Faz alguns anos que eu pratico natação por três vezes na semana. O
horário que eu encontrei para encaixar o compromisso foi às seis da manhã. Um
horário em que a maioria das pessoas tem disponível para praticar uma atividade
física é antes de entrar no trabalho.
Vira e mexe aparece um novo praticante na piscina. Não é uma aula de
natação, e sim um horário em que a piscina está disponível para quem quiser
treinar. Naturalmente, enquanto damos os curtos intervalos entre as idas e
vindas, aproveitamos para puxar conversa entre os nadadores.
Durante esta prática, assisti uma coisa acontecendo com diversas
pessoas. Elas chegam extremamente empolgadas para começar a nadar. Ir e voltar,
ou seja, nadar cinquenta metros, é algo exaustivo para o iniciante. A
empolgação faz com que o iniciante empregue todo o seu vigor, como se estivesse
brigando ou batendo na água.
Quando converso com este iniciante, percebo que a pessoa que está
sedentária e quer retomar a atividade física. Só que não pensa em uma
frequência e quantidade que realmente pode encaixar na sua rotina sem
prejudicar outros compromissos.
Vou citar um exemplo. Teve um cara me contou que teve um filho há seis
meses e que parou de praticar atividade física há alguns anos, mas que
pretendia nadar e fazer academia todos os dias. Não precisou de vinte e cinco
metros para eu pensar que seria difícil, com um bebê recém-nascido em casa e
trabalhando de segunda a sexta, manter essa frequência. Na primeira semana ele
foi todos os dias até no sábado. E nunca mais apareceu.
Percebo também que muitos ignoram que o corpo precisa de começar devagar
para possa se adaptar gradativamente ao aumento da carga de exercício. Além do
cansaço excessivo, aumenta-se muito o risco de lesão. Apesar da natação não ter
impacto, as pessoas fazem muito isso com o retorno à academia, sem ter a
dimensão do risco que correm.
De que adianta nadar três mil metros durante quinze dias e depois ficar
seis meses sem fazer exercício nenhum?
Eu prefiro me manter nos mil metros e nadar três vezes por semana
durante o ano todo, inclusive no inverno. Não, eu não sou insensível ao frio.
Tenho o privilégio de ter uma piscina aquecida e coberta no clube. E mesmo que
no frio dê uma enorme preguiça de ir, me obrigo. Só tem uma exceção que me faz
ficar dormindo: quando estou excessivamente cansado. Aí o exercício não me fará
bem, pois atuará como um estressor. Nesta condição, me permito faltar.
É preciso respeitar nossos próprios limites. Qualquer pessoa é capaz de
perceber os sinais que o seu próprio corpo dá, desde que esteja interessado e
disponível a se auto-observar. Nessas conversas de beirada de piscina, algumas
vezes ouvi que nado devagar e que nado pouco. Na verdade, eu aprendi a dosar a
quantidade e a velocidade errando.
Uma vez acordei empolgado e nadei dois mil metros. O dia foi cheio de
compromissos de trabalho e a noite fui dar aula na faculdade. Os alunos de
minha supervisão estranharam a bateria rebaixada. Perceberam que eu estava
cansado e me disseram. Foi quando eu percebi que havia exagerado na natação.
Quando for começar ou retomar a prática de atividade física, comece
devagar e escolha uma frequência que você é capaz de cumprir. Valorize os
pequenos progressos e respeite os seus limites. Cada pessoa tem um tempo de
aprendizagem e um bom educador físico sabe respeitar este limite.
| Exagerar
na dose é a maneira mais rápida de produzir a desistência.
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