sábado, 1 de maio de 2010

Escrever artigos

Weberson Santiago

Escrever um artigo (um texto acadêmico) para submeter a uma publicação conceituada é sempre um desafio. Na minha vida, o primeiro foi durante o terceiro ano da faculdade. Havia atendido um caso em dupla, demonstramos interesse e uma professora nos orientou a escrever o meu primeiro capítulo de livro na Coleção Sobre Comportamento e Cognição. O assunto foi autoconhecimento, e o livro saiu no quarto ano do curso.

O segundo desafio foi ano passado, quando minha orientadora de mestrado pediu que analisássemos nossos últimos quatro anos de pesquisa e finalizou um artigo especial, que sou co-autor. Comportamento Verbal e Persuasão foi o tema. E esta semana submeti o terceiro para apreciação e publicação nos próximos volumes do Sobre Comportamento e Cognição.

Escrever é uma gravidez que termina no parto. O tempo de gestar é muito trabalhoso, não há como fugir das horas na cadeira diante do computador. Pesquisa, leitura e escrita numa freqüência alta. Deve-se partir de autores importantes, mas ir adiante e manter uma linha de raciocínio, defender seu ponto de vista. Por isso, a maturidade de escrita vem da quantidade de conhecimento e habilidade com o tema. Quanto mais me comporto sob controle deste assunto, mais sou capaz de colocar em palavras o que compreendo dele.

Mas como na maternidade e na paternidade, sempre parece que o caçula é o mais bem feito de todos. Afinal, um bom pai ou uma boa mãe sempre aprendem com os erros cometidos nos primeiros. Além disso, vamos ficando melhores naquilo que fazemos proporcionalmente a quantidade de vezes que o viemos fazendo. É repensando que se faz analogias e comparações.

Este último artigo me é muito especial. Primeiro porque ele foi resultado de três anos de mesas redondas que participei nos encontros da ABPMC (o segundo maior encontro de analistas de comportamento do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos) discutindo obesidade mórbida e cirurgia bariátrica. Nestes encontros conheci muitos psicólogos que, como eu, trabalham e conhecem o assunto a fundo.

Resolvemos no ano passado submeter um artigo sobre o assunto neste ano, pois não havia na análise do comportamento um enfoque comportamental do comer em excesso presente na obesidade mórbida e dos efeitos comportamentais das cirurgias que promovem o emagrecimento. Foi uma aventura, trabalhamos e discutimos muito nossos pontos de vista. Só tocamos em aspectos que os três concordavam que era comum nos nossos pacientes, tentando manter a linha da generalização que é possível e de não se contaminar demais com sentimentos pessoais.

Não pense que o parto só tem o lado do nascimento para a vida, é também um momento de angústia se dará tudo certo e de extrema ansiedade para os três. É difícil definir que um texto está pronto para ser lançado para os leitores. Você pode olhar para algo no livro já impresso que gostaria de escrever de uma forma diferente e não dá mais. Quando há consenso, é bom sinal. Nós ficamos felizes com o resultado final, ficou um bom artigo.

Agora é esperar a aprovação. Na sessão de terapia da semana, queria acender um charuto com o terapeuta já que havia finalizado e enviado o artigo naquele dia. Mas este é um comportamento muito psicanalítico para um analista de comportamento. Então ontem fui comer uma pizza com uma boa companhia para brindar o nascimento do caçula.







2 comentários:

Rosa Maria disse...

Bom dia Agusto.
Percebo que você se realiza em seus escritos.
Interessante... as palavras saem como um grito engasgado... ou não, pensei nessa frase agora...me corrige se errei tá?
Parabéns!

Abraços..Boa semana.

Augusto Amato Neto disse...

Nos realizamos em tudo aquilo que encaramos como desafio!

O grito engasgado é a emoção que acompanha o viver e que acaba sendo acoplado na escrita do vivido e que vem a ser publicado.

Realmente, Rosinha, escrever me realiza muito!