Arte de Weberson Santiago |
Tem pessoas que nascem com rugas. Algumas nascem com pautas na testa.
Umas nascem com aspas marcadas entre as sobrancelhas. Outras nascem com raízes
que se ramificam do canto dos olhos. Tem aquelas que nascem totalmente enrugadas
como um filhote de Shar-Pei. Mas diferente dos filhotes de Shar-Pei, as pessoas
que nascem com rugas não são nada fofas.
As pessoas que nascem com rugas são aquelas que parecem que são
mal-humoradas antes mesmo de sair do ventre da mãe. Quando entramos em contato
com uma, temos a sensação de que ela nasceu berrando com o choro estrindente
antes mesmo de levar o tapa na bunda como se a culpa de ter que sair do útero
da mãe fosse do médico.
A pessoa que nasce com rugas não ficou amarga com as agruras da vida.
Ela não tem o álibi da velhice, não ficou assim por conta das suas perdas.
A pessoa que nasce com rugas, não precisa de motivo, não precisa de
contexto, não precisa de condição. Ela é mal-humorada a priori. A situação só
serve para ela botar a agressividade para fora.
A pessoa que nasce com rugas acha a vida um fardo e desconsidera a
necessidade dos outros. Aliás, dependendo do tamanho da ruga, desconsidera o
outro inteiro. Preferiria que o outro não existisse. Dependendo da quantidade
de rugas, pensa que o outro só existe para atrapalhá-lo.
A pessoa que nasce com rugas não agradece o céu azul e o dia ensolarado,
porque vai suar. A pessoa que nasce com rugas não enxerga a chuva como uma
benção nem após a longa estiagem, pois a chuva molhará os seus sapatos e lhe
fará carregar o guarda-chuva.
A pessoa que nasce com rugas não fala bom dia, não dá boa tarde e nem
deseja boa noite.
Infelizmente ainda não inventaram uma cirurgia plástica para estas rugas
que eu estou falando. E o pior: às vezes as rugas da pessoa que nasce com rugas
são invisíveis. Ficam escondidas por detrás de uma máscara de pele lisinha e de
um sorriso de Mona Lisa. Você só vai descobrir que é uma pessoa que nasceu com
rugas depois de se aproximar e tomar um choque.
Eu já me enchi de esperança de que as situações da vida consertassem as
pessoas que nascem com rugas. Imaginava cá com os meus botões: “depois de ter
passado por isso, agora a pessoa muda”. E nada.
A esperança era minha, quem aprendeu a lição foi eu. Eu bem que queria
falar: “Olha o que a vida está te ensinando! Preste atenção, reveja seus
comportamentos...”. Mas quem disse que a pessoa que nasceu com rugas me dá o
espaço para lhe mostrar?
As pessoas que nascem com rugas parecem um pouco cegas e um pouco
surdas. Um pouco porque quando é para benefício próprio, elas enxergam e
escutam muito bem. Quem nasce com rugas é liso.
Ruga boa não é essa de nascença. Ruga boa é aquela que vai se desenhando
com o passar dos anos, como cicatrizes de quem vive e aprende as lições da vida.
Ruga boa é aquela que a gente vê aparecer junto com uma careca, mas que não
apareceu porque rejeita-se a si mesmo pela falta de cabelos. Ruga boa é aquela que vai sulcando a pele conforme os cabelos necessitem ser tingidos de tempos em
tempos para cobrir os cabelos brancos, enquanto se aceita os efeitos de ficar
velho sem perder o sorriso. Ruga boa é a que te convida para desvendar a
história de vida que teve como consequência aquela marca.
A ruga de quem vive a vida com hombridade atrai. A ruga de quem nasceu
para deixar marcas tristes nos outros espanta.
| As suas
rugas atraem ou espantam?
|
Um comentário:
Aguarde a minha agora... Pro próximo mês, no OJornalzinho!!!!
Postar um comentário