Jornal da Cidade ,
Mococa/SP, edição de 12/06/1983
|
O nome que recebemos de nossos pais é carregado de significado e pode
revelar a expectativa daquele que me nomeou para a minha vida. Por mais que possa
parecer que a escolha é despretensiosa, ela vem carregada de ideias, imagens, sentimentos
e pensamentos.
O nome pode ser, também, uma homenagem a alguém que marcou a história de
um dos pais. Já ouvi falar de pessoas que homenagearam seu filho com o nome
daquele que ajudou em um momento difícil. Também é comum vermos o nome expressar
a superação de algum risco de vida, como quando adicionam Vitória ao nome da
filha, por exemplo.
No meu caso, o meu nome é uma homenagem ao meu avô e, ao mesmo tempo, ao
meu pai. Nós três temos o mesmo nome. Augusto Amato, Augusto Amato Junior e
Augusto Amato Neto. Além de homenagear o meu avô, é uma maneira de continuidade
e de tradição.
As comparações de similaridade começaram cedo. Na adolescência uma
professora de português disse que havia puxado ao meu avô quando me devolveu
uma redação. Meu avô foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Mococa há
algumas décadas e seus discursos eram publicados pelo jornal da cidade na
época, e eram muito elogiados. A oratória sempre foi um diferencial de meu avô.
Discursava sobre política, economia e sobre o sentido da vida para casais em
cursilhos. Quando comecei a dar palestras e entrevistas como Psicólogo, muitas
vezes ouvi que falava bem em público como o meu avô.
Semelhanças à parte, devo confessar que em muitos momentos senti um
grande peso por ter este nome. Meu avô teve uma trajetória de vida brilhante.
Uma carreira invejável, repleta de conquistas. Resultado de muita dedicação,
persistência, paciência e parcimônia. Ser Augusto Amato, em alguns momentos, me
fazia sentir que tinha a obrigação de, no mínimo, fazer o mesmo, senão melhor
do que ele fez.
Demorou para que eu percebesse que eu não precisaria fazer tudo igual. Embora
cada nova geração de Augusto carregue algumas características da anterior, outras
características não são – e que bom que não precisam ser – as mesmas. A
singularidade é permitida, apesar no nome ser igual.
Dia desses, procurava um documento para meu avô em meio aos seus
guardados quando identifiquei um envelope de papel pardo com uma etiqueta
branca manuscrita por ele: “Currículo Augusto Amato e Nascimento Augusto Amato
Neto”. Quando abri, encontrei um recorte de jornal que ele guardou para mim
pouco tempo depois de meu nascimento. Uma página do Jornal da Cidade de Mococa
publicado em 12 de junho de 1983 – eu nasci dia 30 de maio de 1983. Nela, o médico
Dr. Aloysio Taliberti profetizou o meu encontro com este recorte de jornal. Com
a sua sensibilidade e, tomado pelas emoções da grande amizade com meu avô, ele
sintetizou a grande responsabilidade que carrego no meu nome e colocou a
expectativa de que eu “faça mais bonito” do que fez o meu avô. Terminei a
leitura com os olhos marejados, foi emocionante.
O amigo Aloysio me fez entender que a beleza de se ter o mesmo nome que
o avô não está em repetir a mesma vida. A beleza é que o nome possa continuar
vivo em uma vida nova e diferente.
| Todo
nome esconde uma missão, definida por quem o escolheu.
|
Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, capa do caderno Dois, 29/09/2015, Edição Nº 1375.
Um comentário:
Ainda bem que meus pais desistiram de colocar o nome do avô de meu pai em mim: TRAZIBULO... acabou que fique com o nome de meu avô (joão) e do meu obstetra (Henrique)...
Postar um comentário