sábado, 13 de março de 2010

Ombros, Ombreiras e Corcundas

O ombro é o parapeito do nosso tronco. Nele podemos colocar um vaso de plantas, um papagaio, um monte de problemas e até a cueca ou a calcinha pra secar.

Há quem esconda seus ombros nas blusas, quem mostre um deles como charme e quem exponha os dois a ponto de que se pense “tomara que caia”.

Esta parte importante que sustenta nossos membros superiores pode ganhar graça com um cachecol, pachimina, estola ou com as famosas ombreiras.

As ombreiras foram usadas para demonstrar força hierárquica pelos homens de diferentes grupos políticos durante meados do século passado e teve seu auge com as mulheres nos anos 80, como acessório emblemático do movimento feminista.

Hoje se sabe que o tamanho das ombreiras não é o que determina o poder exercido pela pessoa. Apesar de que há quem ainda tente esse uso. Dentre tantas tentativas, saiu de moda simplesmente por não garantir sequer respeito.

No relacionamento interpessoal, fica difícil quando o vizinho não percebe, na divisão dos muros, onde termina a propriedade de um e começa a do outro, como se os ombros fossem colados. Então, constato que os fardos estão no meu parapeito, e o pior, que os carrego há certo tempo.

Se tem algo que respeito, esse algo é a corcunda. A corcunda é uma configuração de ombro distorcida chamada pelos cientistas de cifose. Em primeiro lugar, meu respeito se dá por observar que ela é fruto da experiência de vida. Em segundo lugar, porque ao contrário da barriga, a corcunda não impede.

Hoje vi uma senhora de corcunda carregando compras a passos largos, com um semblante feliz. Em outros tempos de caminhada, cruzava diariamente com um casal de velhos com corcovas e que cumpriam o trajeto religiosamente.

A corcunda diminui a visão do horizonte, o que passa a exigir um esforço maior. Mas é ela quem obriga o olhar para o chão, para as sutilezas do caminho. Talvez esteja aí a beleza: construímos nossas corcundas olhando para o futuro e o nosso corpo nos obriga com a idade a olhar mais para o presente.

Se a ombreira voltar à moda, será para uma nova funcionalidade, mais útil que a de outrora. Então, colocarei um metro de cada lado. E quando ficar velho usarei minha corcunda como prateleira.







Para Ângelo Missura Neto.

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