sábado, 12 de novembro de 2011

Entre o Conforto e o Bom Gosto

Arte de Weberson Santiago


O conforto é a desculpa mais usada para justificar o mal gosto ao se vestir. Se a roupa não nos cai bem, explicamos seu uso pelo conforto que sentimos ao usá-la.

Não interessa que está largo demais, que engorda na barriga, que escolhemos um número menor na esperança que o corpo encolha para caber a peça ao invés do pano esticar para cobrir o corpo. Sem falar na estampa, que muitas vezes cairia bem em uma parede ou em um objeto, mas não na vestimenta. A estampa faz gritar o defeito.

Deve existir roupa confortável com bom caimento para todo mundo, para todos os gostos, para todos os manequins e até para todos os bolsos. Dizem que gosto não se discute, mas não podemos negar que o mal gosto é assunto que não escapa aos olhos e não fica guardado na boca.

Eu tenho um sério problema em me desfazer das roupas que eu acumulo no meu guarda-roupa. Até aquelas que não tem mais ocasião para usar fica difícil de desfazer, passar adiante, doar. Tenho até hoje a camisa da minha formatura de oitava série e uso para trabalhar. Queria que ela durasse até a aposentadoria, mas não sei se ela aguenta. Outro dia a gola começou a rasgar na costura. Em vez de me desfazer da camisa, mandei a costureira recorsutar a gola do lado do avesso.

O fato é que a roupa parece que fica mais gostosa de usar conforme vai ficando mais velha. Eu não disse que a desculpa pro mau gosto é o conforto? De repente, me pego saindo para trabalhar com a gola desbeiçada, com a meia furada ou com uma peça desbotada. O motivo? A melhor acomodação.

Tem um item de vestuário que eu considero de estimação e que eu uso para dormir todos os dias. É uma camiseta de propaganda de vereador. Aquela eu não pretendo abrir mão e vai servir de pijama até esfarelar. O candidato perdeu a eleição, desistiu da vida política e seu número desbotado estampa meu peito nas noites bem e mal dormidas.

Entre os homens, há quem terceirize a tarefa de comprar roupa para a mãe ou pra esposa. Existe uma certa impaciência na hora de escolher entre a grande quantidade de opções empilhadas nas prateleiras das lojas. Para o macho, a pior invenção são aquelas famosas lojas de roupas para toda a família. O preço pode até ser convidativo, mas o custo de uma única ida é que é difícil de bancar. Ele precisa comprar uma calça e ela vai acompanhar. Resultado: ele não encontrou nenhuma que goste e volta sem a calça. Ela achou uma meia dúzia de peças para si mesma e mais algumas em liquidação para os filhos.

Há quem goste muito de sair pra comprar roupa e de estar sempre dentro da última moda. Tem quem sempre prefere o tradicional. A esposa do Lucas fica brava com ele porque toda vez que ele trás uma peça nova escolhe nas cores azul e cinza. Ela diz que ele troca de roupa todo dia, mas parece que usou e mesma camisa durante toda a semana.Meu amigo Álvaro só usa camiseta polo. Para ele, elas são perfeitas para o trabalho e o lazer, ficam entre o social e o esportivo.Ele tem de todas as cores, com e sem listras.

Homem que é homem se gaba de manter em uma zona de segurança entre o conforto e o bom gosto, tentando fugir de qualquer dúvida sobre a sua masculinidade pela escolha da indumentária. Homem que é homem faz questão de rejeitar o decote em V ou uma calça agarradinha. Diz não para o xadrez na calça ou na camisa ainda que seja a última moda, e só aceita este tipo de estampa na cueca samba-canção.

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Vestir-se bem é disfarçar o defeito e destacar a qualidade do corpo, sem deixar de lado o conforto.



Publicado no Jornal Democratacoluna Crônicas de Padaria

Publicado na capa do Caderno Cultura, 12/11/2011, Edição Nº 1173.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tenho duas ou três peças mais velhas que eu no meu guarda-roupas. minha mulher já sabe: não deve jogar fora... e é verdade: são super confortáveis...