sábado, 1 de abril de 2017

Enfrentando o Trampolim

Arte de Weberson Santiago



Há mais ou menos três anos, levei a Anelise para nadar no clube. Enquanto estávamos lá, ela viu algumas crianças subindo no trampolim e pulando na piscina. Encantada com o que via, Ane se empolgou, pediu para subir e pular de lá também.

Eu não sou do tipo pai superprotetor, nem excessivamente medroso. Não temo sempre o pior. Eu sou o tipo de pai que acha que as limitações devem ser superadas para que se possa comemorar a vitória. Por isso, disse que ela poderia pular sim.

Na primeira vez, subi com ela e pulamos juntos, de mão dadas. Ela adorou e disse que queria ir de novo. Eu subi novamente e pulei com ela. Na terceira, achei que ela poderia pular sozinha. Havia outras crianças da idade dela (6 anos na época) fazendo isso sem acompanhamento (o patamar fica há aproximadamente 2 metros de altura da borda da piscina).

Eu iniciei encorajando-a e dizendo que eu ficaria lá em baixo, na água, aguardando ela, que ela poderia pular sem medo. Duas garotas mais velhas estavam nadando próximas a escada da piscina e começaram a observar o que estávamos fazendo.

Enquanto eu a encorajava, elas ficaram cochichando. Ane começou a ficar incomodada com o fato de estar sendo observada e com medo de pular. Até que ela começou a tremer e travou. Quando a vi daquele jeito, eu desisti e saí da piscina para ir tirá-la de lá. E mesmo acompanhada, ela estava tão nervosa que acabou batendo o pé na escada e se machucando um pouco na saída do trampolim.

Eu fiquei muito chateado com aquilo que aconteceu. Fiquei com raiva daquelas meninas. Não com o fato dela não ter conseguido pular, mas por ter participado de uma situação que lhe foi muito frustrante. Depois fiquei com raiva de mim mesmo, como se fosse o meu dever evitar fazê-la passar por aquilo.

Às vezes nós pais pensamos que nosso papel é evitar que os filhos sofram, quando na verdade o nosso papel é estar ao lado deles nas situações de sofrimento. Não existe desenvolvimento sem desafios e sem frustrações.

O melhor que podemos fazer é conversar com nosso filho sobre o que aconteceu para que ele possa expressar e entender o que sente. Precisamos orientá-lo no que pode fazer para lidar com a situação que está enfrentando, permanecer disponível para estar ao seu lado no próximo desafio. E estar atento para quando ele progredir e se superar, para que sejamos os primeiros a comemorar.

Nas últimas férias escolares, enquanto a Natália e eu estávamos na borda da piscina do mesmo clube, ela perguntou se podia saltar do primeiro andar. Eu disse que sim. Ela atravessou os vinte e cinco metros da piscina nadando, saiu pela escada e subiu a escada do trampolim. Na plataforma, ela parou, me olhou e deu um passo para trás. Eu fiz um sinal com a cabeça, encorajando-a e ela deu um passo pra frente. E pulou. Assim que ela emergiu, me procurou. Eu estava lá, do outra lado da piscina, há vinte e cinco metros de distância levantando e abaixando o punho fechado, três anos depois, comemorando a sua vitória.

  UM CAFÉ E A CONTA!
| Tudo a seu tempo. Cada coisa tem a sua hora.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 01/04/2017, Edição Nº 1453.

4 comentários:

Elenir Freitas disse...

Como sempre oportuno e muito didático. Todos os pais deveriam ler essa crônica muito bem redigida. Parabéns

Anônimo disse...

muito bom .. parabéns...

Augusto Amato Neto disse...

Muito obrigado, amiga Elenir!

Augusto Amato Neto disse...

Obrigado, anônimo!