nossa casa e nossa família, o nosso trabalho e nossos companheiros de ocupação, a escola e os que estudam conosco. Avaliar os investimentos, as prioridades e a função de cada um desses ambientes é Consciência Ambiental.

Responsabilidade Sócio Ambiental é analisar o uso da consciência ética em nosso cotidiano. Respeito todos aqueles que convivem comigo, inclusive indivíduos com trabalhos que exigem menor formação escolar? Na profissão, uso minhas competências para ajudar outras pessoas, independente de ser bem remunerado para isso? Enxergo os seres humanos quando tomo atitudes no trabalho ou priorizo apenas os valores financeiros e de autoridade?

Respeito ao Meio Ambiente é respeitar os seus direitos e os direitos do outro. Expressar-se com base nos seus sentimentos sem desrespeitar os sentimentos do outro. É passar diante das pessoas que você encontra ao menos uma vez na semana e dizer “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”. É perceber que o importante é o incentivo verdadeiro, ao invés do excesso de afetividade sem contexto. É ser corajoso para dizer “não quero” ao invés de “pode ser”; “não devo” no lugar de “só dessa vez”; “não posso” mesmo que “sim” seja o mais tentador.

Em última instância, só mudaremos a maneira de lidar com ao mundo físico enquanto natureza se nos preocuparmos com o autoconhecimento que provém da análise de todos os nossos ambientes. Fica um estímulo para reflexão.

Evitar o desperdício de idéias é o que permite reciclar o cotidiano!











sábado, 13 de fevereiro de 2010

Skinner e Yvonne

Os novos moradores da minha casa são um casal de Periquitos Australianos ou Budgerigars (Melopsittacus undulatus). Juntamente com os canários, são as aves mais comuns criadas em gaiolas como animais de estimação, já que são fáceis de cuidar e dóceis no convívio.

Adaptaram-se facilmente a nova moradia, atraindo outros pássaros livres. Eles nasceram em um criadouro próximo ao Rio Canoas, em meio a centenas da mesma espécie e dezenas de Calopsitas. Um pedaço de terra em que tudo dá com qualidade, sejam frutas, plantas e animais. Foram escolhidos por mim a dedo e capturados pelo criador para que pudesse trazer para minha casa.

O macho de pelagem amarela esverdeada recebeu o nome de Skinner, homenagem ao fundador da Análise do Comportamento, B. F. Skinner, que propôs uma abordagem em psicologia na busca de compreender as raízes do comportamento humano por meio de uma metodologia científica experimental. Sua proposta revolucionou a psicologia e se disseminou mundo afora.

Hoje o Brasil possui o segundo maior número de analistas de comportamento, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, terra natal de Skinner. Países Orientais, como a China e Jordânia começam a receber pesquisadores renomados para formar analistas de comportamento com objetivo de tornar a psicoterapia comportamental acessível a um número cada vez maior de pessoas.

Skinner presidiu o Departamento de Psicologia da Universidade de Indiana e integrou o Departamento de Psicologia da Universidade de Harvard alguns anos mais tarde, onde ficou até o fim da sua carreira. Casou-se com a especialista em língua inglesa e história da arte Yvonne Blue e teve duas filhas: a pedagoga Julie e artista Deborah. Julie dedicou-se a continuar os passos do pai, tive o prazer de conhecê-la em 2004, quando esteve no Brasil.

Dez dias antes de morrer, Skinner recebeu um prêmio da American Psychological Association e deu uma palestra para um auditório lotado. Embora já bastante debilitado fisicamente, repetiu com clareza de raciocínio as idéias que defendeu durante toda a sua vida. Seu último artigo foi finalizado no dia em que morreu, em 18 de agosto de 1990.

Skinner, meu periquito, é sério e tranqüilo. Já Yvonne é brincalhona e mais agitada, gosta de saltar de um poleiro ao outro e de fazer brincadeiras com Skinner, que corresponde. Ainda não aceitam frutas, apenas os grãos. Skinner gosta de carinho no peito, Yvonne gosta de dar bicadas no meu dedo. Deixaram a casa mais alegre e com mais vida, não moro mais sozinho.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

1 ano de Observatório!


O primeiro post publicado foi "Resgate" em que digitei um texto escrito aos 9 anos. Do dia 16 de Fevereiro de 2009 até hoje somam-se mais de 60 textos e 70 aforismos.
O incentivo de alguns amigos foi importante para iniciar esta empreitada: Ricardo Pelosi me apresentou (ou presenteou) ao olhar peculiar e poético de Rubem Braga , o que funcionou como mola propulsora para escrever; Luciano Fiscina foi o primeiro a visualizar o Blog e a comentar os textos, o que foi fundamental para estimular os que vieram em seguida; Weberson Santiago, ilustrador cada vez mais famoso, que disponibilizou seu amplo acervo para ser utilizado desde a criação deste blog.
Começou em paralelo as minhas atividades no Mestrado em Psicologia Experimental, para contrabalancear mais de três anos debruçados no estudo experimental do comportamento verbal. Aqui, me permiti falar do que deu vontade tendo como tema os comportamentos, sem recorrer a casos clínicos. Dar ênfase ao que muitas vezes passaria despercebido no cotidiano.
O principal compromisso, a princípio, seria comigo mesmo. Inicialmente, escolhi a segunda feira como dia de publicação, como forma de deixar este dia da semana mais interessante. Raras foram as semanas sem escrever, o que mostra o quanto este espaço é importante para mim.
Quanto ao leitor, percebi que muitos lêem, mas poucos comentam por escrito (muitos comentam verbalmente, em particular). A leitura silenciosa para mim basta, afinal, se promovi reflexão sobre aquele assunto, este espaço cumpriu sua função enquanto OBSERVATÓRIO DE COMPORTAMENTOS!

O primeiro banner que fazia fundo para o título Observatório foi a ilustração acima, como sempre, do Weberson.

Salute!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Bico de Lacre

Ele apareceu na boca da Mel, uma labradora de cor chocolate devoradora de pássaros. Apesar de dócil e até medrosa, usa os pássaros como brinquedo, sem se importar com o quanto é fúnebre. Sara correu assim que viu, não é a primeira vez que os salva, mesmo que custe abrir a boca da mel como se fosse um crocodilo. Esse custou mais trabalho, tratava-se de um Bico de Lacre (Estrilda astrild).

Há quem o chame de Bico de Lata, mas suas características principais são: o tamanho pequeno (comprimento: 10,5 cm; peso: 7,5 g) e o vermelho do bico e na sombra dos olhos que se destaca na penugem acinzentada. A salvo da mel, foi levado pela Sara até um jardim fechado e seguro.

Saímos em busca do ninho ou da mãe, pois alçava os primeiros vôos rasantes. Nenhum sinal da família e resolvi trazê-lo pra minha casa, já que não tenho cachorro nem gato. A Sara aprovou a idéia de mais chance de sobrevivência, mesmo que longe dela. Depois de uma longa busca no Google dos cuidados corretos e uma ligação a um criador, passei a alimentá-lo. Resolvi que não o deixaria preso, mas que colocaria numa gaiola para alimentá-lo até que pudesse se cuidar.

Não gostava que ficasse muito em cima, mas ficava calmo quando solto no meio das pessoas. Me acostumei com a companhia no primeiro dia e já contava com ela nos próximos. No meio de uma conversa fui procurá-lo e ele havia escapado da gaiola. Sempre tentava, mas não passava, até que achou um locar possível e fugiu. A procura terminou vinte minuto depois, quando o achei no quartinho do quintal.

Resolvi acreditar no seu “grito de liberdade” e disponibilizar alimento deixando-o solto. Parecia capaz de caçar insetos e de fugir com rapidez, como quando ia atrás dele. Ele acabou voltando pra dentro de casa e deixei-o solto durante e noite. Na manhã seguinte não o achei. Me senti egoísta até, por querer que dependesse de mim e ficasse por aqui. Pensei “devo aceitar a partida para a vida, deixá-lo voar por aí”. Em outros momentos, o imaginava pródigo, voltando para mostrar que conseguira sobreviver e reconhecendo minha ajuda para isso. Foi aí que fiz aquilo que boa parte dos amantes fazem quando são abandonados, substituí o insensível.

Fui até um criadouro de calopsitas e periquitos australianos. Centenas deles, bem cuidados e criados. Decidi levar um casal e pude até escolher. Batizei o macho esverdeado de Frederick Skinner (ou só Skinner para os íntimos) e a fêmea azul decidi que pesquisaria o nome da esposa de Skinner quando chegasse em casa.

Tudo certo com o casal, descobri que a esposa de Skinner chamava-se Yvonne Blue Skinner, o que casou bem com a cor azul dela. Em breve posto uma foto de Skinner e Yvonne, que ainda estão se adaptando a nova casa.

Hoje pela manhã, a Glaucia foi arrumar a casa e achou o Bico de Lacre 36 horas depois do sumiço, morto debaixo de um móvel. Fiquei chateado, podia tê-lo mantido na gaiola para alimentá-lo, mas isso não garantiria a sua sobrevivência. A Sara ficou chateada com a morte daquele que ela salvou, mas vem dormir aqui hoje para conhecer o Skinner e a Yvonne. Faremos o enterro do Bico de Lacre, que sequer teve tempo de ser batizado.








08/02/2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E o sol se põe...



Estrada vicinal São José do Rio Pardo - Mococa, 03/02/2010, 19:56

Perspectivas

Na mesma medida em que algumas perspectivas vão por terra, outras novas parecem cair do céu. A perspectiva só pode ser vista se considerarmos que a todo momento estamos diante de escolhas, e que cada uma delas implica na renúncia de algo. Até para a seleção natural, proposta de Charles Darwin para compreensão da evolução, há escolha de uma característica importante para a sobrevivência da espécie em detrimento de outra. Essa escolha tem implicações. Para ter boca, ganhamos o queixo. Para usar a perna para locomoção, ganhamos articulações. Para pegar objetos, ganhamos um polegar que se opõe aos outros dedos.

A perspectiva que cai por terra nada mais é do que uma opção de escolha que deixa de estar disponível. A perspectiva que se abre passa a ser então uma nova opção de escolha ou os novos pesos das escolhas que permaneceram. Olhando nua e cruamente não haveria possibilidade de lamentação, já que minimamente existem perspectivas remanescentes ao invés de novas. O tempo gasto na lamentação seria perdido.

Talvez a melhor saída seria substituir onde o tempo é gasto. A lamentação pode ser substituída no planejamento, em que se pergunta onde quer estar a curto, médio e longo prazo. Daí certamente surgirá a tal. Também pode ser trocada por novas maneiras de enxergar a situação presente, acrescentando novos pontos de vista e, conseqüentemente, novas possibilidades de manejo da situação.

Não se deixe levar pelas perspectivas que vão por terra abaixo. Olhe para cima e verá as novas perspectivas acenando cada vez mais próximas.

03/02/2010