Arte de Weberson Santiago |
O conforto é a desculpa mais usada para justificar o mal
gosto ao se vestir. Se a roupa não nos cai bem, explicamos seu uso pelo
conforto que sentimos ao usá-la.
Não interessa que está largo demais, que engorda na barriga,
que escolhemos um número menor na esperança que o corpo encolha para caber a
peça ao invés do pano esticar para cobrir o corpo. Sem falar na estampa, que
muitas vezes cairia bem em uma parede ou em um objeto, mas não na vestimenta. A
estampa faz gritar o defeito.
Deve existir roupa confortável com bom caimento para todo
mundo, para todos os gostos, para todos os manequins e até para todos os
bolsos. Dizem que gosto não se discute, mas não podemos negar que o mal gosto é
assunto que não escapa aos olhos e não fica guardado na boca.
Eu tenho um sério problema em me desfazer das roupas que eu
acumulo no meu guarda-roupa. Até aquelas que não tem mais ocasião para usar
fica difícil de desfazer, passar adiante, doar. Tenho até hoje a camisa da
minha formatura de oitava série e uso para trabalhar. Queria que ela durasse
até a aposentadoria, mas não sei se ela aguenta. Outro dia a gola começou a
rasgar na costura. Em vez de me desfazer da camisa, mandei a costureira
recorsutar a gola do lado do avesso.
O fato é que a roupa parece que fica mais gostosa de usar
conforme vai ficando mais velha. Eu não disse que a desculpa pro mau gosto é o
conforto? De repente, me pego saindo para trabalhar com a gola desbeiçada, com
a meia furada ou com uma peça desbotada. O motivo? A melhor acomodação.
Tem um item de vestuário que eu considero de estimação e que
eu uso para dormir todos os dias. É uma camiseta de propaganda de vereador.
Aquela eu não pretendo abrir mão e vai servir de pijama até esfarelar. O
candidato perdeu a eleição, desistiu da vida política e seu número desbotado
estampa meu peito nas noites bem e mal dormidas.
Entre os homens, há quem terceirize a tarefa de comprar roupa
para a mãe ou pra esposa. Existe uma certa impaciência na hora de escolher
entre a grande quantidade de opções empilhadas nas prateleiras das lojas. Para
o macho, a pior invenção são aquelas famosas lojas de roupas para toda a
família. O preço pode até ser convidativo, mas o custo de uma única ida é que é
difícil de bancar. Ele precisa comprar uma calça e ela vai acompanhar.
Resultado: ele não encontrou nenhuma que goste e volta sem a calça. Ela achou
uma meia dúzia de peças para si mesma e mais algumas em liquidação para os
filhos.
Há quem goste muito de sair pra comprar roupa e de estar sempre
dentro da última moda. Tem quem sempre prefere o tradicional. A esposa do Lucas
fica brava com ele porque toda vez que ele trás uma peça nova escolhe nas cores
azul e cinza. Ela diz que ele troca de roupa todo dia, mas parece que usou e
mesma camisa durante toda a semana.Meu amigo Álvaro só usa camiseta polo. Para
ele, elas são perfeitas para o trabalho e o lazer, ficam entre o social e o
esportivo.Ele tem de todas as cores, com e sem listras.
Homem que é homem se gaba de manter em uma zona de segurança entre
o conforto e o bom gosto, tentando fugir de qualquer dúvida sobre a sua
masculinidade pela escolha da indumentária. Homem que é homem faz questão de
rejeitar o decote em V ou uma calça agarradinha. Diz não para o xadrez na calça
ou na camisa ainda que seja a última moda, e só aceita este tipo de estampa na
cueca samba-canção.
| Vestir-se bem é disfarçar o
defeito e destacar a qualidade do corpo, sem deixar de lado o conforto.
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Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria
Publicado na capa do Caderno Cultura, 12/11/2011, Edição Nº 1173.
Um comentário:
Tenho duas ou três peças mais velhas que eu no meu guarda-roupas. minha mulher já sabe: não deve jogar fora... e é verdade: são super confortáveis...
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