Arte de Weberson Santiago |
Há mais ou menos três anos, levei a Anelise para nadar no
clube. Enquanto estávamos lá, ela viu algumas crianças subindo no trampolim e
pulando na piscina. Encantada com o que via, Ane se empolgou, pediu para subir
e pular de lá também.
Eu não sou do tipo pai superprotetor, nem excessivamente
medroso. Não temo sempre o pior. Eu sou o tipo de pai que acha que as
limitações devem ser superadas para que se possa comemorar a vitória. Por isso,
disse que ela poderia pular sim.
Na primeira vez, subi com ela e pulamos juntos, de mão dadas.
Ela adorou e disse que queria ir de novo. Eu subi novamente e pulei com ela. Na
terceira, achei que ela poderia pular sozinha. Havia outras crianças da idade
dela (6 anos na época) fazendo isso sem acompanhamento (o patamar fica há
aproximadamente 2 metros de altura da borda da piscina).
Eu iniciei encorajando-a e dizendo que eu ficaria lá em
baixo, na água, aguardando ela, que ela poderia pular sem medo. Duas garotas
mais velhas estavam nadando próximas a escada da piscina e começaram a observar
o que estávamos fazendo.
Enquanto eu a encorajava, elas ficaram cochichando. Ane
começou a ficar incomodada com o fato de estar sendo observada e com medo de
pular. Até que ela começou a tremer e travou. Quando a vi daquele jeito, eu
desisti e saí da piscina para ir tirá-la de lá. E mesmo acompanhada, ela estava
tão nervosa que acabou batendo o pé na escada e se machucando um pouco na saída
do trampolim.
Eu fiquei muito chateado com aquilo que aconteceu. Fiquei com
raiva daquelas meninas. Não com o fato dela não ter conseguido pular, mas por
ter participado de uma situação que lhe foi muito frustrante. Depois fiquei com
raiva de mim mesmo, como se fosse o meu dever evitar fazê-la passar por aquilo.
Às vezes nós pais pensamos que nosso papel é evitar que os
filhos sofram, quando na verdade o nosso papel é estar ao lado deles nas
situações de sofrimento. Não existe desenvolvimento sem desafios e sem
frustrações.
O melhor que podemos fazer é conversar com nosso filho sobre
o que aconteceu para que ele possa expressar e entender o que sente. Precisamos
orientá-lo no que pode fazer para lidar com a situação que está enfrentando,
permanecer disponível para estar ao seu lado no próximo desafio. E estar atento
para quando ele progredir e se superar, para que sejamos os primeiros a
comemorar.
Nas últimas férias escolares, enquanto a Natália e eu
estávamos na borda da piscina do mesmo clube, ela perguntou se podia saltar do
primeiro andar. Eu disse que sim. Ela atravessou os vinte e cinco metros da piscina
nadando, saiu pela escada e subiu a escada do trampolim. Na plataforma, ela parou,
me olhou e deu um passo para trás. Eu fiz um sinal com a cabeça, encorajando-a
e ela deu um passo pra frente. E pulou. Assim que ela emergiu, me procurou. Eu
estava lá, do outra lado da piscina, há vinte e cinco metros de distância
levantando e abaixando o punho fechado, três anos depois, comemorando a sua
vitória.
| Tudo a seu tempo. Cada coisa tem a sua hora.
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4 comentários:
Como sempre oportuno e muito didático. Todos os pais deveriam ler essa crônica muito bem redigida. Parabéns
muito bom .. parabéns...
Muito obrigado, amiga Elenir!
Obrigado, anônimo!
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