segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre os limites no amor e no sexo

O amor proibido é o tema mais corriqueiro de qualquer tipo de literatura. Na minha opinião é por que as amarras de amar estão presentes nos indivíduos e não nos valores culturais vigentes. Veja a capa da Revista Veja de 12/05/2010: “Ser jovem e gay – a vida sem dramas”. A capa trás um jovem bonito e sorrindo: “O estudante carioca de 17 anos, assumiu-se gay para a família e os amigos aos 14”.

O mais distraído leitor subentende que a felicidade em ser gay é assumir o quanto antes. Quando li, fiquei preocupado com o avanço da neuroimagem. O dia que o médico vai fazer ultrassom neurológico e a capa de Veja será: “Joãozinho avisa com dois meses de gestação que é gay”. Sua mãe feliz já pode sonhar com o genro.

Apesar da sociedade ter inventado uma onda de sexualidade sem preconceitos, o que mais se vê entre as novas gerações é a reedição de Romeu e Julieta. Só que o impedimento não é resultado da rusga familiar entre Montecchios e Capuletos. A tragédia de hoje tem versão atualizada, o que garante parte do romance vivida no mundo digital. O Orkut é, sem dúvidas, o palácio das intrigas e o Facebook uma forma alternativa de viver o amor digital.

Como não utilizar desses meios se as sensações diante da foto do perfil, dos recados e depoimentos são as mesmas da troca de olhares, dos sorrisos e dos gestos frente à frente. Até os orgasmos podem ser vividos no mundo online da insunuação, da liberdade e da omissão da responsabilidade.

O sexo enquanto prática, não tem limites. Tudo pode ser feito. Embora não em qualquer lugar. Já o sexo de duas pessoas sempre esbarra em algum limite. Pode ser o limite da quantidade, pode ser o limite do que eu deixo que façam comigo, pode ser o limite que eu me permito experimentar, pode ser o limite físico (fazer até machucar ou fazer tanto tantos dias seguidos a ponto de ter febre).

O sexo não tem limites, as relações humanas sim, estas sempre têm limites, inclusive no sexo. Quando é que o amor pode não ter dramas? Se há entrega e dependência, há de haver sofrimento, mesmo que mínimo.

É preciso compreender que satisfação sexual e insatisfação sexual são duas coisas independentes. O oposto da satisfação sexual não é a insatisfação, mas sim nenhuma satisfação. E o oposto da insatisfação não é a satisfação, mas sim nenhuma insatisfação sexual.

A experiência da maior satisfação sexual pode vir acompanhada de muita insatisfação. A insatisfação pode ser por ter feito sexo sem camisinha, por ter sido o fim de um primeiro encontro, por ter sido apenas sexo, sem o sentimento de pertença. Ou o contrário, saber que depois da intimidade sexual, crescerá a dependência.

Quando a satisfação sexual é grande e a insatisfação é praticamente nenhuma, diz-se que o sexo vivido foi a maior prova do amor existente. O laço selado de um pacto sem cláusulas. Onde a sensação é a mais profunda percepção do outro.

Que seja reconhecido o drama do amor, a dependência do outro selada pelo sexo e o crescimento que só aprende quem ama. Aprende a desfazer os nós e a reconstruir os laços, com muitos dramas criados e vividos.

Fazemos questão de proibir o mais simples e belo amor que podemos demonstrar. Não permitimos que o encontro carregue nossas atitudes, quando não queremos concretizar o mais profundo sentimento.

Ser jovem e amar é viver uma vida cheia de dramas.


sexta-feira, 28 de maio de 2010

No Caderno da Oficina 3

Sétimo Sapato

No início do curso, Fabrício me disse que eu falava como um profeta. Falou e saiu andando. Disse isso quando descrevia sobre algumas impressões e sentimentos do curso, olhando para cima e com a mão no queixo. Mantenho essa postura em muitos momentos, quem está em minha rotina já deve até ter reconhecido a cena dessa postura.

Gosto de analisar as pessoas, a vida, entender a cena que eu acompanho. Buscar respostas e motivos para as condutas e escolhas das pessoas. Mas definitivamente preciso desligar o botão da análise em certos momentos.

Enquanto relatava os sapatos do caminho, estava digerindo cada experiência vivida nos últimos meses em minha vida em três esferas: o eu cronista, o eu psicólogo e o eu Augusto.

O sapato do eu cronista

Durante esse curso, descobri que há uma satisfação das pessoas em ver o mundo com os meus olhos. É a maneira pela qual eu cativo as pessoas a lerem os meus textos, a reconhecer suas particularidades em minhas palavras. Hoje sei que tenho uma habilidade em escrever e que atinjo pontos íntimos e comuns que compartilho com meus leitores. Sei que não agradarei a todos, mas sei que escrever me faz bem e faz bem aos que me lêem ter essas palavras publicadas. Seguirei na lida do cronista, sabendo agora qual o conceito central que deve permear meus escritos para um dia concretizar aquilo que é um sonho: o livro coletânea de crônicas. Existe um ponto que perpassa minhas produções, que me ficou claro no curso do Fabro. Será a espinha dorsal do livro que um dia irá nascer.

O sapato do eu psicólogo

Não foi a faculdade de psicologia que me fez psicólogo, foi a vida. A faculdade e a ciência da psicologia pavimentaram a estrada que eu percorro desde que cheguei a este mundo. Não há coisa que me gratifique mais do que fazer psicologia das 7 da manhã às 21 horas, quase todos os dias da semana. É com o eu psicólogo que eu me vejo fazendo a diferença na vida das pessoas. Ganho a autoridade, com consentimento, de ser expectador da história pessoal. Sei de intimidades maiores do que as pessoas mais íntimas do dia a dia da pessoa. Reconheço a responsabilidade que isto significa e faço questão de buscar corresponder ao que me é atribuído. Tenho o direito de errar nesse caminho, e as pessoas me permitem assumir cada erro, já que não erro por falta de ética, mas por ser um ser humano como qualquer outro.

O sapato do eu Augusto

Aprendi o prazer de usar a primeira pessoa com a crônica e com a psicologia. Falar de mim e ver a reação das pessoas como se falasse delas. Mostro o que eu sou para fazer a pessoa descobrir quem ela é. Mas quando escrevo crônica ou faço psicologia, não é o Augusto mais íntimo que está se mostrando ali. São os eus anteriores que estão usando a pessoa do Augusto para atingir o objetivo do cronista ou do psicólogo. Quando coloco no ar qualquer escrito meu, estou permitindo que cada um entenda da maneira que lhe convém. Foi assim, é assim agora e assim continuará sendo.

Ao planejar deixar minha vida uma semana e fazer a Oficina do Carpinejar, sabia que eu não seria o mesmo depois dessa experiência. E não sou. Muitas pessoas além do próprio Fabrício me ajudaram a compreender o que descrevo nessa postagem. Aliás, essa terceira postagem “No caderno da oficina” fecha um ciclo, ou melhor, alguns ciclos.

Oitavo Sapato

“Tu é um bom cronista. Tu é sensível”

Fabrício Carpinejar, durante sua aula no último dia de curso.

Nono Sapato

Presenteei Fabro com a foto desta árvore e o seguinte recado no verso:

“Olho para seus olhos cansados e só consigo ver um sorriso de ponta cabeça”.

Décimo Sapato

Dedicatória feita por Carpinejar no livro onde descobri suas crônicas:

“Para Guto, cronista, essa padaria dentro de casa.

Capinejar, 14/05/2010".


sábado, 22 de maio de 2010

No Caderno da Oficina 2

Quarto Sapato

No caminho da oficina me deparei com certos sapatos.

Os sapatos do feiticeiro Carpinejar.

Havia um sapato. Quando não via, tropeçava nele.

Mais um. E outro.

Experimentei todos,

Mas ainda estou descalço.

Quando chegar no último, haverei de me calçar.

Quinto Sapato

Chegando no B_arco (Centro Cultural Brasil Arte Comtemporânea) ofegante da caminhada da Consolação à Teodoro Sampaio, encontro Fabrício na porta:

Carpinejar: Tu pode pegar o que me mandou no e-mail corrigido na secretaria. Fiz uns apontamentos e escrevi o que acho que precisa melhorar. Lê e vê se tu entende o que eu escrevi, mas não quero que tu fique chateado.

Augusto: Fabrício, por que você tá cheio de dedos?

C: É que costumo pegar pesado, mas só com quem eu amo.

A: Bom, pelo que você tá falando seus comentários tem um amor gigantesco. (gargalhadas) Vou ler já e te falo.

Vinte minutos depois,estou sentado lendo no café do B_arco e Fabro me aborda:

C: Tu entendeu o que eu escrevi?

A: Sim, você pediu para eu trabalhar uma imagem e eu descrevi o álbum de fotografias. Para mim, esse primeiro texto foi quase uma catarse.

Sexto Sapato

Estava sentado à mesa do café quando chega Fabro para mais um dia de Oficina, o último. Revelei uma foto para lhe presentear e estou ensaiando as palavras do verso. Estávamos vivendo o clima da ternura, resultado da intensidade do método e do procedimento escolhido por Carpinejar para promover a formação dos cronistas. Fabrício pega uma coca e um pão de queijo e senta comigo. A certa altura do papo ele diz:

Carpinejar: Tomei um xingo de uma aluna.

Augusto: Uma aluna do curso?

C: É

Nessa hora, Tati chega com a ansiedade de quem voltaria para suas filhas e para o Rio depois da última aula dessa semana intensa. Coloca suas coisas na mesa onde estávamos quase soterrando o pão de queijo do Carpinejar.

C: Tati, tu chega chegando hein? (risos)

A: Uma aluna da Oficina, mas por que xingou?

C: Eu vou falar na aula.

Tati: É, eu vi a cara dela, ela não gostou da espuma.

Eu me considerava divertido por usar apito e os cartões vermelho e amarelo com meus alunos e atletas, até descobrir a espuma de carnaval do método Carpinejar.

A: Mas se eu fosse ficar bravo com os incômodos gerados teria te batido já no primeiro dia com a história do sapato.

C: Tu teve vontade de me bater? – pergunta com interesse e entonação de quem gosta de incomodar.

A: Não, não tive.

C: Ahhh, que saco... (os três caem na risada).



terça-feira, 18 de maio de 2010

No Caderno da Oficina

Foi convivendo uma semana com Fabrício Carpinejar que descobri que pensamento tem sotaque. Seu estilo provocativo de ensinar me permitiu ver de perto seu brilhantismo ao construir a crítica pela poética como cronista. Suas falas gaúchas ainda ressoam em meus pensamentos e aqui divido alguns destes momentos. Foi um encontro intenso de pessoas diferentes com um único objetivo: carpinejar a vida. Ter licença poética de sair um pouco da própria vida e vivenciar tanta coisa em tão pouco tempo, como disse a Tati. Minha versão de alguns breves momentos:

Primeiro Sapato

Carpina tinha pedido um voluntário para descrever uma lembrança da infância. Maria Antônia se ofereceu a contar sua experiência de criança, quando usava tranças e vestido xadrez. Aguardou ansiosamente a chegada de sua vez no pula-pula e quando saiu do brinquedo não achou seu par de sapatos. O Conga da Maria Antônia.

Neste momento imaginava que a loira descolada contava uma descoberta. O dia que ela sacou que a felicidade do pula-pula é a grande oportunidade na infância do cleptomaníaco.

Carpinejar: Você enxerga os detalhes?

Maria Antônia: Sim, estava de vestido xadrez e de trança no cabelo.

Carpinejar: Você consegue se ver entrando no pula-pula?

Maria Antônia: Consigo.

Foi quando Carpinejar perguntou:

C: Quem acreditou na lembrança dela? Quem aqui acha que a história é verdadeira?

A: Eu acreditei - disse com o braço ao alto.

C: Por que tu acredita?

A: Pelos detalhes que ela descreveu, pela rapidez com que ela foi respondendo os seus questionamentos de se ver na cena.

C: Quer dizer que tu acha que a ejaculação precoce com algumas preliminares é a relação sexual mais verdadeira? Ela disse que via a cena. Se era ela quem vivia essa situação, como ela poderia se ver brincando no pula-pula?

A (em pensamento): Ela é espectadora da própria infância.

Segundo Sapato

Com a máquina fotográfica dando sopa na mão, durante o curso, ligo e tiro o flash. Quando apertei o botão que capturou a imagem ele solta:

C: Tu sabia que é proibido tirar foto durante a aula?

A: É sério? – disse.

C: Não.

A: Ufa!

Terceiro Sapato

Na porta do B_arco (Centro Cultural Brasil Arte-Contemporânea), espirrando em meio aos fumantes para aproveitar suas companhias. Intervalo do curso, por volta de 21 horas, frio na cidade de São Paulo:

Augusto: É impressão minha ou hoje está mais frio do que ontem?

Carpinejar: É impressão sua (pausa), e está mais frio do que ontem (gargalhada).


Os relatos continuam numa próxima página deste caderno.
Para meus comparsas de Oficina, que viveram comigo Tantas Ternuras.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Suicídio Consumado

Este é o documento que anuncia minha morte, a morte do cronista. Morte matada, não morte morrida. Aquela que nos manda direto para o inferno. Cometerei o ato bárbaro do suicídio. Tentei empreender na lida do cronista, mas não tenho condição de continuar.

Como posso ser capaz de causar estranhamento com uma crônica sem ter um grande problema com isso? Se contasse a minha última transa no sábado, perderia todo o respeito das pessoas e de brinde uma briga com a família. Não vão me matar por ter feito, mas por ter contado. Chocaria um adolescente que acessa o meu blog. Abusaria da inconseqüência. Se não tenho paciência de ensinar o que é o bom-senso, não sou capaz de deixá-lo de lado.

Mordo de vontade de contar algumas passagens de psicólogo com meus pacientes. Não é sempre que criticam meu cabelo, o quadro que pintei, ou me proferem apelidos não tão agradáveis. Um bom cronista descreve a imagem completamente, transportando o leitor para a cena, fazendo isso quebraria o sigilo e cairia na falta de ética. Divulgar o atendimento me custaria a cassação do CRP.

Existem professores que pensam que alunos de psicologia gostam de falar sobre sexo. Que bobagem, Freud saturou o assunto. Alunos de psicologia gostam de falar de amor. E qualquer professor de psicologia gosta de falar sobre ética. Não posso mais falar de amor, não posso mais despir a namorada nas minhas palavras. Não quero! Amor só me será tema até o último ponto final deste texto. Acalmem-se alunos, nas aulas não vamos nos abster de tocar no assunto, mas na crônica não. A decisão já está tomada.

Não me compreende? Basta se colocar no meu lugar. Como tomarei partido de um lado da história se o meu papel é justamente mediar a relação das pessoas de maneira imparcial? Escrever crônica é ser partidário e rechear de exemplos o convencimento do leitor. Não posso ser prisioneiro do limite. Não é de ética que sobrevive a crônica. E também não é só de poética. A emoção desejada neste gênero é a emoção da surpresa pelo desdobramento. Não posso desdobrar o que nunca pude por a mão para dobrar.

Não posso, por exemplo, assumir que tenho grande dúvida sobre a existência do casamento. Acreditar no amor não é sinônimo de acreditar em casamento. Perderei todos os pacientes encaminhados pela Igreja se questionar o matrimônio e pior, perderei as pacientes adolescentes que as mães querem casar e bancam suas sessões para que isso aconteça.

Já que a morte é certa, devo confessar que usei a crônica para cutucar a ex-namorada. Assumir isso é a prova que estou disposto a lançar mão. Tudo bem que foi uma tentativa para preservar o amor, mas sei que não é assim que se faz crônica. Estão vendo como não é mesmo para mim? A melhor coisa que faço é por fim a vida do cronista. Crônica não é página arrancada do diário, não é caçamba de entulho. Crônica é literatura.

Perdi a medida, escorreguei do meio fio. A incerteza não é incômoda, incômodo é o desconforto. Antes que eles se multipliquem, me subtraio. Não é para lhe provocar sentimento de abandono, é para que não me expulse de suas leituras por vontade própria. Saio em nome da honra que ainda resta.

Devo pedir desculpas, um suicida eficiente escreve uma carta. Se ela explica a motivação, não cabe a mim responder. Sou categórico. Não adianta comentar, mandar e-mail ou telefonar. Aqui termina o que talvez nunca tenha sido. Não me questione leitor assíduo sobre esta decisão. Isso aqui já é também o testamento. Dou o direito a quem comentou o que publiquei de escolher o que guardar consigo. Só peço que não briguem.

Farei uso da sensação da morte se aproximando para fazer dois pedidos. O primeiro é que um de vocês se encarregue do funeral. Já me basta ter que tramar a morte, o ritual de velório e do enterro deixo para vocês. Não pensem que não está doendo em mim. O segundo é que providenciem a placa em bronze com o seguinte epitáfio: “Não será mais visto escrevendo em padarias”.







Terceiro material produzido na Oficina de Crônicas de Fabrício Carpinejar.
Dedicada aos grandes amigos revistos e abraçados nessa semana.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Fabro, Carpina, Carpinejar

O poeta sentimental não apenas reflete, mas também convida
o leitor a percorrer o mesmo fio de raciocínio
em relação ao objeto. Werner Wilhelm Jaeger


Fabrício Carpinejar e eu na Oficina de Crônicas

sábado, 8 de maio de 2010

“SÓ EU SEI O QUE É SER MÃE, MAS SERÁ QUE ESTOU FAZENDO A COISA CERTA?” A RELAÇÃO DE PAIS E FILHOS HOJE E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA A EDUCAÇÃO

Vivi um momento de grande emoção na noite da última segunda feira. Fui convidado há cerca de um mês para uma palestra para as mães dos alunos da Escola Nova de Mococa. Qual é a novidade para um psicólogo que dá aulas em quatro dos cinco dias da semana e apresenta trabalhos em congressos nacionais e internacionais há seis anos?

A emoção se deu ao me apresentar como psicólogo e não como ex-aluno, já que estudei na Escola Nova dos 4 aos 14 anos. Passei boa parte da minha infância e adolescência naquele espaço. As marcas deixadas em minha história de vida foram muitas, as habilidades incentivadas e reconhecidas nesses 10 anos hoje são utilizadas no exercício de minha profissão. Este reencontro foi muito especial.

Quando a professora e diretora Tânia (ou como chamam os ex-alunos, Tia Tânia) entrou em contato, confesso que a primeira coisa que pensei ao aceitar o convite foi: o que eu, solteiro e sem filhos, poderia falar para uma platéia de mães mais velhas (no bom sentido) e experientes do que eu?

A resposta que me ocorreu foi que se fui convidado é porque minha história de vida e história profissional poderiam proporcionar uma reflexão importante para elas e para mim. Quando me solicitam falar como psicólogo a respeito de um assunto é como se eu ligasse um radar. Começo a me deparar com materiais sobre aquele assunto e passo a repensá-lo até concluir minha opinião que será usada para palestrar.

O pensamento construído especialmente para esse encontro foi transformado em palestra com o seguinte título “só eu sei o que é ser mãe, mas será que estou fazendo a coisa certa?”. A pergunta ousada me fez buscar fundamentação teórica para que ao final da exposição verbal estas mães, e alguns pais participativos que estavam na platéia, pudessem refletir sobre o que estão fazendo na educação de seus filhos.

Estávamos então, Tia Tânia e eu, diante de mais de 100 mães, nervosos e emocionados na hora da apresentação. A minha primeira frase foi justamente dizer que poderíamos trocar de lugar - essas mães poderiam me ensinar o que é ser mãe, mas que eu buscaria responder a pergunta título da palestra como uma oportunidade de reflexão seguida de uma homenagem.

A palestra foi muito significativa para todos os presentes, por isso transcrevi minha argüição no texto abaixo, cujas citações extensas são fundamentais para a discussão que apresento a você, caro leitor do Observatório (que se for assíduo verá que utilizo trechos de crônicas já publicadas que falam sobre a relação de pais e filhos):


“SÓ EU SEI O QUE É SER MÃE, MAS SERÁ QUE ESTOU FAZENDO A COISA CERTA?”

A RELAÇÃO DE PAIS E FILHOS HOJE E SUAS CONSEQÜÊNCIAS PARA A EDUCAÇÃO

Costumo dizer que os filhos demonstram aos pais o quanto eles juntaram os seus melhores e os seus piores. De repente, me vejo fazendo o que sempre critico no meu pai ou em minha mãe. Em um dado momento, ele ou ela percebe que não adiantou cobrar uma postura de mim que eles mesmos não foram capazes de sustentar. Posso ser grato pelas oportunidades que me deram, mas posso me revoltar com as coisas que não quiseram me dar.

Os pais que estimulam, incentivam e reconhecem seus filhos podem ser críticos, incompreensivos e ausentes. Daí que pais despertem sentimentos contraditórios nos filhos e, do mesmo modo, os filhos despertem sentimentos antagônicos nos pais. Neste palco, há espaço para conflitos nas questões de dependência e independência em ambas as direções – de pais para filhos e de filhos para os pais.

Não há liberdade de escolha. Os pais fazem os filhos, mas não têm o direito de escolhê-lo. Os filhos nascem sem fazer opção pela sua família. Toda esta problemática transparece em um costume que considero significativo em todas as famílias: a herança.

A herança costuma ser um benefício cujo efeito se assemelha ao do trabalho. Para tolerar aquele emprego mereço além do salário receber um plano de saúde, vale refeição e uma cesta básica. A herança é o bônus pago pelo ônus de pertencer àquela família. Até a ausência de herança é válida para este fim: tão azarado fui ao ser desta família que sequer me deixarão algum bem.

O inventário de bens é o instrumento de retaliação do ente que morreu. É o uso do poder do defunto, que faz suspense sobre quem receberá aquilo que ele foi capaz de acumular durante a vida. Não é à toa que a partilha, quando não foi definida em testamento, já foi tema de filme de drama, tragédia, comédia e até terror.

Herança boa é a que se ganha em vida. Aquele que um dia se vai faz questão de deixar o presente com você, com direito a explicação de sua história e oportunidade de agradecimento.

Uma primeira questão é qual a herança que deixamos em vida para as crianças, que passam a adolescência e se tornam adultos? Façamos uma digressão (ou um parênteses) para pensar na figura da mãe (ou dos pais) para a psicologia.

Freud trouxe a concepção de um auto-erotismo que envolveria uma ligação afetiva entre mãe e filho, com destaque para a amamentação como um estímulo de libido (que envolve desejo). Nesta relação Freud defendia que a ligação seria tão forte que haveria um impacto quando a criança tomasse consciência da presença de uma terceira figura (formando um triângulo), a saber, a figura do pai. Para Freud, a passagem pela fase de constatação dos dois vértices do triângulo (mãe e pai) seria decisiva para a definição de um padrão de relacionamentos com figuras masculinas e femininas para o resto da vida.

Melanie Klein, na mesma linha de raciocínio de Freud, definiu que uma mãe teria duas faces, que chamou de seio bom e seio mal. Quando o bebê chora por uma necessidade básica insatisfeita está conhecendo o seio mal. Quando é amamentado, por exemplo, conhece o seio bom. A criança precisa integrar que essas duas faces formam uma única mãe. Os dois psicanalistas salientam uma ligação afetiva muito forte, estreitamente relacionada aos sentimentos antagônicos despertados que citei há pouco.

Ainda no âmbito da psicologia, mas numa visão comportamental, Skinner salientou a importância dos pais enquanto ambiente de estimulação e de reforçamento diferencial dos comportamentos das crianças. O reforço é a conseqüência emitida pelo pai ou mãe diante da atitude de seu filho e que pode ser expressa em muitas dimensões do seu comportamento (elogios, reconhecimento, opiniões, reações, expressões faciais, movimentos corporais, etc.). Para Skinner o reforço aumentará a probabilidade do comportamento ocorrer em contextos semelhantes.

A estimulação é um ponto que precisa ser abordado mais afundo. Temos visto as crianças serem responsáveis por atitudes que não lhes cabem. Posso citar alguns exemplos. Como uma criança que avisa a mãe, depois de presenciar uma discussão sobre infidelidade dos pais, que o pai havia apagado mensagens de seu celular, e que ela deveria ir adiante para constatar a traição. É um filho de sete anos (que entende do funcionamento de um celular por ter um) que deve mostrar a um adulto aquilo que ele se esforçou anos para não encarar, pela atitude que deveria tomar diante dessa constatação?

A cultura brasileira estimula o sexismo. Não existe país no mundo que se orgulha tanto do duplo sentido e de seu uso no cotidiano tanto quanto os brasileiros. Gostamos de transmitir a imagem de que somos bem sucedidos em nossas relações afetivas e, principalmente, sexuais, enquanto na verdade somos travados em muitos aspectos com nosso corpo e com o parceiro. Nos expondo dessa maneira, ensinamos as crianças que exibir e descobrir o corpo é prazeroso e dá status. Será que é a curiosidade ou são os estímulos sexuais que permitimos a nossas crianças (vide e a programação da televisão) e que as bombardeiam o tempo todo, os responsáveis pelas situações desesperadoras que vivem os pais ao se deparar com uma sexualidade precoce vivenciada pelo seu filho?

Outro dia um avô me procurou em desespero depois que a neta de seis anos relatou que vira o tio dela manipulando uma arma e munições. Ele está viciado em drogas. O desespero do avô era por ter ido ao Conselho Tutelar para ver a possibilidade de retirar a neta deste ambiente com estímulos inadequados e saber que pouco ou nada poderia fazer. Dias depois ele me diz que o tal tio da neta está foragido após matar um rapaz e está prometendo matar outros dois, e ele anda freqüentando onde mora sua neta. O pai da menina, e filho dele, faleceu há alguns meses. A mãe da menina não tem coragem de não acolher o irmão assassino.

Skinner afirmou a relevância de pais ou os responsáveis pela educação como modelos de imitação para o comportamento de crianças. Atribuía essa importância ao próprio valor evolutivo da imitação: facilitar a aprendizagem. Se só pudéssemos descobrir o risco de ser atropelado pela experiência do atropelamento, não viveríamos muito tempo. Sua contribuição remete ainda ao que por vezes esquecemos: não educamos pelo que mandamos fazer, mas pelo que de fato fazemos em situações semelhantes.

Para seguir a discussão acerca do desafio que é educar hoje, trago um trecho da coluna do Doutor em Psicologia Clínica Contardo Calligaris, publicado no dia 22/04/2010 na Folha de São Paulo:

“A relação entre pais e filhos adolescentes pode ser uma tormenta -e, às vezes, um tormento. Essa tempestade se alimenta numa espécie de mal-entendido fundamental: 1) os adolescentes menosprezam a experiência dos adultos, 2) os adultos menosprezam a experiência dos adolescentes. Explico. 1) Para os adolescentes, em regra, os adultos (a começar pelos pais) são seres resignados (e talvez um pouco covardes), que desistiram de seus sonhos. A existência dos adultos sendo uma longa renúncia, entende-se que os entusiasmos e os sentimentos dos mesmos sejam quase sempre fingidos, inautênticos: uma encenação para um "ersatz" de vida.

Será que os adolescentes inventaram essa visão cruel e, de fato, sumária da experiência dos adultos? Nada disso: os adolescentes apenas acreditam em nossas próprias palavras. Como assim? Simples: estamos sempre prontos a salientar que a "época maravilhosa" que eles estão vivendo logo chegará ao fim e aí eles deverão se render à "triste realidade" (que seria a nossa), ou seja, eles conhecerão a desistência e o fracasso que seriam próprios da idade adulta.

Resultado: os adolescentes se surpreendem ou mesmo se revoltam quando um adulto, de repente, manifesta seu desejo. Um adolescente pode achar a mãe e o pai indignamente acomodados e chatos que nem zumbis vivendo numa sinistra rotina de deveres; o mesmo adolescente tacha de inconsequente e traidor do lar a mãe ou o pai que decide se separar para correr atrás de um amor. 2) Para os adultos, em regra, o adolescente é um ser provisório, inacabado: ele é apenas a promessa de um futuro no qual, enfim, ele viverá "de verdade".”

Trago mais um exemplo que mostra até onde os filhos podem levar essa disputa. Um jovem que saía de sua terceira internação por problemas com drogas foi recebido com um churrasco familiar regado a bebida alcoólica. Seja por não perceber o que faziam ou por cobrar uma abstinência que eles mesmos não são capazes de se impor, como esse jovem vai resistir ao prazer da droga enquanto seus próprios pais não ficam um único final de semana sem álcool? Uma das funções do comportamento de usar uma droga é ser visto ou mostrar um descontentamento.

Enquanto preparava esta palestra, refleti sobre as diferenças entre a minha adolescência e a dos jovens de hoje. Quando eu estudei na Escola Nova, era a época que vivíamos a imitação do modelo americano de vida. A década de 1990 trouxe para o interior o espírito da industrialização nos moldes americanos e uma repercussão para toda a cultura mocoquense. Tudo o que era fosforecente e importado daquele país era objeto desejado e aquele que o tinha antes dos outros ganhava status. Hoje a realidade é diferente. Não há mais um alvo de desejo e temos muitas tribos para escolher: os skatistas, os emos, os surfistas, os um pouco de cada, os nada disso tudo e por aí vai. Acontece que ao assumir uma dessas escolhas, permaneço insatisfeito pois ela não me representa inteiramente. Ou quando vejo um tênis bacana numa propaganda, consigo convencer que meus pais o comprem, mesmo que por 500 reais (o valor de um salário mínimo). Quando vou estrear o tal tênis, vejo que outros colegas têm tênis tão caros quanto o meu ou mais caros e trato de convencer meus pais a comprar mais um par. E enquanto olho para o que eu ainda não comprei, nunca me basto ou me satisfaço com o que já tenho no meu guarda roupa.

Para o convencimento, uso a infelicidade que envolve o trabalho ou o casamento dos meus pais e percebo que tocar sua fragilidade é uma arma para conseguir o que eu quero. Os pais que não tiveram tantas opções de escolha na vida dão, mas vivem a repetir que um dia seus filhos vão encarar a vida “de verdade” quando forem adultos. Uma guerra, bem descrita por Contardo, que culmina por frustrar os dois lados e, principalmente, afastar pais e filhos.

Este fogo cruzado aparece em uma prática que sempre aconteceu, mas que agora passa a ser pesquisada e sua ocorrência encarada nas escolas: o Bullying. O bulliyng é a hostilidade física e verbal por parte de colegas, que pode se manifestar por xingamentos, violência física, risadas e ameaças. As agressões acontecem sem motivo e, geralmente, envolvem preconceito por características físicas. Uma primeira pesquisa no Brasil sobre o assunto foi elaborada e realizada pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor – CEAT – divulgada em março de 20100, com 5.168 estudantes do país mostra que 59% das vítimas de ofensas e humilhações estão nessa faixa escolar da 5ª e 6ª séries.

No mundo virtual, onde as humilhações podem ser anônimas, a situação é ainda pior: o número de envolvidos com o bullying sobe para 31%, sendo que 17% foram vítimas. O bullying é um fenômeno que tem se manifestado de forma mais violenta também entre as meninas. A pesquisa mostra que 7,6% delas já praticaram bullying. Entre os meninos, o número é de 12%.

Um comportamento observado, sem muita dificuldade, por quem trabalha com crianças e adolescentes é que a vítima hoje tende a ser o agressor de amanhã. No meu trabalho com crianças e adolescentes atletas de basquete e natação permite constatar esses comportamentos: o ataque como defesa. O que é gordo ataca o que usa óculos. Este agride o que é muito magro, que pega no pé do que usa óculos. Esta agressividade se acentuando nos últimos anos é outro dado dessa pesquisa.

Há uma intolerância precoce que é evidenciada pela prática do bullying. Uma hipótese para explicar esse fenômeno é que a estimulação precoce que as crianças vêm sendo expostas desde que a sociedade abandonou o modelo de família de figura masculina provedora e feminina agregadora levou ao desenvolvimento de uma capacidade crítica que permite o questionamento da própria educação oferecida por estes pais. Nessa relação, os pais se sentem frágeis para enfrentar os problemas cotidianos e atacam outros modelos de família para validar o seu.

Vamos para exemplos práticos. O filho relata na mesa do almoço que um colega de sala estava com mal cheiro, um problema comum no início da adolescência. Um dos pais rebate: “Também, filho de quem é!”. Quantas vezes não tomamos conhecimento de uma ordem dos pais que proíbem seus filhos de andar com um colega de sala? Será que é esta proibição que evitará o uso do corpo quando ainda não há maturidade física e psicológica para o sexo? Será que essa proibição vai impedir o filho de usar uma droga?

Não só não impede como autoriza o intolerância as diferenças no sentido de que aquele adolescente chegará na escola no dia seguinte e comentará com um terceiro o mal cheiro do colega, colocando apelidos que a própria orientação de uso de desodorante não mais será o suficiente para acabar. Vamos além: se aquele colega de sala que usa droga é mais amigo dele do que você, mãe ou pai, a proibição terá o efeito oposto. Ele não se sente compreendido por você que agora quer que ele perca um amigo compreensivo, mesmo que esse amigo apresente comportamento que não questiono que seja de risco, o de vício na droga. Falta comunicação. Sobra incentivo para a mentira e para a intolerância e desrespeito ao problema do outro.

São 62 anos desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos que apregoava os valores morais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. O Estatuto da Criança e do Adolescente vigora desde 1990. Parece que sociedade caminhou pouco nesse sentido em tanto tempo, mas nunca é tarde para começar. De quem é a responsabilidade por esta realidade tão complexa e até desanimadora?

Antes de atribuir responsabilidades, trago mais um trecho publicado por Contardo Calligaris na mesma coluna, só que em 25/03/2010:

“‘Você não vai sair, hoje.’ ‘Ah, é? Vou sair, sim, seu babaca, e ainda pego sua grana.’ Um pai vigoroso enfrenta o filho; uma mãe tenta acorrentá-lo enquanto dorme. Em ambos os casos, a relação entre pais e filhos se transforma em luta de braço, e os pais se desesperam de ser pais. O que faz com que a gente reconheça a autoridade dos pais sem que ela tenha que se impor pela força? Respostas possíveis: a dívida com quem nos engendrou, o amor por quem nos amparou, o respeito pela experiência e pela suposta sabedoria dos mais velhos etc.

Agora, por que esses argumentos podem nos parecer estranhamente piegas? Simples: eles só fazem sentido num contexto social e cultural em que parecesse normal que condutas humanas não fossem orientadas nem por interesse nem pela coerção exercida pela força, mas por valores - ou seja, eles fazem sentido num mundo, por exemplo, em que a lei, para ser respeitada, não dependesse apenas da polícia. Esse não é bem nosso mundo.”

De quem é a responsabilidade, então?

É responsabilidade da sociedade e do poder público observar as falhas existentes no Estado como um todo para a educação, emprego e cidadania. Estes problemas nunca serão resolvidos com criação de ONGs que cumprem sua obrigação tampando buracos gerados por problemas estatais. Assistencialismo pode ajudar a diminuir as desigualdades, mas também não resolvem o problema. Os vestibulares de universidades públicas com provas cada vez mais exigentes tiveram repercussões perigosas para as escolas públicas e particulares. Para os alunos de escola pública a exclusão é notória e não será resolvida por um sistema de cotas raciais. Para os alunos de escolas particulares, vemos a apostilização do ensino fomentando ainda mais a competitividade e o desrespeito as diferenças. Alunos que terminam o ensino fundamental são pressionados a terem bons resultados nos famosos “vestibulinhos”. Passam os três anos do ensino médio com a pressão de alcançar escolas públicas a qualquer custo.

É responsabilidade da escola combater a prática do bullying com esforço direto em sala de aula, educando e trabalhando estes alunos psicologicamente. Não será a hora de aceitar a necessidade de um psicólogo escolar se os pedagogos estão sobrecarregados? Entretanto, não é responsabilidade da escola a exposição que os alunos têm fora de seu ambiente.

É responsabilidade dos pais e da família formar filhos capazes de enfrentar as dificuldades reais da vida. Quando os valores morais construídos pelas crianças em casa são contrários a liberdade, igualdade e amizade entre os seres humanos, o que pode ser feito em sala de aula fica muito restrito. Será que estamos fazendo a coisa certa?

-oOo-

Para terminar a palestra, tratei de um assunto que poderia ser uma sensação, um sentimento ou um pensamento experimentado por aqueles pais e professores presentes e por mim: Que susto, ele ou ela cresceu!

Fiz a leitura da crônica Sara e seus 10 anos. Se ainda não leu, caro leitor do Observatório, clique aqui.









sexta-feira, 7 de maio de 2010

Tanta Ternura - Oficina de Crônicas

Um bom escritor não se contenta apenas em escrever com freqüência. Investe em formação e lê com voracidade. Em qualquer área de trabalho, devemos buscar aprender com quem admiramos. Os atletas que trabalho admiram grande nadadores ou jogadores de basquete. O leitor do Observatório sabe o quanto gosto da escrita de Fabrício Carpinejar. Quando soube de sua oficina em São Paulo, não pude deixar de me inscrever. Abaixo informações do autor.


FABRÍCIO CARPINEJAR

Nasceu em 1972, na cidade de Caxias do Sul (RS), Fabrício Carpi Nejar, Carpinejar, é poeta, cronista, jornalista e professor, autor de treze livros, oito de poesia. Ao mesmo tempo em que seus poemas são recitados pela cantora Ana Carolina nas turnês "Dois Quartos" e "Nove", aparecem como questão de grande parte dos vestibulares do Rio Grande do Sul, como a UFRGS, a Unisc e a UCS.

Sua coletânea "Canalha!" (Bertrand Brasil) venceu o 51º Prêmio Jabuti/2009, um dos mais importantes do país, da Câmara Brasileira do Livro, na categoria Contos e Crônicas. Está lançando o primeiro livro no Brasil com frases do twitter, www.twitter.com/carpinejar/ (Bertrand Brasil, 2009), reunião de mais de 400 máximas e aforismos.

"Um terno de pássaros ao sul" (2000, 3ª edição, Bertrand Brasil) é objeto de referência nos The Book of the Year 2001 da Enciclopédia Britânica, o juvenil "Diário de um apaixonado: sintomas de um bem incurável" (Mercuryo Jovem, 2008) foi adotado pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), e o infantil "Filhote de Cruz-credo" (Girafinha, 2ª edição, 2006) inspirou peça de teatro, adaptada por Bob Bahlis.

Recebeu vários outros prêmios como o Erico Verissimo 2006, pelo conjunto da obra, pela Câmara Municipal de Vereadores de Porto Alegre; Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras; Cecília Meireles 2002, da União Brasileira de Escritores (UBE); duas vezes o Açorianos de Literatura, edições 2001 e 2002.

Participou de coletâneas no México, Colômbia, Índia, Estados Unidos, Itália, Austrália e Espanha. Em Portugal, a Quasi editou sua antologia Caixa de Sapatos (2005).

Atua como professor da Unisinos, no curso de Formação de Produtores e Músicos de Rock. Mantém oficinas de crônica e de poesia no Studio Clio. Desde outubro de 2005, escreve o Consultório Poético, que antes estava no site da revista Superinteressante e agora encontra-se no condomínio da Globo (Bloglog). É colunista da revista mensal Crescer, de São Paulo, e colaborador de jornais como Zero Hora e O Estado de São Paulo e de revistas como Caras, Cláudia e Cultura.

domingo, 2 de maio de 2010

Luzes da Cidade

"Luzes
Que iluminam noites da cidade
Asas
Da minha infinidade
Serão agora a verdade
Desse meu livre coração"
Trecho de Luzes, de Josias Damascendo e Mário Mammana,
interpretada na ressoante voz de Fabiana Cozza

sábado, 1 de maio de 2010

Escrever artigos

Weberson Santiago

Escrever um artigo (um texto acadêmico) para submeter a uma publicação conceituada é sempre um desafio. Na minha vida, o primeiro foi durante o terceiro ano da faculdade. Havia atendido um caso em dupla, demonstramos interesse e uma professora nos orientou a escrever o meu primeiro capítulo de livro na Coleção Sobre Comportamento e Cognição. O assunto foi autoconhecimento, e o livro saiu no quarto ano do curso.

O segundo desafio foi ano passado, quando minha orientadora de mestrado pediu que analisássemos nossos últimos quatro anos de pesquisa e finalizou um artigo especial, que sou co-autor. Comportamento Verbal e Persuasão foi o tema. E esta semana submeti o terceiro para apreciação e publicação nos próximos volumes do Sobre Comportamento e Cognição.

Escrever é uma gravidez que termina no parto. O tempo de gestar é muito trabalhoso, não há como fugir das horas na cadeira diante do computador. Pesquisa, leitura e escrita numa freqüência alta. Deve-se partir de autores importantes, mas ir adiante e manter uma linha de raciocínio, defender seu ponto de vista. Por isso, a maturidade de escrita vem da quantidade de conhecimento e habilidade com o tema. Quanto mais me comporto sob controle deste assunto, mais sou capaz de colocar em palavras o que compreendo dele.

Mas como na maternidade e na paternidade, sempre parece que o caçula é o mais bem feito de todos. Afinal, um bom pai ou uma boa mãe sempre aprendem com os erros cometidos nos primeiros. Além disso, vamos ficando melhores naquilo que fazemos proporcionalmente a quantidade de vezes que o viemos fazendo. É repensando que se faz analogias e comparações.

Este último artigo me é muito especial. Primeiro porque ele foi resultado de três anos de mesas redondas que participei nos encontros da ABPMC (o segundo maior encontro de analistas de comportamento do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos) discutindo obesidade mórbida e cirurgia bariátrica. Nestes encontros conheci muitos psicólogos que, como eu, trabalham e conhecem o assunto a fundo.

Resolvemos no ano passado submeter um artigo sobre o assunto neste ano, pois não havia na análise do comportamento um enfoque comportamental do comer em excesso presente na obesidade mórbida e dos efeitos comportamentais das cirurgias que promovem o emagrecimento. Foi uma aventura, trabalhamos e discutimos muito nossos pontos de vista. Só tocamos em aspectos que os três concordavam que era comum nos nossos pacientes, tentando manter a linha da generalização que é possível e de não se contaminar demais com sentimentos pessoais.

Não pense que o parto só tem o lado do nascimento para a vida, é também um momento de angústia se dará tudo certo e de extrema ansiedade para os três. É difícil definir que um texto está pronto para ser lançado para os leitores. Você pode olhar para algo no livro já impresso que gostaria de escrever de uma forma diferente e não dá mais. Quando há consenso, é bom sinal. Nós ficamos felizes com o resultado final, ficou um bom artigo.

Agora é esperar a aprovação. Na sessão de terapia da semana, queria acender um charuto com o terapeuta já que havia finalizado e enviado o artigo naquele dia. Mas este é um comportamento muito psicanalítico para um analista de comportamento. Então ontem fui comer uma pizza com uma boa companhia para brindar o nascimento do caçula.