sábado, 8 de junho de 2013

Pequenas Doses de Infância

Arte de Weberson Santiago



Natália, Anelise e eu jantando. Vou até a cozinha e volto carregando uma manga vermelha e soculenta. Ela olha e diz:
— Nossa, não acredito que essa é a sobremesa! – sua fruta predileta – Minha barriga tá até sonhando!
Aos cinco anos ela descobriu que a barriga sonha com a comida que a gente gosta chegando por lá. E o sonho da barriga é comer uma fruta docinha.
Beirando os trinta, eu já estou cansado de saber que a barriga também tem pesadelo: quando a gente come em excesso o alimento gostoso e proibido. O personagem do pesadelo não é o bicho papão, é o número da balança.
ef
Saindo para uma viagem de quinhentos quilômetros, após quinze minutos de viagem:
Anelise – Mãe, a gente já tá chegando?
Natália – Não Ane, ainda tem muita estrada pela frente.
Cinco minutos depois ela dorme. Depois de uma hora e meia de estrada, parando no posto:
Anelise – Mãe, a gente chegou?
Natália – Ainda não, vamos fazer um lanche.
Barriga cheia, pé na areia. Tanque no alto, roda no asfalto. Ela entra no carro e dorme de novo. Seis horas depois o GPS avisa que alcançamos o destino:
Natália – Acorda, Ane, já chegamos.
Anelise – Nossa, mãe, essa viagem foi muito rápida! Vocês falaram que ia demorar tanto...
ef
Anelise resolve testar o meu ciúme:
— Augusto, tem um menino da escola, que eu não sei que idade ele tem, que fica me olhando. O que você acha que ele quer?
— Ser seu amigo! – respondi.
— Mas ele olha com um sorriso diferente... Ele tá me paquerando! O que eu faço?
— Se ele ficar olhando, fala oi pra ele!
Observação nº 1: falei isso achando que o proibido é mais gostoso e que se ela falar oi, o menino sairá correndo, já que até na adolescência falta coragem, quem dirá na infância.
Observação nº 2: se alguém souber o endereço do menino, por favor envie no meu e-mail. Vou ter uma conversa séria com esse menino sobre uma distância de segurança, pra que ele preserve a sua própria vida.
ef
Tomando café da manhã, arrumando as coisas pra ir à escola:
Anelise - Augusto, quantos quilos você mede?
Augusto - Você quer saber quantos quilos eu peso? Peso é em quilos e altura é em metros. Quantos quilos eu peso? 77 Kg.
Ane - Nossa, quantos! Você está ficando velho...
Gusto - Não, Ane, eu peso 77 Kg, não tenho 77 anos.
Ane - É bastante! Desse jeito, logo você não vai conseguir passar na porta de tão grande.
Gusto - Bom, vamos pra escola, senão você vai chegar atrasada. A noite te explico a diferença de peso, altura e idade...

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Acompanhando o pensamento de uma criança descobrimos o quanto os adultos complicam as coisas simples.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, capa do Caderno Dois, 08/06/2013, Edição Nº 1255. 


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