segunda-feira, 27 de abril de 2009

Tudo Tanto o Tempo Todo

Então, no fim da tarde ia para casa no ônibus da linha. Pensativo e desgastado com o episódio ocorrido há algumas horas. Era um almoço de trabalho com uma mulher de meia idade. Poderia ser uma parceira em negócios promissores. Fez pesquisas e os resultados apontavam para uma alta probabilidade de prosperidade. Consumidores potenciais mesmo em um momento de crise. Todavia, no almoço em que fecharia a parceria, pulou sobre a mulher para sentir seu cheiro e tudo foi por água abaixo.

E não era a primeira vez que isso acontecia. Durante a infância, foi levado muitas vezes a diretoria da escola, advertido e até suspenso. Quando entrava um novo colega, tinha que cheirá-lo para definir uma aproximação. Certa vez, durante excursão a um museu, tocou uma tela muito antiga para sentir o cheiro da tinta e gerou uma situação vexatória.

Após a adolescência, perdera a namorada no primeiro jantar romântico. Ela tolerou quando ele cheirou o prato de comida, mas não deu conta quando ele levou o nariz em direção a sobremesa. Percebeu que aquilo seria recorrente. Compreendeu porque ele tanto a beijava no pescoço. Isto ela gostava, mas só disto.

Na juventude foi questionado por um amigo: “Pra quê enfiar o nariz em tudo?”. E respondeu: “É a única coisa que eu faço em excesso. Diferente de você, que quer tanto de tudo o tempo todo.”

Sentia vergonha, mas precisava usar o olfato.

A.A.N.

Abril/2009

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Dedico esta crônica ao Caio, meu irmão.

Um comentário:

Augusto Amato Junior disse...

E aí Caio?
Anda ainda nessa de olfato nos pratos de alface?