Arte de Weberson Santiago |
Desconfio de quem acha que casamento é para a vida inteira.
Quem se casa considerando que a relação é eterna entra no casamento como
um aposentado. Se aposentar na relação é pensar e agir como se, estando casado,
não precisasse mais seduzir, encantar, namorar.
Parte-se do pressuposto que o esforço não é mais necessário. Considera-se
que a relação tem obrigação de ser perene porque é um casamento. Aí mora o
perigo.
Casamento é disposição. Deves casar sabendo que terás o desafio diário
de fazer pelo outro e para o outro. É fácil ser companheiro quando o casal está
se conhecendo, se descobrindo. Terás de ser companheiro nos dias ruins, nas
manhãs mal-humoradas e nos finais de tarde de esgotamento.
É quando o outro não tem mais energia para agir que deves fazer brotar a
força da união. Pode deixar, meu bem, eu cuido disso para você. Se um não
aguenta mais correr atrás da criança, o outro que assuma a função. Se um está
cansado demais para acompanhar o filho na lição de casa, o outro que ponha sua
paciência para trabalhar. Nessa gangorra o casamento funciona, mas se alguém
deixar de fazer a sua parte por individualismo, o outro ficará sobrecarregado.
Casamento é abrir mão de si mesmo como prioridade. Tudo deve ser pensado
e decidido considerando as duas opiniões, as duas necessidades, as duas
vontades. E isso não vem automaticamente quando sobes no altar. Isso se
aprende. É na superação dos limites individuais onde está a beleza do casamento,
onde ele passa a ter valor.
Deves estar disposto a dar atenção e a ignorar.
A dar atenção aos sinais de como está o parceiro, sendo que estes sinais
estão escondidos nas entrelinhas do dia-a-dia. Leia as entrelinhas. Ela
sinaliza um descontentamento, deves pensar no que você fez que a deixou assim.
Ele demonstra estar sobrecarregado, deves ajuda-lo dele para que ele recupere a
disposição.
E a ignorar os comportamentos negativos que são resultantes do que seu
parceiro passa durante o dia nas suas obrigações, fora de casa. Se não souber
entender e tolerar, irás responder com outros comportamentos negativos, e isso atrapalhará
a relação e pode terminar em afastamento.
A vida já se ocupará de criar um afastamento entre os cônjuges. Não
duvide e não dê pouca importância a isso. Os problemas roubarão espaço dos
pensamentos que levam a gestos que cativam o outro. O trabalho roubará a
disposição para dar o seu melhor para a relação.
O cansaço insistirá para que use o seu pijama mais velho para ficar
confortável. E isso fará com que a pior aparência que você pode oferecer fique
para o lugar onde você mais deveria se preocupar em cuidar.
Os filhos disputarão a sua atenção e poderão criar uma muralha entre
você e o seu marido ou você e sua mulher. E lhe caberá não deixar que os filhos
impeçam vocês de namorar e de viajar. Deves cultivar um espaço para se conhecerem
novamente conforme cada um muda com a vida.
Um casamento acaba quando não se olha para um distanciamento pequeno,
que ainda pode se tornar reaproximação. Se um percebe o espaço vago e o outro
ignora, não adianta. Ambos precisam estar envolvidos em diminuir a lacuna antes
que o distanciamento vire um abismo.
Um casamento não deve ser para a vida inteira, deve ser para hoje. No
máximo para esta semana. A relação deve ser olhada em pequenos intervalos de
tempo, mas não pode ser olhada apenas nos aniversários de casamento. E tem quem
esquece até dessa data. É muito tempo sem olhar a relação. E pouco cuidado para
mantê-la.
O casamento que sobrevive à vida inteira é aquele que não se deixa
morrer no cotidiano.
| Você já se aposentou no casamento ou já se casou aposentado?
|
3 comentários:
É triste saber que muitos se perdem por conta desse "contrato".
"O casamento que sobrevive à vida inteira é aquele que não se deixa morrer no cotidiano."
Muito bom esse texto!
Parabéns!
Obrigado, Maureen!
Muito bom o texto! Parabéns.
Postar um comentário