domingo, 8 de agosto de 2010

Indeterminação do Amor

"O amor vai e vem pelo ar
É o afago da areia com o mar
Brilhar como estrela e luar
Os amantes desejam um lugar no infinito"

Samba de Wanderley Monteiro e Luiz Carlos Máximo

Estava num lançamento dia destes, conversando, quando fui apresentado a ela por uma amiga em comum. De repente, as duas começam a fazer sinais uma para a outra e todos da roda olham com estranhamento. Ficou inevitável uma explicação. Era a ex-namorada do marido dela que passava perto de onde estávamos.

Aproveitando da ocasião e de todos os olhares que se voltaram, contou toda a epopéia do relacionamento. Haviam se casado há quinze anos, uma relação cheia de tribulações, já que vez por outra o marido sumia. Voltava apenas no dia seguinte. Aquela velha história de farra, amigos e bar, não necessariamente nessa ordem. Ela passava as noites em claro, esperando a volta, cansada da repetição do acontecimento.

Nessas horas de aflição, nunca lançamos mão de recorrer a um bom amigo ou parente, quem estiver mais perto. E era justamente o que ela fazia. Porém, com o passar do tempo, amigas e familiares começaram a questionar sua tolerância com a situação problemática repetitiva. Cansada da situação, tomou uma atitude. Na próxima vez que o marido saiu, ficou esperando sua volta e não se segurou. Deu-lhe uma surra como nunca havia dado, nem visto darem nos tempos em que um tapa corretivo na criança ainda era permitido.

Com as malas prontas, uma frasqueira de coragem e um nécessaire cheio maquiagens para esconder olhos inchados ela o deixou. Estava decidida a refazer a vida depois de onze anos de casamento. E eles não se falaram mais. Tempos depois, ele começou a namorar a mulher que passou ao nosso lado. E ela também estava namorando, mas as relações não deram certo.

Então, ela começou a sentir coisas estranhas. Faziam mais de três anos que não se viam ou falavam e ela passou a sonhar com ele. Nessa hora, ela percebeu que não poderia dividir com ninguém aquele sentimento, perderia qualquer amiga se falasse com ternura o nome dele. O menor sinal de saudade seria conflito na família. Até que uma tragédia se encarregou de promover o reencontro. Ele perdeu a mãe e ela foi procurá-lo. Se olharam e abraçaram forte. Não foi preciso dizer nada, ele apenas balbuciou “faz quatro anos...”. Estão juntos desde então. As amigas não entendem, defendem a máxima que pau que nasce torto, nunca se endireita. A família é contra e está organizando um bolão para premiar quem acertar quando ele vai aprontar a primeira. A naturalidade dos dois, que se comportam como se nada tivesse acontecido, parece incomodar quem acompanhou todos os acontecimentos.

Em meio aos detalhes que ela relatava para me convencer do quanto a volta foi inevitável, disse: “pela meia hora que está a me descrever os indícios do quanto é forte o que vocês sentem um pelo outro que não coloco dúvidas de que vocês tem motivos para estar juntos”. Quando percebi já tinha dado a benção para a história do casal. Bem que dizem e eu até cansei de ouvir que tenho cara de padre.

Sou da opinião de que o amor é indeterminado, mas não acredito que o amor é infinito. Enquanto não há determinação para se viver a dois, o amor se sustenta. Ponha uma intenção para a relação e ela está fadada ao fracasso. O amor não é companheiro do intuito e considera a finalidade o anúncio da morte. Perderá a imunidade contra o vírus da previsibilidade. As respostas vitais da relação irão diminuindo até o falecimento, e como não há monitoramento cardíaco no cotidiano, a constatação do fim do amor pode ser tardia. Nesses casos, não se pode recorrer a desfibrilador ou mesmo a UTI. A maioria dos amantes se preocupa demais em buscar uma relação eterna do que em garantir que ele continue a existir sem desígnio. O amor sem fim é o que nunca foi determinado e definido como infinito.

Josiane me convenceu que viver sem ele foi a indeterminação necessária para voltar com ele. O propósito da ausência como forma de provar a necessidade da presença. Sobre o futuro do casal, prefiro não arriscar palpites. Só espero que as mulheres não entendam que a palmada é educativa para os maridos.


Um comentário:

Lenita disse...

Hummm.. interessantíssimo!!!!!!!!!!!
neste caso a boooa e velha palmada parece ter surtido efeito sim..
talvez tenha sido o chacoalhão necessário (ou não!) pra q esse esposo caisse na real.
nada de tapa de luva, tb não tinha de boxe.. mas serviu bem d qlqr jeito!!!!!!!!!
não sei oq dizer e nem me arrisco em tentar determinar o amor tb.. tanta coisa.. tantas vontades.. tantos escorpiões a serem enfrentados!!!
é como dizem: em briga de marido e mulher ninguém mete a colher!! pois é.. fato.. qntas apostas e torcidas pra acabar com esse amor de propaganda... q acaba sendo, por fim, a propaganda do amor, q "td supera".
não acredito que o amor supere td, nem q é infinito, tb não falo como uma pessoa frustrada, mas como alguém q ja viu demais (como tantas outras pessoas por ai).. e demais msm, uma pessoa q gostaria sim de acreditar em finais felizes e contos de fada pra os q escolhem o caminho do estar junto...
mas tanta, tanta coisa acontece e o amor é posto a prova.. muitas vezes não resiste.
mas enfim.. é dito: É PRECISO AMAR AS PESSOAS COMO SE NÃO HOUVESSE O AMANHÃ!!!!