Fui
levar meu carro para mais uma revisão na concessionária mais próxima, em
Ribeirão Preto. Acompanhado da Natália e da Anelise, tínhamos um dia inteiro
para passear com apenas um inconveniente: sem carro. Driblamos o inconveniente
com ônibus e táxi.
Depois
de tomar café na padaria, seguimos para o shopping e mais tarde fomos pra Bela
Sicília, uma tradicional cantina italiana com preço bacana. Come-se os
antepastos e saladas a vontade, escolhe-se qualquer uma massa do cardápio, que
vem em porção generosa. A caçarola e os doces em calda estão incluídos em
módicos R$29,90.
Empanzinados
de tanto “mangia che te fa bene” e não satisfeitos em deixar o resto da massa
para trás, mandamos embrulhar. Todo mundo queria comer o macarrão depois, mas
ninguém queria carregar a marmita. A Anelise que tinha gostado do pãozinho
fresco e comentou com o dono quando ele perguntou se ela tinha gostado da
comida, ganhou três em um embrulho e já tinha o que carregar. Tiramos no palito
e a Natália saiu perdendo.
E saímos
nós, quase rolando, em direção ao shopping. Dez minutos de caminhada que
pareceram trinta. Chegando lá, sugeri que procurássemos aqueles sofás para dar
uma descansada. Gostaria de cumprimentar pessoalmente a pessoa que teve a ideia
de por sofá no corredor do shopping. Haviam quatro poltronas, duas em cada
extremidade do corredor. Esperamos vagar e a Natália e eu ficamos de lados
opostos. A marmita de macarrão foi colocada em uma mesinha ao lado da poltrona
que a Natália ocupava.
Começou
a me bater um banzo de toda a comilança, quando vesti os óculos escuros e
comecei a cochilar. Natália começou a sentir o frio do ar condicionado e pegou
o lenço do pescoço e colocou na cabeça, como fazem as muçulmanas. Anelise não
sossegava e reclamava do momento de descanso, queria passear, até que me
acordou do cochilo. Devido à distância, comecei a conversar com a Natália pelo WhatsApp.
Reclamei da interrupção do meu sono e propus brincar com a Ane. Nos
levantaríamos sem falar nada e iríamos cada um pra um lado, para ver a reação
da pequena, que reclamava que estávamos sentados. Após uma contagem regressiva,
o fizemos. Anelise levantou e foi atrás da mãe. Eu dei a volta e as encontrei
na porta da Tok&Stok.
Demoramos
entre vinte e trintas minutos para percorrer o corredor da loja. Quando saímos,
nos deparamos com uma cena surpreendente. Três seguranças haviam cercado a
nossa esquecida marmita de alumínio,
embrulhada em papel jornal. O primeiro segurança que passou, estranhou o
embrulho sem dono. Pelo rádio, pediu que a central de segurança olhasse nas
gravações. De trás pra frente, viram que uma mulher de meia burca havia deixado
o embrulho, levantado de repente e o deixado lá. Dois seguranças tinham sido
deslocados para isolar a área, já que em tempos de atendados terroristas, a
marmita poderia estar recheada de explosivos.
Anelise logo
percebeu a confusão e não hesitou, furando o cerco de seguranças: “Mãe! Pai!
Esquecemos nossa comida!”. “Isso é de vocês?”, perguntou um deles, talvez
pensando que ela era uma desativadora de bombas em forma de marmita,
especialmente treinada pelo FBI.
“É o
resto do nosso almoço”, respondi, fazendo-o respirar aliviado.
Saindo
da cantina e com essa cara de descendente de italiano, eu aceito ser confundido
com mafioso, mas com terrorista, aí já é demais.
| Se a inspiração do autor é o cotidiano, algumas passagens parecem
coisa de cinema ou de novela.
|