sábado, 6 de agosto de 2011

Desenvolvimento da Carreira

Arte de Weberson Santiago


Da mesma forma que fomos expelidos do útero para o mundo no nascimento, um dia somos ejetados para o mundo do trabalho. Pode chorar e pode sofrer que não tem volta. Se no nascimento o tapinha é na bunda, no trabalho o tapinha é nas costas.

Crescemos familiarizados com a existência do compromisso profissional do horário e das obrigações, o que gera um misto de curiosidade e aversão. É por este caminho que caminha a humanidade e é acreditando nele que buscamos conquistar o que nos é de grande valia.

Toda profissão tem sua linguagem técnica. Quando damos início a uma nova atividade, precisamos ser alfabetizados naquele tipo de função. No começo, ficamos como criança ouvindo a “língua do p”, sem entender absolutamente nada. P-de p-pois, exibimos nossa familiaridade com as palavras difíceis para quem entende menos ainda numa espécie de teste antes de falar de igual para igual com quem realmente domina.

É difícil esquecer o primeiro emprego sem exagerar no saudosismo. Todo primeiro emprego tem cara de estágio e sempre há quem goste de ser responsável por formar um principiante. A ingenuidade é o que faz a diferença no desempenho nessa primeira infância de uma vida profissional. O ingênuo está sempre disposto, já que não passou por dissabor no ofício.

Um dia a formatura chega e, de um dia para o outro, se deixa de ser um aprendiz para se tornar o profissional. Se não é a conclusão de um curso, pode ser a efetivação ou até a promoção. Passa-se a carregar um sobrenome, como num casamento. É o João da Feira, a Rosa do Clube, o Tomás Dentista, o Renato Publicitário, o Paulo Eduardo Professor de História e por aí vai. E havendo a cerimônia, não pode faltar o juramento e a assinatura. Compromete-se com a profissão, sobre como fazer o seu uso e promete-se a restrição no seu abuso.

É aceitando o peso e fazendo jus ao sobrenome de trabalho que passamos da adolescência na carreira. Isto significa ultrapassar o entendimento de que primeiro vem o nosso próprio progresso e proteção no trabalho e que, depois de conquistado isto, começaremos a prestar ajuda e colaborar com os outros. A especialização na atividade não precisa vir acompanhada de individualismo.

A maturidade no trabalho se mostra na organização do cotidiano. É o que se repete todos os dias que constrói o futuro. Grandes projetos, daqueles que a gente tanto sonha, são empreendidos a partir da coordenação dos detalhes mais simples. A organização demostra o cuidado e o afeto que temos para com o que fazemos.

Pesando tudo isto, é possível chegar à conclusão de que é necessária uma mudança na carreira. Defendo que não devemos sentar na cadeira do comodismo, o que fazemos apoiando os cotovelos na mesa das críticas ao trabalho do outro. Enquanto dispensamos tempo demais no julgamento alheio, esquecemo-nos de cuidar dos detalhes que nos cabem. Além do mais, a acomodação é exibida e vive acenando em pequenas atitudes.

A vida adulta na carreira é o apogeu da profissão, quando estão alinhadas a experiência no trabalho e a vivência pessoal. O maior erro desta fase é precipitar e viver a aposentadoria no trabalho. É deixar de dar o melhor que se tem para dar, com o álibi da falta de reconhecimento, enquanto todos a sua volta se cansam de esperar a sua parte.

Não existe velhice na carreira. Quem não para de trabalhar continua a fazer aniversário, mas não fica velho. E se envelhecer é voltar a ser criança, a cada década de minha vida quero recomeçar a minha carreira, ainda que sentado na mesma cadeira.

UM CAFÉ E A CONTA!

| Querer jogar tudo pro ar a cada segunda-feira é parcelar o fim da adolescência.


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria

Caderno Especial Tradições Euclidianas, p. 2, 06/08/2011, Edição Nº 1159.


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