sábado, 5 de outubro de 2013

Faça as Pazes com sua Consciência

Arte de Weberson Santiago


Você sabia que existe uma forma de guardar boas memórias e diminuir as lembranças desagradáveis?

Algumas das lembranças mais desagradáveis são os registros de episódios em que nos comportamos de maneira inadequada e que, quando são recordadas, evocam sentimentos de pesar e de culpa por ter feito algo a alguém ou por ter falhado no autocontrole.

Para preservar boas memórias é preciso esforço para evitar ser desumano ou insensível.

Eu procuro respeitar as pessoas com as quais convivo, acolhendo suas opiniões e ouvindo o que elas têm a dizer. Para isso, preciso desocupar o lugar de dono da verdade, desacreditar de que sou conhecedor de todas as coisas e abrir mão da uma posição ilusória de que sou o centro do universo e de que as pessoas devem orbitar em torno das minhas necessidades.

Para algumas pessoas a insensibilidade é um estilo de vida. Sustentar a posição de supostamente saber tudo é se tornar uma ilha afastada do continente. Não há via de mão dupla para a comunicação, já que o “sabe tudo” não está disposto a ouvir o que o outro pensa. As pessoas se afastam e fingem que acatam sua posição, esperam que o dono da verdade se distancie e fazem aquilo que elas consideram ser o melhor a se fazer.

O dono da verdade tem sempre uma metralhadora de acusações. Vive apontando culpados pelos problemas e os maltratando. Nunca aceita quando foi de fato o responsável pelo problema e não é capaz de ouvir quem tem uma alternativa para lidar com a situação. Ignora justamente quem sabe a solução do problema.

Busco avaliar amplamente uma situação antes de acusar alguém por não ter feito o que é sua responsabilidade, analisando as variáveis que possam ter contribuído para essa falha. Algumas cobranças são perdas de tempo e não tem justificativa. Explico.

Se uma pessoa trabalha atendendo ao público o dia todo, seria injusto acusá-la de ter errado na conferência de alguns documentos. A natureza de seu trabalho de atendimento é incompatível com a concentração necessária para realizar uma conferência. Cobranças recorrentes sobre os erros de conferência seriam perdas de tempo, enquanto propor que ela indique uma proposta de minimização de erros como, por exemplo, a redução de meia hora na jornada diária de atendimento, saindo do balcão para realizar a conferência com mais precisão seriam, de fato, uma solução.

Às vezes assisto, perplexo, à incapacidade das pessoas em pensar junto para tomar uma decisão. Quem pensa junto divide a responsabilidade pelas consequências da decisão. Erra junto, aprende junto, acerta junto e comemora junto. Ninguém é altamente eficiente sozinho. Eficiente é aquele mantem a colaboração em vigor nas suas relações.

Evite colecionar conflitos, arquivar grosserias, tomar decisões arbitrárias com os outros sem ouvir o que as diversas partes têm a dizer sobre o que aconteceu. Aprenda a ouvir a opinião das pessoas, sobretudo quando se trata de uma realidade em que você não tem disponibilidade ou possibilidade para se aproximar para conhecer a fundo.

Observar como você se relaciona com as pessoas não lhe exime de errar em algumas situações, mas preservará na memória relações de apoio mútuo e de respeito, ainda que em meio a situações complexas e turbulentas. Deixar de criar casos no presente é o que permite preservar boas memórias do passado.


UM CAFÉ E A CONTA!
| Um cenário problemático não justifica agir com brutalidade.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, contracapa (p. 2) do primeiro caderno, 05/10/2013, Edição Nº 1270. 

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