Arte de Weberson Santiago |
Tenho uma dificuldade muito grande para corrigir as pessoas. Evito
apontar o que o outro fez ou está fazendo de errado porque tenho medo de
deixá-lo chateado.
É um excesso de empatia. Me coloco exageradamente no lugar do outro. Ao Imaginar
uma pontinha de tristeza, de desgosto ou de aborrecimento após minha correção,
desisto de falar.
Na arte da comunicação, uma linha invisível divide os direitos e deverem
dos seres humanos. Não basta que eu respeite o direito do outro se ele não
cumpre o seu dever. O contrário é verdadeiro. Não adianta que eu cumpra o meu
dever se o outro não respeita os meus direitos.
Ainda que existam diversas maneiras de dizer a mesma coisa, ainda que a
gente aprenda com os erros que por ventura venhamos a cometer, o fato é que eu
não me permito experimentar. Com medo de ser agressivo no relacionamento
interpessoal, acabo caindo sempre na passividade.
Mesmo que já tenha explicado uma, duas ou três vezes tenho dificuldade
de exigir que a pessoa mude de atitude. Mesmo que o cargo que eu ocupe me
permita ser incisivo, não falo. Mesmo que a minha história de relacionamento
com a pessoa me dê o direito de ser contundente, me calo. Na hora de exercer a
autoridade, eu me esquivo.
Me sinto um fracassado ao deixar passar uma oportunidade de ser
assertivo, mas me acalmo imaginando que evitei ser desagradável ou que deixei
de comprar uma briga. Como se eu pudesse, com isso, por fim a contrariedade no
mundo e na sociedade. Como se eu pudesse com isso extinguir o descontentamento.
Prefiro sair descontente e contrariado do que correr o risco de deixar
alguém assim.
Aliás, comigo mesmo a coisa muda. Sou o crítico dos críticos quando
avalio a minha própria conduta. Sempre penso que uma cara de aborrecimento de
alguém que convive comigo se deve ao que eu falei ou ao que eu fiz. Fico
buscando relembrar o que eu disse e supondo qual frase desapontou. Recordo uma
palavra que eu disse que pode ter sido mal interpretada.
Quando analiso meu próprio comportamento, acabo sendo duro demais. Me
culpo sem ter culpa. Me dou bronca sem ter feito algo errado. Aponto o dedo na
minha própria cara. Primeiro me recrimino e depois coleto evidências de que não
tenho responsabilidade no problema do outro.
Uma vez relatava esta minha preocupação em desapontar as pessoas e minha
tendência a me culpar pela insatisfação alheia quando ouvi de um amigo:
— Mas como você se acha importante! Como se você pudesse ter o poder de
ser a causa de tantos sentimentos importantes nos outros!
Emudeci. Percebi que ele tinha razão. Ouvir isso me deu um grande
alívio. Uma verdade que me fez perceber que era pretensão demais me
responsabilizar por tantas coisas que não tenho controle. E como ele me fez
perceber isso? Me dizendo o que ele pensou, na lata, sem rodeios.
Dizer o que se pensa nem sempre é destrutivo. E o silêncio pode impedir o
outro de construir algo melhor.
| Você
passa o dia poupando os outros e sendo
cruel consigo mesmo?
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Um comentário:
Que texto bom, Augusto. Soou muito familiar a mim. Também me calo mais do que falo. Um amigo um dia também me disse algo parecido com o que você mencionou, o que ajudou a ficha a cair mais um pouco. Digo um pouco, pois certas mudanças requerem intervenções mais frequentes para que aconteçam numa base mais permanente, rs, então é sempre bom ser lembrado de que 'não somos tão importantes assim'. Sempre que me pego agindo dessa maneira, gosto de assistir a um vídeo, pra me situar melhor no 'tabuleiro'. O vídeo é este aqui: https://www.youtube.com/watch?v=EjpSa7umAd8. No mais, parabéns pelo blog.
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