sábado, 20 de outubro de 2018

As Flores Não Mentem

Arte de Weberson Santiago



As flores nunca mentem. Posso lhe dar um ramalhete de exemplos para comprovar.

As flores nunca mentem quando recebemos uma visita que parece muito feliz com nossos progressos pessoais, mas que esconde uma inveja enorme de nossas conquistas. As flores murcham pouco tempo depois para nos mostrar com quem estamos lidando.
Se ainda resta alguma dúvida de que as flores murcharam por conta da inveja elas reagem brotando ou florindo um tempo depois para nos lembrar que o motivo de ter murchado foi o sentimento da visita. As flores nunca mentem.

As flores nunca mentem quando recebemos um buquê de presente. Se retrata de um amor verdadeiro o buquê exala frescor. Se foi planejado para comemorar uma data especial, o buquê conversará com você sobre as memórias do relacionamento. Se foi um presente para compensar uma pisada de bola, as flores estarão dispostas a lhe dar um alerta sobre os perigos da sedução, mas só se você estiver disposto a ouvir. As flores nunca mentem, desde que nós mesmos não queiramos nos enganar.

As flores nunca mentem sobre o quanto as pessoas são boas em cultivar. As flores revelam se a pessoa tem “mão boa” para plantar, se a pessoa tem disponibilidade para cuidar com frequência, se a pessoa sabe perceber a necessidade da planta e dos outros, se a pessoa sabe adubar suas plantas e as pessoas de ideias.

As flores nunca mentem quando morrem e respeitam nossa dificuldade em lidar com a perda. Se nossa dificuldade é grande, a flor perde pétala por pétala para que nos acostumemos com a morte. Se já endurecemos diante de outras perdas, a flor seca por inteiro. Se são muito representativas, aceitam ser esmagadas pelas páginas de um livro para que sejam eternizadas, ainda que secas.

As flores não mentem quando estão presentes nos velórios. Há coroas que verdadeiramente homenageiam, mas há outras que revelam culpa por uma atitude com o morto ou remorso pelo abandono no final da vida. E as flores entregues no túmulo com frequência revelam a dificuldade de aceitar a perda ao tentar manter a pessoa viva dentro de si com o ritual. As flores nunca mentem.

Por isso eu não concordo com o Cartola– e não concordo só com este trecho de toda sua obra – quando ele diz que as rosas não falam. As rosas não só falam como avisam, aconselham, dão dicas e até gritam. As gérberas, petúnias, begônias, margaridas, violetas e até os cravos também. Basta querer ouvir.

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Você já ouviu as verdades que as suas flores tem para lhe dizer?


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 20/10/2018, Edição Nº 1534.

sábado, 6 de outubro de 2018

A Virtude de Aprender a Lidar com as Emoções

Arte de Weberson Santiago




Uma das maiores virtudes que se pode ter nos dias de hoje é a capacidade de gerenciamento de emoções negativas.

O manejo de pensamentos desagradáveis, sentimentos ruins e memórias difíceis de lidar é fundamental para que sejamos capazes de viver.

Nossa principal tendência diante de um pensamento ou sentimento ruim é tentar fazer algo para que paremos de pensar ou de sentir. Como se a esquiva ou a fuga fossem de fato uma maneira de lidar com eles.

Na verdade, ainda que seja uma tentativa de resolução, a fuga ou a esquiva só encerram ou adiam o contato temporariamente. Com esses comportamentos apenas deixamos o problema para depois e não aprendemos a lidar com eles.

O complicado é que não percebemos que fazemos isso muitas vezes ao dia e que a longo prazo ficamos limitados na arte de fazer malabarismos com estas emoções ao viver a vida.

Os psicólogos que propões a Terapia de Aceitação e Compromisso afirmam que tentar controlar os pensamentos, sentimentos, emoções e memórias é parte do problema e não a solução.

Para eles, a saída é exatamente o contrário: para que seus pensamentos e sentimentos deixem de atrapalhar a sua vida você deve tolerar entrar em contato com eles e deixarem que eles passem.
Esses terapeutas dizem que o sentimento costuma ser evocado por uma situação, até atingir um máximo de intensidade e depois ele passa. Ou seja, para gerenciar é preciso ser capaz de sentir e deixar passar.

Para a TAC, um sentimento não é a realidade, é uma resposta do seu corpo a uma realidade, mas é só um sentimento. De maneira que suas decisões não devam ser tomadas nesse momento de maior intensidade.

O mesmo raciocínio vale para os nossos pensamentos. Eles são resultados de nossa história de vida e evocado pelas situações atuais. Muitas vezes nossos pensamentos se distanciam da realidade e são “maus conselheiros” para lidar com as situações.

A TAC diz que a direção de nossas ações não pode ser definida por aquilo que pensamos e que as vezes devemos inclusive desconfiar do quanto nossos pensamentos são precisos, de maneira a olhar nosso próprio comportamento e as situações com distanciamento.

Se eu falarei em público, por exemplo, e no caminho penso que posso falar algo errado e passar um constrangimento, se eu levar esse pensamento muito a sério eu darei meia volta e voltarei para casa, o que seria um erro.

É preciso parar de encarar os pensamentos e sentimentos negativos como problemas e compreendê-los como parte de nosso funcionamento. Aceitar e compreender lhe darão a liberdade que você busca.

 UM CAFÉ E A CONTA!
|Desejar viver somente de emoções positivas é a melhor maneira de não aprender a lidar com emoções negativas.


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 06/10/2018, Edição Nº 1532.