sábado, 24 de março de 2018

Não se Sabe Mais Trabalhar em Grupo

Arte de Weberson Santiago



Sou professor no ensino superior em cursos de Psicologia e também atuo no ensino médio em dois colégios como orientador vocacional e com educação socioemocional. Durante o exercício destas ocupações, andei incomodado com uma questão: cada vez mais os estudantes têm dificuldade de trabalhar em grupo.

Embora eu me dedique a criar um ambiente colaborativo, de respeito e união, utilizando de diferentes estratégias e recursos, em diversas situações identifico muita dificuldade de funcionar assim nos alunos com os quais trabalho. Acabo tendo que relembrar da importância do grupo em diversos momentos do trabalho desenvolvido e, o mais importante, ensinar como é agir pensando no grupo. Não que não haja desenvolvimento, não que eu não observe progressos durante o trabalho, mas é o excesso de dificuldade que me gera incomodo.

Qualquer professor que passe um trabalho em grupo, verá que os alunos não mais se reúnem, e sim dividem o trabalho em partes e cada um faz a sua, juntando as partes no final. O trabalho acaba parecendo um Frankenstein, já que cada parte é feita de um jeito e não há unidade nem harmonia entre as partes.

Isso não é fazer um trabalho em grupo, e sim entregar um trabalho com vários nomes. Fazer um trabalho em grupo é trabalhar em equipe: se unir em torno do mesmo objetivo, se reunir para levantar ideias, superar conflitos de divergência para poder avançar, se engajar na busca de materiais, produzir o trabalho em conjunto e obter um resultado com ele que, se for bem-sucedido, fortalece todos os comportamentos de trabalhar em grupo.

Quando o trabalho não é feito em partes, um ou dois membros do grupo fazem o trabalho inteiro, enquanto os demais não fazem nada. Às vezes, quem faz não reclama e quem não faz não sente a menor vergonha de não ter feito.

A vida é tão repleta de obrigações, pressão e problemas que, quando estamos em um grupo, acabamos nos comportando sob efeito das emoções que essas situações nos geram: ou me isolo e fico indiferente ao grupo ou então agrido com grosserias ou com brincadeiras que incomodam o outro e aliviam meus desconfortos emocionais. Raras são as pessoas que conseguem manter o equilíbrio, a gentileza e a doçura em tempos difíceis como esse em que vivemos.

Fomos perdendo a capacidade de colaboração e promovendo o individualismo. Os prejuízos de funcionar assim na sociedade já são visíveis. Muita divisão entre posições opostas, que nunca se propõem a ceder e a chegar em um consenso. A união não está presente nem naqueles que compartilham a mesma posição, que acabam criando conflitos entre si. E enquanto a gente se distrai discutindo entre si, o que está errado na sociedade não muda, permanece.

Eu não vejo outra saída para nossos problemas que não através da união e da colaboração. Eu estou fazendo o máximo que posso na formação dos adolescentes e universitários alcançados pelo meu trabalho para ensiná-los a importância e como se comportar em grupos. E você, o que pode fazer para mudarmos essa situação?

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Compartilhar objetivos, ter companhias nos caminhos e comemorar conquistas coletivas é muito mais gostoso do que fazer tudo sozinho.


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 24/03/2018, Edição Nº 1504.

sábado, 10 de março de 2018

A Criatividade é Filha da Atividade

Arte da Stephanie, a vendedora de faixas.




Há alguns dias assistia a um programa da televisão aberta que contava a história de uma moça que sacou o seu salário e foi assaltada, perdendo todo o dinheiro disponível, cerca de R$ 2.500 reais, para pagar suas despesas. Ela reconheceu que a frustração tomou conta naquele dia. Sua mãe lhe disse que ela não devia reclamar porque tinha os braços e as pernas e era jovem para batalhar por mais dinheiro. O pai disse que dinheiro vai e vem, e que isso faz parte da vida.

Com as contas a pagar, a única alternativa que veio à sua cabeça no dia seguinte, ao olhar no espelho e ver a faixa de cabelo que sempre elogiavam quando ela usava, foi investir os R$ 100 que sobraram para fazer faixas e lenços de cabelo para vender e, assim, conseguir pagar suas contas.

O que seria um plano de salvamento para sua vida financeira se tornou uma segunda fonte de renda e, atualmente, seu principal trabalho. Ao invés de se lamentar e esperar uma resolução mágica, ela buscou um outro caminho. De um episódio desagradável, ela encontrou um caminho de realização.

Neste mesmo programa, outro entrevistado foi o ator João Vitti, que deu um depoimento contando que quando seus filhos eram pequenos, ao passar por dificuldades financeiras devido à ausência de trabalho, começou a fazer pães artesanais para vender. Foram investidos R$ 4 reais, na época, para a primeira fornada.

Começou oferecendo aos amigos e vizinhos, então a propaganda boca a boca fez as vendas aumentarem e, meses depois, entregava 600 pães para restaurantes paulistanos. Quando seu filho Rafael era adolescente, vivia pedindo R$ 50 reais para sair com os amigos. Incomodado com a facilidade com que o filho repetia o pedido durante um único fim de semana, João ensinou Rafael a fazer pães para conseguir seu próprio dinheiro, e entender qual é o custo do trabalho que lhe daria acesso ao lazer. Rafael contou que ele conseguiu ganhar R$ 1.000 reais inicialmente com os pães, o que para ele era uma fortuna.

As duas histórias contam como a privação incentiva a criatividade. Mais do que isso, que diante de um problema, de nada adianta ficar parado e lamentar. Ilustram que a resolução do problema é encontrada com um comportamento ativo na direção da solução.

Os exemplos dados no programa mostram que uma situação desagradável esconde uma oportunidade de reinvenção e aprimoramento. Que soluções estão sempre disponíveis, mas que é preciso de flexibilidade comportamental para encontra-las e produzi-las.

Perdeu ou está sem dinheiro? Comece o dia pondo uma faixa colorida no cabelo, faça uma receita de pão caseiro e saia por aí.

  UM CAFÉ E A CONTA!
| Tem um problema? Ponha sua criatividade para trabalhar!


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 10/03/2018, Edição Nº 1502.