sábado, 13 de maio de 2017

Madrugadas Corridas

Arte de Weberson Santiago



Você contou aos sete ventos que gosta de me espiar dormindo aos domingos de manhã. Que seu prazer dominical é fazer a vigília do meu sono. O que você não sabe é que eu gosto do inverso: de te espiar acordando nos dias úteis de madrugada.

Quando lhe vejo despertar às cinco e meia, três vezes por semana, para fazer atividade física, sinto que sou casada com a disposição. Admiro o quanto você se esforça para manter um hábito saudável. Você prefere que eu vá com você ao invés de fazer a corrida sozinho. Me avisa de véspera ainda que corra em dias fixos. "Amanhã tem corrida, hein?", diz você quando me vê deitada. Seu lembrete é como se fixasse um post it na minha agenda. Eu sempre durmo com a intenção de lhe acompanhar.

Quando eu venço a preguiça e saio para correr ao seu lado, é como se juntos, correndo lado a lado, estivéssemos a frente de todo o resto do mundo. Como se tivéssemos uma vantagem por levantar primeiro, por estar adiantado em relação a quem ainda está na cama.

Quando a gente acorda correndo, tudo fica pequeno: os problemas, as dificuldades, as diferenças. É como se os problemas encostassem na gente e a gente apertasse o ritmo das passadas, deixando-os para trás. Conforme a gente segue a nossa corrida, vai aumentando a nossa cumplicidade porque a gente sente o quanto é mais forte juntos.

Você me conhece bem, sabe do meu excesso de preguiça pela manhã e que as últimas são minhas melhores horas de sono, mas mesmo assim nunca desiste de tentar me arrastar.

Quando eu digo que não vou, você me respeita e me deixa descansar. Nunca me cobra por não ter ido, nem briga porque eu preferi descansar mais um pouco em vez de lhe acompanhar.

Para mim, a sua persistência em me querer ao seu lado na corrida é uma prova do seu amor. Você nunca desiste. Para mim, sua aceitação da minha preguiça é uma prova ainda maior do seu amor. Você me aceita com meus defeitos.

Quando meu dia começa com você me convidando para correr eu sinto o nosso amor vivo nos dias úteis, e não somente aos finais de semana ou nas datas especiais.

Quando começamos o dia correndo juntos de madrugada, o sol nasce primeiro dentro da gente antes de apontar no horizonte de todas as outras pessoas.

  UM CAFÉ E A CONTA!
| Você não é despertado pelo sol, você lembra o sol que ele precisa despertar as outras pessoas.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, caderno Dois, 13/05/2017, Edição Nº 1459.

Um comentário:

Unknown disse...


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