segunda-feira, 23 de março de 2009

Bar do Zé

- Bom dia!

- Bom dia!

- Me vê um pão com queijo branco sem miolo e um café com leite.

- Sai um Minas na Canoa e uma Média pro rapaz! – diz o balconista.

A linguagem das padarias, bares e lanchonetes de São Paulo é, no mínimo, interessante. O Bar e Café Faculdade, orgulhosamente conhecido como Bar do Zé, é um lugar em que se ouve este tipo de tradução do seu pedido. Localizado na esquina das ruas D. Maria Antônia com Dr. Vila Nova, segundo alguns freqüentadores e ex-balconistas há mais de 100 anos, inicialmente como quitanda, em 1968 passou a ser administrado pelo Zé, sempre amigo dos clientes que acabou compartilhando seu nome com o estabelecimento.

O livro São Paulo de Bar em Bar, escrito por Francesc Petit, o descreve assim: “Atrás do Mackenzie e a dois passos da antiga Filosofia da USP, nosso boteco de esquina assistiu de camarote às famosas e trágicas manifestações estudantis de 1968. Em seus banquinhos, Chico Buarque ensaiou as primeiras composições. E Delfim Netto e Franco Montoro ensaiaram para a vida política. Movimentado o dia inteiro, bebida alcoólica só a partir do meio dia. Serve cerveja gelada e belíssimas caipirinhas, feitas pelo Geraldão. Faz sucesso o Peru Faculdade: peito de peru defumado no pão francês, queijo prato ou branco, alface, tomate, maionese e molho tártaro – os dois últimos feitos no próprio bar, há 25 anos, Pelo Beto. O freguês ainda conta com o bom humor do seu Lopes, português incapaz de dizer duas palavras sem fazer uma gozação”.

Embora a tradição dê uma característica especial ao lugar como enfatiza Petit, suas instalações são simples, capazes de passar despercebidas por um transeunte. Apelidado de sujinho por alguns, está disponível sempre das 5h30min até a 0h30min, servindo desde o café da manhã até o jantar com opções muito gostosas.

Recentemente, o Zé decidiu parar de trabalhar. Não por causa de dinheiro, pois como garante o José (balconista que, entre idas e vindas, tem 9 registros no Bar do Zé): “se fosse por dinheiro ele teria parado faz tempo, hoje tem quatro estabelecimentos”. O verdadeiro motivo da “aposentadoria” do Zé foi uma trombose e uma hérnia persistente. Suas visitas periódicas são a prova de que parou forçadamente. 

Outra pérola da comunicação ouvi essa semana, quando fui tomar café da manhã, por volta de 7h30min. De repente entra uma linda jovem, arrumada para o trabalho. Só de vê-la entrar o balconista já faz o pedido. É um Toddy batido e um pão. Quando ele entrega a ela, pergunto:

- Como é aquele pão que ela pediu?

- É pão na chapa tradicional só que com requeijão - explica.

- Vê um pra mim, por favor!

Ele olha em direção ao chapeiro e diz:

- Geraldo, vê um Xerox do pão da Aline, faz uma cópia aí!

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