“O Augusto é coxinha”. Já tinha
ouvido por aí alguns caras serem chamados de coxinha, mas foi quando o meu nome
foi associado ao salgado que resolvi investigar a fundo o que é um homem
coxinha.
Depois de muita investigação e leitura pude concluir que o coxinha é um
mauricinho-versão-atualizada. O coxinha é um cara tão certinho que irrita. É um
almofadinha que se preocupa com sua imagem e com o que os outros pensam dele. O
coxinha é vaidoso, mantem o cabelo sempre impecável. Evita qualquer atividade
que desmanche o seu topete. Não frequenta qualquer ambiente e não se mistura
muito, mas quer que os outros pensem que ele é descolado e que é popular entre
seu seleto grupo de amigos.
O coxinha não se arrisca, não ousa. Prefere tudo no seu lugar. Desde a
camisa pólo por dentro da bermuda bege até a foto de família-tradicional-feliz.
O coxinha é o orgulho dos pais: nunca repetiu de ano, sempre soube dividir o
tempo entre o namoro e os estudos para o vestibular e por isso entrou cedo na
faculdade. Casou logo, já que o coxinha é o sinônimo da estabilidade futura no
mercado das solteiras.
Alguns blogueiros teóricos, dedicados a chegar ao perfil exato e
definitivo do coxinha, defendem que eles estão por todas as partes, em diversas
profissões, grupos e classes sociais. Eu fiquei confuso com a divergência entre
as definições, porque o coxinha pode ser muita coisa. Pode-se ser chamado de
coxinha quando discute futebol, quando dá opinião sobre política ou até se for
falar de amor. O cara te incomodou? Chama de coxinha.
Quando ouvi esse papo de coxinha, confesso que me pareceu engraçado. Mas
quando fui pensar a respeito da comparação, achei injusto um salgado gostoso
ser equiparado a tantas características sem graça. O que o salgado dourado e
crocante, recheado de frango e catupiry tem a ver com todos esses tipos de comparação
pejorativa? O que está por trás desta injustiça com a coxinha, caro leitor?
Recentemente a coxinha ganhou sobrenome gourmet em versões variadas de
recheios e massas. Tem até coxinha de pato. Versão de sobremesa com massa de
brigadeiro e recheio de morango. Acredito que se trata de um complô dos outros
salgados, invejosos do status que a coxinha conseguiu alcançar nos últimos
tempos. Cidades tornaram-se ponto turístico por venderem coxinhas. A coxinha
está sendo boicotada em seu momento mais glorioso.
Defendo a igualdade entre os salgados. Ou a coxinha deixa de ser
xingamento ou todos os salgados devem ser usados para a difamação.
Se você não concorda com a minha teoria, não adianta me chamar de
coxinha. Você pode se enquadrar no que eu chamo de rissoles: aquele tipo de
pessoa que quando você espreme (pressiona), o recheio pula pra fora (não dá
conta). Pode ser que você seja um quibe: o que o vernáculo das gírias outrora
denominou de cagão (medroso). Pode ser ainda que você se enquadre no perfil do
empadinha: parece alguém de gosto requintado e elegante, mas que quando você
chega perto percebe que é gorduroso e o recheio é popular. Afinal, a tampinha
sempre esconde o recheio de frango ralado, palmito e azeitona.
| Se
você for chamado de coxinha não questione. Um
coxinha nunca aceita que é coxinha.
|
Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, capa do caderno Dois, 29/11/2014, Edição Nº 1333.