sábado, 4 de novembro de 2017

Rolé no Centro

Arte de Weberson Santiago



Outro dia eu caí numa cilada. A Natália me convidou para ir com ela no centro da cidade no sábado de manhã. O convite veio disfarçado de café da manhã na padaria com uma passadinha rápida em um lugar antes e um lugar depois, mas se revelou no que eu chamo como uma interminável peregrinação pelo comércio.

Minha mulher numa rua de comércio é como uma criança na sessão dos chocolates, como um homem na loja de ferramentas. As vitrines são convites, os produtos que ela gosta são como um imã que atraem a atenção e a puxam para dentro do estabelecimento. Um pagamento a vencer que só pode ser pago em uma loja envolve um convite para ver as novidades. E mesmo que ela não compre, parece que essa saída, o passeio e o entra e sei são terapêuticos, porque ela volta animada e renovada.

O pretexto é sempre uma pendência que não pode ser resolvida na semana: passar da farmácia para comprar o medicamento que está faltando ou um produto que falta no supermercado. Na prática, as necessidades se multiplicam como greemilings quando se joga água. “Será que naquela loja de um e noventa e nove tem aquele apetrecho de cozinha que está faltando?”, ao mirar a fachada. “Nossa! Ainda bem que estamos aqui, preciso comprar aquele presente para a nossa amiga que está grávida!”. Com isso, a saidinha tomou a manhã toda e se estendia pelo horário do almoço.

Se para ela o passeio estava ótimo, para mim foi uma tortura. Enquanto a gente entrava e saía das lojas eu pensava: “agora eu poderia estar nadando, adiantando aquele trabalho para a próxima semana ou até mesmo não fazendo nada em casa”. Como a irritação foi crescente, ela percebeu, cortou alguns compromissos e fomos embora.

Conversando em casa, combinamos que o sábado de manhã, depois do café, é cada um por si, fazendo o que precisa e o que gosta de fazer até que nos reencontremos para o almoço. Assim, ninguém fica aborrecido e insatisfeito. Temos outros momentos para ficar juntos.

Agora, a grande prova de amor foi o que ela me pediu no último aniversário: fazer compras na 25 de março em São Paulo. Respirei fundo, utilizei técnicas de meditação, reuni toda a minha disposição e passei seis horas acompanhando suas compras e cumprindo o check-list de desejos e necessidades que ela fez para o passeio.

O que a gente não faz por amor?

  UM CAFÉ E A CONTA!
| Quando for convidar seu namorado ou marido para passar a manhã andando no centro, certifique-se que ele está disposto.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 04/11/2017, Edição Nº 1484.

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