Arte de Weberson Santiago |
Você
sabia que existe uma forma de guardar boas memórias e diminuir as lembranças
desagradáveis?
Algumas
das lembranças mais desagradáveis são os registros de episódios em que nos
comportamos de maneira inadequada e que, quando são recordadas, evocam
sentimentos de pesar e de culpa por ter feito algo a alguém ou por ter falhado
no autocontrole.
Para
preservar boas memórias é preciso esforço para evitar ser desumano ou insensível.
Eu
procuro respeitar as pessoas com as quais convivo, acolhendo suas opiniões e
ouvindo o que elas têm a dizer. Para isso, preciso desocupar o lugar de dono da
verdade, desacreditar de que sou conhecedor de todas as coisas e abrir mão da
uma posição ilusória de que sou o centro do universo e de que as pessoas devem
orbitar em torno das minhas necessidades.
Para
algumas pessoas a insensibilidade é um estilo de vida. Sustentar a posição de
supostamente saber tudo é se tornar uma ilha afastada do continente. Não há via
de mão dupla para a comunicação, já que o “sabe tudo” não está disposto a ouvir
o que o outro pensa. As pessoas se afastam e fingem que acatam sua posição, esperam
que o dono da verdade se distancie e fazem aquilo que elas consideram ser o
melhor a se fazer.
O dono
da verdade tem sempre uma metralhadora de acusações. Vive apontando culpados
pelos problemas e os maltratando. Nunca aceita quando foi de fato o responsável
pelo problema e não é capaz de ouvir quem tem uma alternativa para lidar com a
situação. Ignora justamente quem sabe a solução do problema.
Busco avaliar
amplamente uma situação antes de acusar alguém por não ter feito o que é sua
responsabilidade, analisando as variáveis que possam ter contribuído para essa
falha. Algumas cobranças são perdas de tempo e não tem justificativa. Explico.
Se uma
pessoa trabalha atendendo ao público o dia todo, seria injusto acusá-la de ter
errado na conferência de alguns documentos. A natureza de seu trabalho de
atendimento é incompatível com a concentração necessária para realizar uma conferência.
Cobranças recorrentes sobre os erros de conferência seriam perdas de tempo,
enquanto propor que ela indique uma proposta de minimização de erros como, por
exemplo, a redução de meia hora na jornada diária de atendimento, saindo do
balcão para realizar a conferência com mais precisão seriam, de fato, uma solução.
Às vezes
assisto, perplexo, à incapacidade das pessoas em pensar junto para tomar uma
decisão. Quem pensa junto divide a responsabilidade pelas consequências da
decisão. Erra junto, aprende junto, acerta junto e comemora junto. Ninguém é
altamente eficiente sozinho. Eficiente é aquele mantem a colaboração em vigor
nas suas relações.
Evite colecionar
conflitos, arquivar grosserias, tomar decisões arbitrárias com os outros sem
ouvir o que as diversas partes têm a dizer sobre o que aconteceu. Aprenda a
ouvir a opinião das pessoas, sobretudo quando se trata de uma realidade em que
você não tem disponibilidade ou possibilidade para se aproximar para conhecer a
fundo.
Observar
como você se relaciona com as pessoas não lhe exime de errar em algumas
situações, mas preservará na memória relações de apoio mútuo e de respeito,
ainda que em meio a situações complexas e turbulentas. Deixar de criar casos no
presente é o que permite preservar boas memórias do passado.
| Um cenário problemático não
justifica agir com brutalidade.
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Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, contracapa (p. 2) do primeiro caderno, 05/10/2013, Edição Nº 1270.
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