Arte de Weberson Santiago
Tem uma coisa nas minhas bandas
que dá o maior boró na relação do casal. É a missa no fim de semana. A
dificuldade está em como encaixar o compromisso na agenda do par sem gerar
insatisfação.
Isto porque o homem está proibido
de dizer não para a obrigação religiosa. Dizer não é um pecado mortal para o
bom andamento conjugal. Para a mulher, não ter o marido na missa é o
equivalente a ter sido deixada no altar no dia do casamento a cada domingo.
A penitência será cobrada
durante a semana, dividida criteriosamente de segunda a sexta.
Na segunda-feira: ― Querida,
pode preparar um lanche pra mim?
―Não, você não quis ir à missa
ontem comigo.
Na terça: ― Você
pode buscar o Marcos na escola hoje, meu bem?
― Não posso, eu já levo o Marquinho
na escola todos os dias. Se você não pode sair do seu conforto no fim de semana
para ir à missa comigo, porque eu devo sair do trabalho para te poupar?
Na quarta, enquanto estão juntos
no supermercado: ― Aquele não é o Fernandinho? Você viu como ele está bem com
essa nova namorada, parece até que rejuvenesceu!
― É, ele está bem mesmo! Eu encontro com ele
todos os domingos na missa, e eles sempre estão JUNTOS!
Na quinta: ― Tem fruta na geladeira. Fiz a feira
hoje de manhã – ele sugere.
― Tentando compensar a sua ausência ao meu lado
na missa?
Até que na sexta ele convida: ― Vamos
namorar hoje, meu amor?
E ela não perde a oportunidade: ―
Você vai à missa comigo neste fim de semana?
É claro que com toda esta
campanha de evangelização, muitos homens já aceitaram a obrigação no fim de
semana em nome da paz durante os dias úteis. Para estes exemplares masculinos,
o problema é o dia e a hora da missa.
É aí que começa a negociação.
Meu amigo Marcos gosta de ir à missa logo cedo, para ficar livre. Sua mulher,
Juliana, gosta de dormir até tarde no domingo. Para escolher o horário da celebração,
um dos dois acaba saindo insatisfeito.
Não tem nada que deixe um homem
mais irritado do que ir à missa no domingo à noite. Explico a razão. A missa no
final de tarde de domingo coincide com o horário do jogo de futebol. E se a
mulher não abre mão dos cuidados com a beleza, o homem não abre mão de seu jogo
semanal. Pode ser que o time esteja dependurado da tabela e escorregando para o
rebaixamento, mas ele é fiel ao time. Pode ser o campeonato europeu ou a
terceira divisão. Não é o jogo em si, é não ter obrigação nas últimas horas de
folga na véspera da temida segunda-feira.
Dependendo das consequências da
negativa ele até aceita deixar o futebol em nome da paz no amor. E quando ele
está sentado no banco, planejando tirar a roupa social assim que pisar em casa,
o Padre começa a celebração:
― Na missa de hoje comemoraremos as Bodas de Ouro
do Sr. Joaquim e da Dona Esmeralda e teremos o Batizado da Maria Carolina.
| Quem sai depois da comunhão chega antes em casa, mas não recebe a
benção final.
|
Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria
Publicado na capa do Caderno Cultura, 15/10/2011, Edição Nº 1169.
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