domingo, 10 de julho de 2011

Cama de Casal




Hoje abro mão dos balcões de padaria e da minha escrivaninha. Estou confortavelmente sentado na cama nova, recostado na cabeceira de madeira com um detalhe de ferro enquanto escrevo esta crônica.

Todo jovem em início de carreira tem uma lista de objetos de consumo para adquirir. Depois daqueles que envolvem tecnologia, um dos itens mais desejados é uma cama de casal. Não importa se o mancebo é solteiro. Quer uma cama grande para rolar de uma ponta à outra como um espeto de carne na churrasqueira. Sonha com o monte de travesseiros e a pilha de almofadas para mergulhar feito uma criança numa piscina de bolinhas. Prefere a cama box porque pensa que o colchão começa no chão.

O emprego novo não foi a minha motivação para comprar uma. Não via a cama como uma compensação para um dia cheio e estafante. Para isto me bastava a de solteiro.

Foi quando passei a receber a Natália aos finais de semana que começou a faltar espaço para o nosso conforto. O sofá cama da sala quebrou o galho por um bom tempo, mas nunca deixou de ser uma solução provisória.

Enquanto eu juntava o dinheiro, ficamos olhando uma cama na vitrine da loja no caminho de todo dia. Chegada a hora da compra, não adiantou percorrer todas as lojas de móveis da cidade. A cama da vitrine tinha escolhido a gente. Agora a vitrine está no nosso quarto.

O ditado popular diz que a necessidade é a mãe da vontade. Eu penso que a vontade mostra a direção do sentimento e vejo a compra da cama como um passo a mais em direção ao casamento. A cama de casal é minha aliança de noivado.

Pensando assim, abro mão de qualquer forma de conservadorismo, sem abrir mão do romantismo. Há pouco tempo atrás, a cama de casal só podia ser usada depois do casamento. Um lugar sagrado onde não se podia sentar caso não fosse a sua própria cama. Uma falta de educação maior do que abrir a porta da geladeira e ficar procurando nada na primeira visita.

Diante do convite de casamento, parentes e amigos presenteiam tudo, menos a cama do casal. Cada dois deve escolher a sua. E todos os presentes ganhos no enlace são colocados em cima desta cama. A única oportunidade de ter acesso à intimidade era a visita para ver os presentes ganhos.

Hoje a cama de casal é a praça de alimentação da família, presente de pai ou mãe ausente para filho pré-adolescente, sala de estar para receber as visitas de sempre. É o refúgio dos pesadelos do filho pequeno, que chega sorrateiro e levanta o edredom caído no pé da cama e se instala bem no meio.

Não importa se a mola do colchão é ensacada quando o sentimento tem densidade. Quando a gente compra uma cama de casal pode não ter companhia, mas quando um casal compra uma cama é para nunca mais dormir sozinho.

UM CAFÉ E A CONTA!

| Enquanto desprendemos os atos reconstruímos os nossos laços.


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria

Caderno Cultura, p. 3, 09/07/2011, Edição Nº 1155.


Um comentário:

cama box disse...

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