sábado, 10 de junho de 2017

A Pilha de Mãos

Foto: Augusto Amato Neto

A primeira viagem que a Natália, a Anelise e eu fizemos foi para Delfinópolis, Minas Gerais. Cidadezinha de sete mil habitantes localizada entre a Represa de Peixoto e a Serra da Canastra, que tem o privilégio de incluir em seu território mais de 100 cachoeiras.

No caminho da ida, avistamos uma enorme árvore de copa frondosa que cobria toda a estrada. Ao pensar que experimentar a sombra foi um presente em nosso caminho, estacionei no acostamento.

O tronco era extremamente largo, suas raízes eram tão grandes que formavam bancos sinuosos ao seu redor. O chão tinha um tapete de folhas secas que nos dava a impressão de pisar nas nuvens.


Ali nos sentamos e sentimos a brisa. Em um momento de ternura, num gesto de cumplicidade estendi a mão com a palma para baixo e olhei para a Natália. Ela colocou a palma da sua mão sobre a minha e foi imitada pela Anelise, pequenininha, que completou o gesto.



Aquele gesto espontâneo representou um pacto de união. Que permaneceríamos juntos na estrada da vida, sejam as surpresas dos caminhos da vida agradáveis ou desagradáveis.

Aprendi com meus pais que quando a gente se casa e constitui uma família, ela passa a ser a prioridade de nossa vida. As escolhas devem ser feitas pensando em primeiro lugar nesse nosso núcleo familiar e a família mais ampla deve estar em segundo plano. Isso significa que os problemas do casal ou família devem ser resolvidos em casa e não devem ser levados para os pais ou outros familiares. Significa também que se algum familiar não aceita minha mulher ou minha filha, não aceita minha família e por consequência não me aceita.

Foi naquela sombra, fazendo aquele gesto que eu tomei consciência de que nossa família seguiria nestes princípios e valores. E aquele gesto passou a ser repetido em ocasiões específicas. Como quando comemoramos uma de nossas conquistas, depois de conversar sobre como resolver algum problema fora de casa ou quando conversamos para superar algum conflito entre nós. Selamos a conversa de resolução com aquele gesto de sobreposição das mãos.

Cada problema superado e cada vitória comemorada é a vida seguindo. O que eu espero é que, independente da estrada, do ponto de partida ou do ponto da chegada, que lutemos para preservar a nossa união.


  UM CAFÉ E A CONTA!
| Às  vezes a gente precisa viajar pra longe de casa para se lembrar dos valores do que a gente tem dentro dela.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 10/06/2017, Edição Nº 1463.

Nenhum comentário: