sábado, 14 de setembro de 2013

Recomendações para Usuários do Facebook

Arte de Weberson Santiago


Existem dois comportamentos básicos dos usuários do facebook: o acompanhar o que os outros postam e o comportamento de postar alguma informação.

O primeiro é mantido pelo que descobrimos a respeito dos outros vasculhando o que ele faz ou fez.

O segundo é mantido principalmente pelas curtidas que uma atualização rende, embora possa ser mantido também pela simples função de nos livrarmos de algo que está incomodando, como um desabafo.

Quem me adicionar no facebook verá que eu não tenho vergonha de ser quem eu sou e que sou um tanto quanto exibido.

Não tenho o menor pudor de expor meus sentimentos, como o meu amor pela Natália. Publico bilhetes, cartões, declarações de amor. Posto momentos de intimidades gastronômicas, quando estou cozinhando ou jantando um prato diferente em um restaurante.

Eu não sei mais o que é viver sem me expor, nem começo direito a viver alguma coisa e já estou contando pra todo mundo o que aconteceu.

Me verá no facebook divulgando aquilo que eu produzi que pode agregar alguma coisa a quem escolhe me acompanhar: meus versos em forma de poesia, as crônicas que escrevo, algum texto bacana que li, alguma notícia de jornal que possa interessar aos meus amigos ou alunos, os lugares bonitos que eu visitei, uma coisa diferente que comi.

Mas existe uma lista de coisas que eu me recuso a fazer.

Não me verá levando problemas de relacionamento interpessoal para a rede social. Quem lamenta a decepção com uma pessoa quer buscar a atenção de outra para compensar o distanciamento da primeira.

Não me verá compartilhando foto de pessoas doentes, com deformações no corpo. É mentira que o facebook dará alguns centavos pelo seu compartilhamento, apenas usam seu sentimento para que você compartilhe e a imagem atinja mais pessoas.

O que é fora do padrão chama a atenção. Perceber que não sofremos daquilo que está estampado na imagem não nos torna melhores. Não promovo o sentimento de dó ou piedade. Prefiro compartilhar a informação que promove o desenvolvimento, a autonomia ou a história de quem ignora as limitações impostas.

Não me verá vomitando sentimentos negativos resultantes da minha rotina. Não me permito reclamar de cansaço, esbravejar angústias, transformar o medo em raiva e atacar algo ou alguém. Não é porque eu não tenho em mim este tipo de sentimento, mas porque não cabe ao outro lidar com o que há de pior em mim.

Não me verá brincando de seduzir nas redes sociais. Não apenas porque eu sou casado, mas porque brincar com as emoções é perigoso. Eu não abro a porta do envolvimento para não ter que lidar com a confusão mais adiante. Não é só uma questão de princípios, mas uma vasta noção de consequências.

Na teoria é simples. Quem não quer se expor que se esconda. Quem não gosta do que compartilho que deixe de receber minhas atualizações, o que pode ser feito sem desfazer a amizade e sem que eu saiba que você fez isso.

Na prática, sonegamos a parte mais comum de nossa vida e exibimos o que achamos mais interessante, ao mesmo tempo em que nos satisfazemos assistindo a vida dos outros.

UM CAFÉ E A CONTA!
| Como é seu uso, qual é o seu abuso e do que você é dependente na internet?

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, contracapa (p. 2) do primeiro caderno, 21/08/2013, Edição Nº 1268.