Foto: Augusto Amato Neto |
A primeira viagem que a Natália, a Anelise e eu fizemos foi para Delfinópolis, Minas Gerais. Cidadezinha de sete mil habitantes localizada entre a Represa de Peixoto e a Serra da Canastra, que tem o privilégio de incluir em seu território mais de 100 cachoeiras.
No caminho da
ida, avistamos uma enorme árvore de copa frondosa que cobria toda a estrada. Ao
pensar que experimentar a sombra foi um presente em nosso caminho, estacionei
no acostamento.
O tronco era
extremamente largo, suas raízes eram tão grandes que formavam bancos sinuosos
ao seu redor. O chão tinha um tapete de folhas secas que nos dava a impressão
de pisar nas nuvens.
Ali nos sentamos e sentimos a brisa. Em um momento de ternura, num gesto de cumplicidade estendi a mão com a palma para baixo e olhei para a Natália. Ela colocou a palma da sua mão sobre a minha e foi imitada pela Anelise, pequenininha, que completou o gesto.
Aquele gesto
espontâneo representou um pacto de união. Que permaneceríamos juntos na estrada
da vida, sejam as surpresas dos caminhos da vida agradáveis ou desagradáveis.
Aprendi com meus
pais que quando a gente se casa e constitui uma família, ela passa a ser a
prioridade de nossa vida. As escolhas devem ser feitas pensando em primeiro
lugar nesse nosso núcleo familiar e a família mais ampla deve estar em segundo
plano. Isso significa que os problemas do casal ou família devem ser resolvidos
em casa e não devem ser levados para os pais ou outros familiares. Significa
também que se algum familiar não aceita minha mulher ou minha filha, não aceita
minha família e por consequência não me aceita.
Foi naquela
sombra, fazendo aquele gesto que eu tomei consciência de que nossa família
seguiria nestes princípios e valores. E aquele gesto passou a ser repetido em
ocasiões específicas. Como quando comemoramos uma de nossas conquistas, depois
de conversar sobre como resolver algum problema fora de casa ou quando
conversamos para superar algum conflito entre nós. Selamos a conversa de
resolução com aquele gesto de sobreposição das mãos.
Cada problema
superado e cada vitória comemorada é a vida seguindo. O que eu espero é que,
independente da estrada, do ponto de partida ou do ponto da chegada, que
lutemos para preservar a nossa união.
| Às vezes a
gente precisa viajar pra longe de casa para se lembrar dos valores do que a
gente tem dentro dela.
|
Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 10/06/2017, Edição Nº 1463.
Nenhum comentário:
Postar um comentário