quinta-feira, 3 de junho de 2010

Férias de Mim

Vou te dar férias de mim. Um período de distância sem pensar na volta para o conhecido. É sumir e esperar que o desprendimento renove o olhar sobre a rotina.

Férias podem ter viagens. Um passeio de seus pensamentos por caminhos que minha presença impediria. Compramos a passagem para uma data futura e levamos na bagagem a necessidade de passear pelo nosso passado. Será livre para andar por aí, no destino escolhido e formar suas percepções do mundo.

Ao te dar férias de mim, viajo para ganhar distância de sua falta. Vou de barco, contemplando a calmaria do oceano e agüentando as ventanias e tempestades. Pego de surpresa pela onda, divido a responsabilidade da remada com aqueles que estão no mesmo barco.

Você vai de ônibus, olhando a velocidade da paisagem pela janela. O encargo de deslocamento atribuído ao motorista obrigando-a a perder-se em pensamentos, sem possibilidade de fugir da consciência. Conversas com passageiros na esperança de passar o tempo eterno do caminho.

Cansado, peço que alguém assuma o remo e deito ofegante no chão do barco. Sua companhia de conversa pega no sono. E o movimento do barco pelo mar e do ônibus pela estrada embalam nossos olhares para a lua. Andando em direções opostas, nossas sensações voltam a se esbarrar.

O ponto de encontro das emoções ainda não sentidas. A fuga da experiência que não fica pra trás seja qual for o caminho. O sentimento presente que dá sentido ao passado. Ao gozar férias de mim, precisou ir ao encontro da minha ausência. Ao te dar férias de mim, quis que amanhã fosse dia útil. Durante as férias que te dei de mim, cansou da conversa da poltrona ao lado.

Ao descer do ônibus, notou que seria impossível se deslocar para longe do sentimento. Eis que um distinto caminho se torna viável. Ao aceitar férias de mim, descobriu que a liberdade do amor deveria ser consentida. Ao retomar desesperadamente o barco, percebi que repetir as remadas é algo insignificante para ir contra o mar do amor.







Revisão por Maichel Satampone Farias.

3 comentários:

Anônimo disse...

ficou muito legal como aproveitou a idéia.
muito bacana.
parabéns pela construção.
abraços augusto!

Tatiana Monteiro disse...

As imagens são tantas que consegui viajar junto. E como foi bom... deitei no chão do barco e pensei: como eu queria tirar férias de mim meudeusdocéu! Lindo texto, Augusto. Dá vontade de ir adiante, pelo mar, pela estrada e pelo caminho que você constrói para nós, através de cada palavra... Beijo, Tati

Rosa Maria disse...

oi Caro Amigo Augusto.
Tirar férias de si é o mesmo que SE deixar conhecer.
No dia a dia não damos O Tempo de entrar em intimidade com o nosso "EU".
Muito bom! Boas férias....rs
Bjinhos.