sábado, 2 de abril de 2011

Padarias

Arte de Augusto Amato Neto


A padaria é como uma mãe isenta de culpa. Se você pedir leite, ela dá; se prefere refrigerante, tá na mão; mas se estiver em busca de uma dose de cachaça, ela também dá. Se quiser um lanche natural tem; se quiser x-salada também tem; peça uma porção de frango a passarinho e lhe dão sem questionar sua taxa de colesterol.

As semelhanças não param por aí. Algumas padarias não têm higiene e acreditam que sujeira aumenta a resistência do sistema imunológico. Outras são obsessivas com a limpeza e para pegar o pão com o pegador de alumínio, é preciso usar touca, luva e avental.

Com toda essa variedade, é possível encontrar padarias com cara de bar, onde os homens se aglomeram para tomar cerveja e assistir jogo de futebol. Existe a padaria que parece restaurante: oferece self-service de café da manhã, almoço e jantar ou os tradicionais PFs - leia-se pê-efes, de pratos feitos. Tem ainda a padaria com cara de supermercado, cheia de prateleiras e produtos diversos para levar pra casa.

Se a variedade de produtos oferecidos é a parte materna da padaria, o serviço é a parte paterna. Do chapeiro ao balconista a maioria são homens. Apesar da presença das mulheres, parece haver um machismo no posto do balcão. Talvez pensem que o homem se saia melhor ao exigir respeito tanto diante do pedido do Rabo de Galo (dose de cachaça com conhaque) até o do Brioche (pão doce de origem francesa).

O outro lado do atendimento masculino é o serviço personalizado capaz de fidelizar o mais safado dos clientes. Se você frequenta a padaria mais de uma vez por semana, será tratado pelo nome e economizará a saliva do pedido a partir da quarta semana. O bom balconista de padaria é como um pai herói que adivinha seu gosto apenas pela cara que está fazendo.

Nas viagens que faço, seja qual for o motivo, a primeira coisa que procuro perto do local da hospedagem é a padaria. Se ficar com sono, peço um café. Com fome, corro pra fazer um lanche. Cansado, saio pra dar uma volta. Inspirado, tenho onde sentar para escrever. E sempre preciso dela para todas essas finalidades. Quando não são sobre as padarias, minhas crônicas foram escritas em mesas ou balcões de padarias.

Tenho me dedicado a experimentar as diferenças do sanduíche de pão francês com queijo minas na chapa. Em São Paulo, o balconista pede ao chapeiro pelo Mineiro. É preciso tomar cuidado com as armadilhas de padaria. Nem mesmo aquelas que se localizam em Minas Gerais oferecem o Mineiro no cardápio. Em tempos de globalização e empreendedorismo, alguns modos e costumes não respeitam a fronteira interestadual e fica difícil saber sua origem.

Na última viagem pelas montanhas e serras mineiras, descobri que café expresso com pão de queijo é hábito de paulista. Tendo a padaria um lado materno e um lado paterno, o que interessa mesmo é o filho sair bem alimentado.

UM CAFÉ E A CONTA!

| Sua coragem não é medida somente pelo quanto você se expõe, mas também pelo quanto se preserva.


Publicado no Jornal Democrata

Caderno Cultura, p. 3, 02/04/2011, Edição N° 1141.


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