Matheus Braga |
Eu tenho
um lindo exemplo na minha família do que hoje as pessoas chamam de inclusão.
Meu tio
Paulo Braga é casado há muitos anos com a tia Denise. Tiveram três filhos:
Vinicius, Matheus e Lucas. Matheus, o do meio, nasceu com paralisia cerebral
devido à falta de oxigênio durante o parto. O diagnóstico inicial foi definido,
mas o prognóstico era dolorosamente indefinido. As sequelas só seriam
descobertas durante seu desenvolvimento.
Buscaram
tratamento para que ele se desenvolvesse o máximo que pudesse, mas o grande
acerto do tio Paulo e da tia Denise foi dar a mesma educação que deram ao
Vinícius e ao Lucas para o Matheus. Eles nunca o trataram como incapaz ou
inferior. Com isto, se recusaram a ensinar que ele deveria se excluir por suas
limitações.
Talvez
esse seja o erro da nossa sociedade. Criamos e mantemos todas as condições que
excluem quem tem algum tipo de deficiência para depois ficar tentando consertar
com a inclusão. Aí já é tarde. Se sentir excluído dói demais. Ser considerado e
tratado como capaz é o que faz desenvolver. O Matheus é a prova disso.
Matheus
foi criado com os mesmos limites e os mesmos deveres que seus irmãos. Mesmo com
um déficit na perna que dificultava um pouco o andar, nunca foi poupado das
tarefas de casa, igualmente distribuídas. Os irmãos é que às vezes o protegiam,
em tom de cumplicidade e lhe poupavam oferecendo ajuda nos deveres. Naturalmente,
o Vinicius e o Lucas continuaram a ajudar o Matheus também na vida adulta. Recentemente, o Vinicius e sua esposa Ellen, nas últimas férias, o levaram para passear em
Buenos Aires, na Argentina.
Na
adolescência, onde um dos irmãos ia, lá estavam os três. Eu que tinha vergonha
de sair com meus irmãos na adolescência, ficava constrangido quando encontrava
os três, sempre tão unidos. Embora a vida tenha levado a família do tio Paulo e
a tia Denise para São José dos Campos, encontrar com eles sempre foi divertido.
Os três irmãos são donos de uma risada única e marcante, um riso exagerado e
contagiante. São bonachões, falam alto.
Nossas
famílias sempre se identificaram. Talvez porque as duas têm três filhos homens.
Foi com o tio Paulo que meu pai aprendeu um método de resolver conflitos entre
filhos. O tio Paulo sentava os dois que estavam brigando e perguntava o motivo
da briga. Vinha uma lista de coisas que um fez pro outro até que ele apartasse.
Então ele falava: “você não está com raiva do seu irmão? Então bate nele! Vai,
vamos resolver isso agora!”. Os dois choravam e não tinham coragem de se bater.
Aí ele fazia dar um abraço. Mandava repetir até que tivesse o mínimo de
carinho. Quando meu pai aplicou o tal método, foi tão incômodo que eu passei a
economizar nas provocações com os meus irmãos.
O
Matheus sempre foi um exemplo de superação e contou com seus pais que puderam
proporcionar tudo, mas não tudo aquilo que o dinheiro compra e sim o que o amor
pode construir. Falando assim, parece uma família perfeita. A deles não é, como
a minha e a sua que me lê também não são.
Eu só
conheço um ponto em que os irmãos se divergem drasticamente. É no futebol.
Desde pequeno, o Vô Mauro foi convencendo o Matheus com bolas e uniformes do
seu time do coração e ele se tornou um são-paulino roxo. A briga na família é
porque o Vinicius, o Lucas e o tio Paulo são corintianos.
Matheus trabalha
há sete anos na loja de construção Leroy Merlin. Calmo e tranquilo, sempre
disposto a ajudar, assim Matheus é descrito por seus colegas de trabalho. Leitor
voraz de revistas e jornais, gosta de dar notícias de tudo e entende de todos
assuntos: política, economia e, principalmente, de esportes.
O
trabalho permitiu acumular um dinheiro na poupança. Com a ajuda dos irmãos e do
Vô Mauro, na última terça, Matheus fechou a compra de um apartamento. Estava tão
emocionado, tão feliz.
Quando
acordou na quarta-feira para ir ao trabalho, Matheus começou a passar mal e
teve um infarto fulminante.
Assim
como toda a família e os seus colegas de trabalho, ainda está difícil aceitar o
que aconteceu. Eu mesmo não consegui contar essa história no tempo passado, resistindo
ao fato de termos perdido o Matheus. A minha vontade é de que tudo isso
continue no presente e no futuro.
Todos nós
escolheríamos a continuidade. Quem sabe ele pudesse realizar o sonho de fazer
faculdade de jornalismo. Queríamos que ele pudesse encarar os desafios do novo
apartamento, as situações do seu trabalho que surgiriam e o que mais a vida lhe
pudesse oferecer.
É duro
aceitar esta imposição. Para nos ajudar a processar a perda, resolvi tornar
pública a história do Matheus e do amor que o tio Paulo, a tia Denise, o Vinicius
e o Lucas, seus avós, tios e primos tinham por ele. O que ele viveu estará
sempre na nossa memória como sinônimo de superação e, agora, fará parte das
lembranças de quem leu e conheceu o quanto especial o Matheus foi para nós.
6 comentários:
Augusto Amato, com certeza Matheus já está devidamente instalado no melhor apartamento que existe,o coração de Deus!
E que família lindamente imperfeita que você descreve, cheia de desafios mas com a coragem que só o amor é capaz de proporcionar.
Minhas orações para vc e toda família de Matheus
Abraço
Bel
Augusto...eu fiquei chocado com a noticia...afinal...cresci com o lucas e o matheus...jogamos basquete juntos...passamos a infancia juntos....minha orações a familia td...q Deus de forças a vcs
Augusto,ainda esses dias estava pensando neles, isto é, no Matheus e no Vinicius.Só me lembro dos dois, do mais novo não.Estudei com o Vinicius (e queria saber do seu paradeiro); lembro-me perfeitamente do Matheus. Que anjo!Meus sentimentos à família. Desejo conforto e paz a vocês.
Parabéns pelas palavras Augusto! Tive o grande prazer na infância e começo da adolescência de conhecer e conviver com o Matheus! Sempre jogávamos basquete em frente a sua casa. Meus sentimentos e muita forca para toda a família! Apesar da distancia , tem pessoas que a gente nunca esquece, ainda mais excelentes personalidades!
Parabéns Augusto... Matheus foi um grande amigo de infancia de sala de estudosss, fiquei muito triste com a noticia desta grande perda.. Meus sentimentos a todos da família, e com certeza aquela grande risada que el dava vai ficar na memória de todos nósss. Agrande abraço
Obrigado pelo carinho, caros amigos, e por terem manifestado o que vocês sentem. A família do Matheus merece e receberá todo este carinho.
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