domingo, 15 de agosto de 2010

Aula de Educação Física

Depois que os benefícios do exercício físico ganharam projeção mundial, não há quem se sinta plenamente confortável com o sedentarismo. Pode até dizer que não se importa com a falta de investimento na saúde, mas vive a planejar uma retomada na atividade que faz bem. Mas a cisma do preguiçoso aumenta, não com a falta de flexibilidade muscular constatada ao abaixar para pegar o clipes que caiu no chão, mas com as farras gastronômicas e alcoólicas. E quando é que exageramos mais na bebida e na comida? Nos finais de semana.

Não é à toa que a maior frequência de retorno à atividade física se dê às segundas-feiras. Quem faria alguém acordar mais cedo para suar a camisa senão a culpa? E foi num desses dias que acordei às seis horas da manhã, peguei o carro e fui à pista de atletismo da cidade. Começa que, quem quer caminhar ou correr não vai de carro, mas a intenção era das melhores. Chegando lá acelerei no aquecimento. Não por empolgação, e sim pelo frio que fazia. Já me sentia a pessoa mais saudável assistindo o sol nascer me exercitando quando uma turma de alunos chegou ao local.

Era a primeira segunda feira de retorno às aulas e a sala tinha Educação Física às sete horas da manhã. Mais da metade vestia calça jeans para desânimo do professor, que estava de conjunto de ginástica e transparecia animação no recomeço do período letivo. Na roda formada para o alongamento, o jeito desengonçado adolescente era regra. A lerdeza de alguns demonstrava a falta de empolgação. Eu bem que queria ter em meu dia uma hora de exercício obrigatória com acompanhamento profissional, mas também não me animava quando o tinha na escola.

Terminado o alongamento, o professor chamou os alunos para começar o circuito da pista caminhando. Neste momento, a turma se autodividiu. Na frente, os que iam à pé a escola e já estavam aquecidos aquela hora. No meio, a maioria que não queria ficar por último e ser tachada de turma da preguiça. Mais atrás o professor rodeado de garotas que queriam matar a saudade das férias. E por último quatro meninos de preto. Pertencer a qualquer tribo tem seu custo, e vestir preto é motivo para agradecer a Educação Física na primeira e não na última aula, perto do meio dia.

Foi ultrapassando a turma de preto que ouvi um deles dizer: “nem pra me avisarem, to arrastando dois quilos de correntes”. Para minha surpresa, quando cumpriam uma volta, as turmas iam se sentando na arquibancada, como se tivessem cumprido uma meia maratona. A única turma que permaneceu na pista foi dos garotos de preto, provando que as aparências enganam. O professor se deu por vencido e chamou todos para voltar à escola meia hora depois da chegada.

Minha conclusão foi a de que a ordem está invertida. Educação Física deveria ser matéria de adulto, carga horária obrigatória no cotidiano da juventude à velhice. Se fica por conta própria, acaba por ser a última das prioridades. Estratégias não faltam para driblar esta dura (ou mole) realidade. Uma amiga combinou com o professor da academia que ligasse as seis e meia da manhã caso ela não aparecesse. Resultado: recebia bom dia do professor todas as manhãs e aproveitava o cochilo final até às sete e meia.

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