Arte de Weberson Santiago |
Tenho olhado para os lados e me deparado com coisas
desagradáveis de se ver. A machete que relata uma tragédia em destaque no
jornal, logo cedo, no chão da garagem. Tento não me abater com o fato de que a
humanidade não deu certo.
Dali há pouco, assisto uma cena de humilhação de uma pessoa
com um funcionário na frente de um monte de clientes. Fico com raiva porque o
funcionário havia me atendido bem, ainda que tenha cometido pequenas falhas. A
falha é o que faz de nós humanos, penso. Abordo o humilhado e digo que gostei
de seu serviço, para ver se vou embora menos incomodado. O estrago tinha sido
feito e eu, feito o que estava ao meu alcance.
Transitando de carro pela cidade no fim da tarde, me deparo
com motoristas agitados, apressados e impacientes. O tráfego parecia um surto
coletivo. Pessoas bravas, fugindo, correndo. Como animais fugindo de uma presa,
sem estar sendo de fato perseguidos por algo visível. Sentindo-se armados,
fortes e poderosos com o veículo guiado sob o domínio de suas mãos. Jogando
seus carros em quem bem entendem, colando o seu carro na traseira do mais lento
que está a sua frente. Exilo-me na calma da direção defensiva, pensando que
deveria mandar uma mensagem a mulher dizendo para se cuidar no trajeto de volta
para casa.
A sensação que eu tenho é que nunca foi tão difícil não se
abater pelas dificuldades. Por mais que meu olhar esteja treinado para enxergar
o oposto de tudo o que eu relatei nas linhas acima, parece que as dificuldades
tem se multiplicado. O que tem acontecido sem trégua.
Eu continuo contemplando o que é belo, mas o que é feio e
sujo grita por atenção. Eu percebo que existe bonança mesmo em períodos de
tempestade ou de seca, mas a garganta tem sentido demais as mudanças bruscas de
tempo.
Sim, eu enxergo o lado bom da crise e eu acho bom que a
corrupção venha a tona para quem sabe diminuir de frequência. Mas que tá
difícil carregar o peso das consequências de tudo isso, tá.
Afinal, quem paga o preço somos todos nós que, nos
desdobramos mais um pouco, arregaçamos a manga mais um pouco, aceitamos
carregar mais um pouco de peso de trabalhos e de preocupações em nossos ombros,
ao mesmo tempo que aprendemos a carregar mais vento em nossos bolsos.
A gente se dá mais e recebe menos. Por isso, vive melhor quem
espera menos em troca de se doar. Vive melhor quem aguenta ficar calejado de
enfrentar dificuldades para não experimentar o sabor da desistência. Vive
melhor quem não se entrega e que tem fé que dias melhores virão.
| Um mundo em crise é um lugar onde as pessoas entram em crise. Qual
é a sua?
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