segunda-feira, 8 de junho de 2009

Paulista com Consolação

Saio do hotel para o Belas Artes em busca de um folheto com a programação dos filmes, pouco depois das dezoito horas e para isso sigo dois prédios à esquerda, na esquina da Paulista com a Consolação. Pego o folheto, saio do cinema e encontro um jovem de prováveis vinte e cinco anos, toca amarela surrada e roupas pretas encardidas. Sua expressão amistosa me faz recorrer ao tradicional “muito frio?” – típico em conversas de elevador ou pra puxar assunto. Ele diz que o pior havia passado. A conversa prossegue e comento que o último lugar que eu gostaria de estar naquele momento seria num daqueles carros ligados, fechados e parados em seqüência. Ele se interessa pelo papo. Divido com ele um pensamento recorrente, que por sinal está virando lugar comum, sobre São Paulo estar saturada de gente, trânsito, carros, filas e aborrecimentos. “A vida aqui está muito complicada, você não acha?”. Ele responde: “Não, não é a cidade! Depois que inventaram esse negócio de depressão, de vício em bebida, de ter medo de tudo, é aí que a vida ficou difícil!”. Falo sobre a dificuldade que as pessoas têm de lidar com os demais e sobre como elas se assustam com uma aproximação de um desconhecido, como se fosse uma ameaça. Ele pergunta o que estou fazendo ali e digo que acompanhava alguns nadadores, todos hospedados na região. Pergunta se eu também nadava ou se era instrutor. Disse que era instrutor e ele pergunta onde era a piscina onde iríamos. Na Água Branca, respondi. Questiona se a água é quente. Aviso que é aquecida e a piscina coberta. “Olha, se tiver um lugar, me leva pra nadar com vocês na Água Branca?” – brinca – e diz: “Deve ser legal esses jovens, a conversa, você de instrutor”. “Se é!”, respondo. Pergunta se trabalho indo e voltando com diferentes grupos. Disse que acompanho só esse. Então me mostra a praça em frente ao desativado bar Riviera, entre a Consolação e o acesso a Doutor Arnaldo onde mora, como quem desse seu cartão de visita. Nos despedimos e volto pra equipe com a programação do cinema. Escolhemos assistir o Franco-Libanês Caramelo, que narra uma parte da vida de quatro mulheres que trabalham em um salão, mas antes fomos à tradicional pizzaria ao lado do Riviera. Para repor as energias despendidas na água, pedimos quatro pizzas gigantes. Todos satisfeitos e sobra mais de meia pizza. Imediatamente lembro do amigo, carrego a equipe e entregamos a pizza pra ele e para os demais moradores, que naquele momento estavam em roda com um pastor missionário que os confortava. Recebem com alegria e nos agradecem com um “Deus os abençoe!”. “Amém!”. Cinema e cama!

Um comentário:

Augusto Amato Junior disse...

Importante a abertura que podemos ter com quem não conhecemos, a partilha de um pedacinho de nosso interior provoca tanta mudança, e marca forte. É o que fica no fim.
Assim DEUS abençoa quem a coragem da doação, nem que for só um pedacinho de nosso ser.
Aproveito para convidar todos para verem o post de amanhã no blog www.mocoplast.com.br/blog sobre partilha.