Arte de Weberson Santiago
As lições que passamos estão nas
nossas atitudes no cotidiano. Somos sensíveis a adquirir habilidades por
imitação e vivemos a aprender pelo comportamento dos outros e a ensinar pela
maneira como nos comportamos diante dos demais. Aprender com um modelo
economiza tempo e algumas tentativas inúteis. O problema é quando o modelo se
comporta de forma inadequada.
Estava chegando para mais um dia de
aula na minha função como professor quando fui abordado por alguns alunos reclamando
sobre as faltas que eu os atribuíra. Enquanto eu calmamente procurava a razão
da divergência, uma meia dúzia de pessoas ao redor da mesa me pressionava e um
ou outro se revoltava dizendo que não havia faltado uma aula sequer e o sistema
acusava algumas faltas.
Peguei as listas de chamada para me
defender e comecei a argumentar. Neste meio tempo, alguns alunos visitantes,
aqueles que de vez em nunca aparecem na aula, aproveitaram a polêmica para
fazer pressão e ver se abonavam algumas ausências.
O circo estava armado e eu estava
no centro do picadeiro. Enquanto procurava o erro, me senti como o equilibrista
que cai da corda no meio do espetáculo. Diante da pressão de quem havia sido
injustiçado pela falta mediante todo um esforço para manter a presença, me
senti como o elefante diante de seu domador. Lento em busca da solução enquanto
alguém me exigia agilidade. Quando vi alguma atitude oportunista em busca de
vantagem em meio à polêmica, achei que tinha vestido o adorno vermelho no nariz
e fazia parte da trupe dos palhaços.
Já tinha dito que revisaria a lista
e a quantidade de faltas atribuídas quando perdi a paciência. Considerei o
interrogatório exagerado, a impaciência e as acusações contraprodutivas para a
solução do problema. Disse que se não estávamos conseguindo funcionar com a
lista de chamadas devido ao barulho, deveríamos apelar para uma lista de assinaturas.
Minha irritação ficou evidente, o que me deixou extremamente incomodado.
Poderia ter contornado a situação sem ter perdido a calma, mesmo que a impaciência
tenha durado apenas alguns minutos depois de ter começado meu discurso na aula.
Ao final da exposição teórica, os
alunos vieram ver qual era sua situação. E, enquanto revisava as quantidades
com mais calma acabei descobrindo o motivo da confusão. Achei! – disse. No dia
seguinte fiz as correções e expliquei o que acontecera na próxima aula.
Não estou isento de errar. Neste
caso, a probabilidade até é alta. Basta pular uma linha e eu terei cometido uma
injustiça com todo o restante dos alunos listados. Mas o que me deixou aborrecido
foi a minha perda de controle.
Como não posso voltas atrás e
evitar os erros das faltas, usando o duplo sentido desta frase para a ausência
atribuída aos alunos presentes e a minha paciência perdida, espero que eles
tenham aprendido com o fato de eu ter reconhecido que errei e espero que cada
um tenha pensado em como contribuiu para que uma situação simples possa ter se
tornado algo tão complicado. Terei de me contentar em possivelmente ser visto
como um ser humano como qualquer outro, que se irrita de vez em quando.
Ser professor universitário é, em
primeiro lugar, se sentir à vontade diante de um grupo de pessoas das mais
diferentes. É acreditar que você tem repertório para informar, mas que ao mesmo
tempo não sabe tudo. Ser professor universitário é aceitar a exposição para
promover a reflexão. Ser professor universitário é ensinar e ao mesmo tempo
manter em si um pouco de aluno, para aprender com as situações que só este tipo
de interação é capaz de proporcionar. Ser professor universitário é usar todas
as faculdades do pensamento para promover a graduação nos sentimentos.
| Ensinamos mais pelo que
fazemos em determinadas situações do que pelo que pedimos, mandamos ou
recomendamos fazer em tais situações.
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Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria
Publicado no Caderno Cultura, p. 3, 08/10/2011, Edição Nº 1168.
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