segunda-feira, 6 de julho de 2009

Meio de Transporte

Nossa espécie nunca se contentou com o par de pernas que lhe fora atribuído para se locomover. Com o advento da roda, o que seria um instrumento para facilitar a vida passa a ser quase que uma necessidade básica, sobretudo no último século. Vejamos esta constatação em minha vida.

Aos quatorze anos ganhei uma scooter Jog e suas 50 cilindradas mudaram minha vida. Tinha a liberdade de ir aonde quisesse e a comodidade de encher o tanque com um real. Rodava muito com ela, até que um dia me deparei com a Polícia. A máxima espalhada na cidade, acredito que pelos próprios pais culpados em motorizar filhos sem habilitação, de que um de até 50 cilindradas poderia ser dirigida sem habilitação foi por água abaixo. Aquela música do Titãs que diz "Polícia para quem precisa de Polícia" nunca fez tanto sentido, afinal, longos quatro anos para começar a dirigir habilitado.

Nos anos seguintes, nada além de carona. Depois fui morar em São Paulo, ao lado da Universidade. Por longo tempo, a perna ia servindo, mesmo porque não havia sinal de ganhar um carro. Quando estava em Mococa, usava os dos meus pais. Nos dois anos nos quais trabalhei na Infraero, mais especificamente no aeroporto de Guarulhos, a ida era uma beleza: ônibus fretado na esquina de casa. A volta, ao meio dia, era um tanto quanto chata. Ônibus, metrô e a subida da Dona Veridiana com atraso garantido pra supervisão no Mackenzie.

Depois que terminei a faculdade, comecei a freqüentar a Cidade Universitária para a pós-graduação e a atender na Vila Olímpia. Em horário de pico, costumava passar longas duas horas em ônibus para fazer um trajeto que era feito em pouco mais de meia hora fora desse horário. Por várias vezes saltei do ônibus e fui a pé, mesmo que faltasse longa distância, quando um livro, MP3 e outros passatempos não mantinham a paciência.

Quando finalmente ingressei no mestrado, ganhei um presente de meus avós que novamente marcou minha vida: uma bicicleta com suspensão dianteira e traseira. Toda semana, às quartas voltava pra Mococa à trabalho e ela me transportava, a custa de minhas pedaladas. Com a rotina apertada, ela economizava tempo do dia, e íamos: casa – consultório – empresa – casa – consultório.

Porém, havia um belo inconveniente: Mococa tem algumas subidas e eu chegava suado para trabalhar. Foi então que pensei em resgatar o meu primeiro transporte, que seria o ideal para meu bolso também. Confesso ter me apaixonado a primeira vista quandp comprei uma Yamaha Crypton. Ela estava em meio a uma série de Hondas Biz e sua cor dourada e traços que remetem a lambreta foram o diferencial na escolha. Aos poucos fui arrumando pequenos defeitos, mandei-a pra funilaria e ela ficou bicolor com acessórios cromados.

Embora econômica e com 100 cilindradas, tinha seus limites: a chuva e a falta de conforto. Uma vez fui para São José do Rio Pardo com ela e fiquei com dor nas costas por três dias. Já estava na hora de partir para o carro. Fui amadurecendo a idéia e pensando qual seria, qual caberia no orçamento até que escolhi fazer negócio com meu irmão. As pessoas próximas queriam que eu vendesse a moto para comprar o carro, mas não tive coragem.

O carro tem um valor diferente na vida, não sei se pelo seu valor de bem durável ou por, em caso de qualquer grande imprevisto, poder ser transformado em quitinete. O fato é que ele, por seu conforto, nos torna acomodados. Para ir a padaria da esquina, ligamos seu motor e arrastamos sua quase tonelada até lá, queimando gasolina. Ao mesmo tempo, a liberdade que ele permite é grande: a possibilidade de rodar por qualquer estrada é fascinante.

E assim, seguimos nossas vidas sobre duas ou quatro rodas.

A.A.N.

Julho/2009

2 comentários:

bieamato disse...

Você prometeu que nunca ia colocar sua moto na estrada!!!! Ta de castigo 15 dias sem sair de casa e a chave da moto vai ficar comigo até eu resolver devolver!!!!
Mamãe no pc do Bié

Priscila Zavagli disse...

Eu não sei nem dirigir ainda.. tenho paixão com lambretas.. são belas! Por enquanto fico na sola do tênis (ou de minhas sandalias de plastico cheirosas) Tenho certeza que, um dia motorizada, só me encontrarão na estrada..