Arte de Weberson Santiago |
No meio da minha correria de dias úteis avistei um senhor sentado em um
banco fixo na frente de sua casa. Ele conversava com outro senhor, que estava
de pé ao seu lado. Me deu uma inveja daquele senhor sentado em seu banco vendo
a vida passar.
Naquela hora, resgatei a vontade que tive em outras situações de colocar
um banco na fachada da minha casa. Imaginava que, colocando o banco, aumentaria
a probabilidade de que eu e minha família passássemos a sentar e conversar na porta
de nossa casa.
Não fui adiante porque pensava que aquele banco vazio seria um convite
para que estranhos se sentassem na frente da minha casa. Temia que meu portão
virasse ponto de ônibus. Não saberia pedir licença para um abusado que o
ocupasse diariamente por medo de parecer discriminatório. Se não queria
convidar as bundas, era melhor que não colocasse o assento. E desistia dessa
ideia.
É impressionante como ainda vejo pessoas com esse hábito. Na minha rua
mesmo tem quem coloque aquelas cadeiras brancas de plástico na calçada todos os
dias. Nas duas cidades que trabalho, no caminho de um compromisso ao outro me
deparo com diversos bancos pelas calçadas. Tem aquele típico banco de praça
feito de concreto em moldes. Tem banco de ripa de madeira. Tem tronco de árvore
serrado. Tem até de alvenaria.
Quando não existia a televisão, quando o rádio era coisa de grã-fino, as
notícias corriam à boca pequena nos bancos de praça e nas cadeiras espalhadas
pelas calçadas. O costume parece estar longe de morrer, ainda que as novas
gerações não consigam fazer uso deste espaço. Como a minha própria geração.
Aquela inveja do senhor sentado foi uma vontade – controlável – de
largar todos os meus compromissos de lado e ficar lá sentado, pensando,
contemplando, observando o movimento dos outros. Era a vontade de parar um
pouco no meio da correria. Mas a verdade é que este sentimento de inveja durou
pouco.
Mesmo em meus dias de folga eu não costumo parar muito. Não me vejo
parado e sentado por muito tempo. Outro dia resolvi sentar na calçada. Logo
fiquei entediado procurando alguma coisa pra fazer. Comecei a retirar folhas secas
dos pés e as folhas velhas das plantas.
Percebi que já me acostumei a pensar enquanto estou em movimento, a
planejar enquanto estou me deslocando entre um compromisso e outro, a entender
meus sentimentos durante a correria.
Definitivamente o banco não é para todas as fachadas. Enquanto uns
gostam de ver a vida passar estando parados, outros gostam de ver a vida passar
em movimento. O importante é escolher o ponto de vista que você quer ver a vida
e ser satisfeito com ele.
| É
uma questão de órbita. Ou você espera que o
mundo gire ao seu redor. Ou você corre para cumprir sua trajetória.
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Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, capa do caderno Dois, 17/10/2015, Edição Nº 1377.
Um comentário:
Augusto, tenho um banco de jardim
no terraço da minha casa, muito legal
dá até pra encerar, mas sabe quando eu tenho
tempo pra sentar nele? NUNCA! Também fico
com inveja.....
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