domingo, 27 de dezembro de 2009

Camadas de Tinta


Camadas de tinta recobriam toda a porta e o batente, de modo que a porta não fechava e sobrava alguma fresta. Uma camada de látex e sabe-se lá quantas de tinta a óleo. Dispostas sucessivamente com a displicência grosseira de emperrar a fechadura. Uma camada de tinta protege, um monte delas sufoca. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar, e não seriam as camadas de tinta as primeiras capazes de tal façanha.

Como será que uma porta se sente impossibilitada de sê-la? Ela está lá para, no mínimo, fechar. Quando não para trancar. De repente ela não fecha, não tranca e está engessada por um monte de camadas de tinta.

Foi preciso olho clínico para encontrar os pontos de atrito. Os lugares que o excesso de tinta impedia o fechamento. É como uma relação e seus conflitos. No abrir e fechar da porta eles pegam, machucam, deixam marcas na tinta.

Encontradas as marcas, foi preciso uma lixa para remover a tinta acumulada. Uma tarefa nada fácil, a lixa produz atrito e esquenta. Incomoda! Cada camada vai sendo removida até chegar à madeira. Só é possível descobrir se lixou o suficiente com o teste se a porta fecha. Nestes testes, é preciso ter cuidado. Se for insuficiente ainda produz atrito. Mas o pior é se a porta emperra! Um sufoco!

Por vezes porta e batente precisam ser lixados. Então, quando feito, a porta volta a se fechar e trancar. Aqueles pontos lixados agora são como cicatrizes...

A.A.N.

27.12.2009

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