Arte de Weberson Santiago |
Outro dia eu caí numa cilada. A Natália me convidou para ir
com ela no centro da cidade no sábado de manhã. O convite veio disfarçado de
café da manhã na padaria com uma passadinha rápida em um lugar antes e um lugar
depois, mas se revelou no que eu chamo como uma interminável peregrinação pelo
comércio.
Minha mulher numa rua de comércio é como uma criança na
sessão dos chocolates, como um homem na loja de ferramentas. As vitrines são
convites, os produtos que ela gosta são como um imã que atraem a atenção e a
puxam para dentro do estabelecimento. Um pagamento a vencer que só pode ser
pago em uma loja envolve um convite para ver as novidades. E mesmo que ela não
compre, parece que essa saída, o passeio e o entra e sei são terapêuticos,
porque ela volta animada e renovada.
O pretexto é sempre uma pendência que não pode ser resolvida
na semana: passar da farmácia para comprar o medicamento que está faltando ou
um produto que falta no supermercado. Na prática, as necessidades se multiplicam
como greemilings quando se joga água. “Será que naquela loja de um e noventa e
nove tem aquele apetrecho de cozinha que está faltando?”, ao mirar a fachada.
“Nossa! Ainda bem que estamos aqui, preciso comprar aquele presente para a
nossa amiga que está grávida!”. Com isso, a saidinha tomou a manhã toda e se
estendia pelo horário do almoço.
Se para ela o passeio estava ótimo, para mim foi uma tortura.
Enquanto a gente entrava e saía das lojas eu pensava: “agora eu poderia estar
nadando, adiantando aquele trabalho para a próxima semana ou até mesmo não
fazendo nada em casa”. Como a irritação foi crescente, ela percebeu, cortou
alguns compromissos e fomos embora.
Conversando em casa, combinamos que o sábado de manhã, depois
do café, é cada um por si, fazendo o que precisa e o que gosta de fazer até que
nos reencontremos para o almoço. Assim, ninguém fica aborrecido e insatisfeito.
Temos outros momentos para ficar juntos.
Agora, a grande prova de amor foi o que ela me pediu no
último aniversário: fazer compras na 25 de março em São Paulo. Respirei fundo,
utilizei técnicas de meditação, reuni toda a minha disposição e passei seis
horas acompanhando suas compras e cumprindo o check-list de desejos e
necessidades que ela fez para o passeio.
O que a gente não faz por amor?
| Quando for convidar seu namorado ou marido para passar a manhã
andando no centro, certifique-se que ele está disposto.
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