domingo, 20 de dezembro de 2009

Traidor

Quão intrigante é a figura do traidor, cujo comportamento promove inúmeros efeitos sobre o traído. Até aqui não se falou em infidelidade, mas o leitor provavelmente levou-se ao relacionamento conjugal. Está aí uma característica injustamente atribuída ao traidor: é tido como infiel. E se a fidelidade é para consigo mesmo?

Esta não seria a hora de discutir ética e moral (onde a resposta a pergunta acima certamente iria desaguar), mas de discutir comportamento. O traído, cuja posição só vem a ser ocupada caso tenha conhecimento do fato, é ambíguo: fica em dúvida se carrega o fardo da insuficiência ou da ingenuidade, mas tem o poder de levantar a bandeira contra a leviandade do traidor.

Partindo desta confusão, o traído cai na besteira de investigar qual o pivô. E se depara com a questão “porque ele/a?”. Nada é mais deplorável do que a comparação entre si mesmo e o pivô. A resposta para o motivo da traição não se encontra aí, ou pelo menos, não só aí. Daí a razão para o traído de hoje ser o traidor de amanhã. Continuará na busca da resposta, agora do outro lado.

Passemos para a posição do traidor. Este, por mais que se esforce em disfarçar, sempre sai por cima. Sua posição de agente tem o álibi do “impulso”, além de levar os louros em meio à competitividade de seu grupo. Chato mesmo é o momento, sempre existente, do inquérito de justificativa. O traído faz questão. Não importa a justificativa.

O número de especulações despertadas no traído é o maior efeito gerado pelo traidor: Será que...? Qual o motivo? E se eu tivesse...? E se não...? Mas como...? Parecia que... Talvez seja...

Então, o interesse soa como culpa, a saudade vira raiva, palavras como armas, a lembrança como tolice e a história não tem mais sentido. Sonhos que continuarão nesta mesma categoria. E perguntas seguem não respondidas, a serem respondidas. Em nome do que age o traidor?

A.A.N.

20.12.2009

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