sábado, 1 de dezembro de 2018

A Felicidade Pode Ser Uma Fuga da Dor

Arte de Weberson Santiago




Lucas era um cara feliz. O sorriso parecia ter sido carimbado na sua cara. Estava sempre brincando com aqueles que estavam ao seu redor.

Não eram brincadeiras inconvenientes, mas piadas divertidas. Aproveitava toda oportunidade que tinha de deixar a vida mais leve.

Ninguém lhe passava despercebido, o cumprimento era sempre acompanhado de um sorriso e uma tirada. Parecia que Lucas acordava todos os dias para espalhar a felicidade por onde passasse.

Por conta deste comportamento, era visto como alguém legal e espontâneo para a maioria das pessoas. Não tinha inimigos, raramente incomodava alguém.

Um dia, numa roda de colegas da qual eu fazia parte, surgiu o comentário de que alguém na cidade havia se suicidado. Foi quando Lucas fez uma revelação que surpreendeu a todos.

A sua mãe havia se matado quando ele ainda era criança. Ele contou que ela sempre teve depressão e havia passado a vida toda entre momentos de grande tristeza e de melhora.

A separação lhe fez recair mais vezes. As primeiras tentativas foram com excesso de medicação, mas ela sempre sobreviveu.

Mais adiante ela se jogou na frente de um veículo em movimento. Não morreu na hora, ficou dias internada. Quando Lucas lhe perguntava a razão de ter feito isso durante a internação, ela mudava de assunto. A angústia era sua maior companheira, ela já havia revelado antes que queria pôr fim ao seu sofrimento.

A família já havia tentado psiquiatra e psicólogo, mas não haviam sido suficientes para lhe amenizar a dor. No hospital ela pegou uma infecção e morreu. Lucas revelou que ainda pensava que podia ter feito mais alguma coisa, apesar de eu ter observado que o seu relato todo tenha sido feito com aceitação.

A turma que o rodeava, depois da surpresa com a revelação, acolheu a história de Lucas e retribuiu com afeto a alegria que ele proporcionava na convivência. Ninguém imaginava que alguém que esbanjava tanta animação pudesse ter vivido algo tão difícil.

Para mim, ficou mais fácil entender a sua alegria. Lucas havia se proposto uma missão: a de não permitir se entregar a tristeza e de ajudar àqueles que estão ao seu redor a não sucumbir a dor.

Desta maneira, evitaria que outros filhos perdessem uma mãe ou um pai, um irmão ou um filho. Com isso, curaria a sua própria dor enquanto ajudava os outros a deixar a sua de lado.

As situações mais difíceis sempre têm muitas saídas. Algumas nobres e honrosas. Outras atalhos perigosos. Na minha opinião, Lucas havia transformado seu sofrimento em algo produtivo, havia encontrado uma saída honrosa para lidar com a sua perda.

Mais vale lutar para manter a felicidade do que se entregar resignado a dor.

 UM CAFÉ E A CONTA!
| Por trás da alegria abundante pode existir uma boa dose de tristeza.


Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 30/11/2018, Edição Nº 1540.

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