sábado, 25 de agosto de 2018

A Dor Fantasma da Rejeição

Arte de Weberson Santiago



Um dos sentimentos mais difíceis de se lidar é o sentimento de rejeição. A atitude mais comum que produz este sentimento é a crítica excessiva ao que o outro tem ou ao que o outro é. Por mais incrível que possa parecer, a ausência de crítica também pode ter o mesmo efeito. A indiferença constante também pode produzir sentimento de rejeição. A negligência nas relações ou a sonegação de afeto também podem produzir o sentimento de rejeição.

Apesar de ser fruto do excesso ou da falta vindos da parte do outro, aquele que é rejeitado costuma atribuir a responsabilidade da rejeição a si próprio. "Talvez eu não seja bom suficiente para ser visto". "Talvez eu não mereça mesmo o amor que não recebo". "Talvez eu não seja tão importante para ser cuidado". Muitas vezes o talvez some da frase e a pessoa tem convicção de que não é boa, não merece ou não é importante.

O sentimento de rejeição é sentido como uma dor fantasma. Como se você tivesse perdido um braço ou uma perna, mas continuasse a sentir dor naquele membro quando constatasse a sua ausência.
Perceber que me sinto rejeitado dói. Uma dor que pode vir à tona diante de qualquer situação em que eu não seja aprovado, compreendido ou reconhecido. Também pode vir à tona quando sou criticado, invalidado ou passo despercebido.

Por isso me sinto perseguido pelo fantasma da dor. Quanto mais tento fugir de me sentir rejeitado, mais me aparecem situações para me lembrar da rejeição que sinto. E aí dói.
Meu terapeuta me disse que ao invés de fugir do sentimento de rejeição, deveria encara-lo. Mas é tão difícil.

Gostaria de encarar a rejeição direta e profundamente. Olhar no fundo dos olhos dela sem me abalar. Para demonstrar que sou indiferente a ela, que sou superior a ela, que ela não me controla. Mas eu não consigo olhar. Ela parece que sempre irá ganhar, que é mais forte do que eu.

No fundo eu nem tento, porque eu tenho medo de não suportar a dor que eu sinta. Será que é possível aprender a conviver com a rejeição? – me pergunto. Será que é possível superar essa dor? – penso.

Acho que eu não percebi, mas enquanto eu escrevia essas palavras eu estava entrando em contato com o sentimento de rejeição. Eu lidei com a minha rejeição quando resolvi escrever sobre ela. E por mais difícil que tenha sido entrar em contato com ela, eu consegui.

Acho que meu terapeuta tem razão: tentar fugir do sentimento de rejeição é o problema, e não a solução. A solução é entrar em contato com o sentimento e fazer algo produtivo com isso.

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Entender o que se sente é sentir o que se entende.
Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 25/08/2018, Edição Nº 1526.

sábado, 11 de agosto de 2018

Não Tenha Medo de Tirar o Celular do Seu Filho

Arte de Weberson Santiago



Aquele que nunca usou alguma forma de tecnologia para entreter o seu filho que atire a primeira pedra. Fica difícil manter as crianças longe do celular enquanto nós mesmos vivemos dependurados nos smartphones.

Defendo que o uso de celulares por crianças seja monitorado pelos pais e liberado apenas em alguns períodos, que o uso não seja livre. Ter o celular como concorrente de atividades escolares é criar uma concorrência desleal. É problema na certa.

Mas nossa falha começa bem antes da liberação da tecnologia. Quando sustentamos a tentativa de fazer com que o quarto perfeito que criamos na gestação se mantenha durante o crescimento de nossos filhos.

Queremos que nossos filhos tenham uma vida feliz, diferente da nossa, e lutamos para manter uma satisfação constante. Para que sejam felizes, multiplicamos iniciativas que lhes gerem satisfação e lhes poupamos de frustrações e esforços.

O resultado desta forma de agir? Ao invés de crianças felizes, temos nos deparado com uma fragilidade emocional enorme, uma baixíssima tolerância a frustração e uma constante angústia e infelicidade. Ou seja, produzimos o oposto.

É na infância que se aprende a lidar com o esforço, com a frustração, com os desafios, com os sentimentos negativos. Portanto, não tenha medo de tirar o celular ou tablet do seu filho. Você estará lhe ajudando a experimentar outras atividades, além de demonstrar preocupação e interesse ao colocar limites. As crianças andam muito carentes disso, pois nossa correria cotidiana lhes dá uma sensação de que não lhes damos atenção por que não são importantes.

Mas não é o suficiente retirar o celular. As crianças têm uma energia enorme e, na maioria das vezes, uma grande capacidade cognitiva que precisa ser utilizada em algo produtivo.

A energia deve ser canalizada para alguma atividade física. A tecnologia tem contribuído também para o sedentarismo precoce. Além de que a atividade física tem benefícios para a saúde física, emocional, social e até intelectual.

Para trabalhar a capacidade cognitiva, analise a capacidade do seu filho e crie “desafios” para que ele supere dentro de casa. Atribuir novas responsabilidades em tarefas domésticas, por exemplo, pode ser uma ótima maneira de ensiná-lo a lidar com esforço, a aprender cooperação e construir autonomia. Uma pesquisa no Google sobre isso pode lhe dar sugestões do que é possível fazer em cada idade.

Tem horas que precisamos parar de fazer e olhar para como a gente está fazendo o nosso papel. Só tentar fazer diferente do que fizeram com a gente pode não ser – e na maioria das vezes não é – o suficiente.

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Quando o assunto é educação dos filhos, pequenos ajustes podem promover grandes resultados.


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 11/08/2018, Edição Nº 1524.