Festa de Casamento. Balcão de drinks. Defronte à pista de dança, vazia enquanto os convidados comiam à mesa. Peço uma caipirinha e observo três mulheres. Uma mais velha, uma mais nova e uma criança. A mais nova e a criança dançavam. A mais velha, com semblante de felicidade, se aproxima do balcão com passos de dança. Sorrio como quem também estava contente com o evento. Ela então aproveita a deixa e pergunta:
- Você é irmão da noiva?
- Não, sou primo dela.
- É que eu vi você de padrinho na cerimônia – realizada há pouco no gramado do jardim.
- Eu sou a mãe preta do noivo – diz ela com orgulho.
- Ah, muito prazer! Quer dizer que a senhora cuidou dele desde pequeno?
- Sim, nós moramos no sítio da família há muitos anos. Os meninos iam lá desde criança e vão até hoje. Nós gostamos muito da sua prima, que menina boa, doce, meiga.
- Ela é mesmo, eu estou muito feliz com essa festa hoje, pois todos nós gostamos do noivo também. Cuide bem dela quando ela estiver por lá com vocês.
- Pode deixar!
- Foi um prazer lhe conhecer!
Foi ao me despedir dela que me lembrei da Cida, que cuidou dos meus irmãos e de mim quando crianças. Muitas e muitas vezes dormíamos na casa dela, era tudo uma aventura. Seu afeto era tanto, que vivia a pensar em nós, mesmo quando longe. Sua filha é alguns anos mais velha do que eu, que sou o mais velho dos meus irmãos. Certo dia de nossa infância, numa discussão de mãe e filha, a última disse: “Você só fala nesses filhos brancos, tudo é pra eles!”.
E era assim que ela se referia a nós. O carinho ainda é muito grande, de chorar quando se depara com nossos feitos profissionais ou simplesmente quando nos vê adultos. Felizes dos filhos brancos de mães pretas.
A.A.N.
Outubro de 2009