Arte de Weberson Santiago |
Estava no primeiro ano da faculdade, aos 17 anos, quando peguei uma
carona partindo de Mococa rumo a São Paulo com o meu tio-avô Roberto Braga e
sua esposa, a tia Irai.
Depois de muita conversa, ative-me a leitura de textos passados pelos
professores da faculdade no banco de trás. A tia Irai pegou no sono. Numa de
minhas pausas para pensar no que o texto dizia, presenciei uma cena que me
marcou.
Tio Roberto tocou a perna da tia Irai e afagou-lhe a coxa enquanto ela
dormia. Era como se suas mãos quisessem conversar, mas como ela dormia, o tato
funcionava como uma resposta. A cena se repetiu mais adiante na estrada,
seguida de um olhar generoso com um sorriso no rosto dele para ela dormindo. Percebi
que ele ficava feliz em encontra-la ao lado, ainda que ela estivesse
cochilando.
O carinho pode ser comum entre jovens apaixonados, mas parece faltar aos
casais com mais tempo de união. Fui testemunha ocular do que eu julgo que está
em falta. Eles já haviam passado dos 35 anos de casados, mas conservavam o carinho
de quando eram apenas namorados.
Quando vi aquela cena, tive uma única certeza: “É isso que eu quero para
minha vida”, pensei. Naquele momento eu era inexperiente, nunca havia namorado.
Mal sabia beijar direito, mas já definia o que queria como maturidade no meu
casamento.
Qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade reverencia um casal de
mãos dadas ou demonstrando carinho um para com o outro. Eu admiro a preservação
do amor a despeito do tamanho da história. Admiro a persistência da gentileza,
a insistência do afeto.
Numa das psicoterapias que fiz, antes de mim era atendido um casal de
velhos, certamente com mais de oitenta anos cada um. Eu achava um barato os
dois investirem tempo e dinheiro para pensar na relação, para cuidar dos
sentimentos.
Tio Roberto e tia Irai vão descobrir agora, lendo esta crônica, que me
serviram de inspiração. Ela já estava escrita quando vi seus filhos comemorando
na rede social os cinquenta anos de casamento durante esta semana, quando minha
crônica será publicada. Nada mais oportuno. Aquele gesto simples despertou
minha admiração. E este amor preservado pelos dois sem dúvida fez e faz a
diferença para a vida dos filhos e dos netos. É uma família bonita, que esbanja
amor.
Que eu possa cumprir a promessa, que em primeiro lugar fiz a mim mesmo e
mais adiante a Natália, de ser sempre namorado dentro do meu casamento, até o
fim de nossas vidas.
| O que se repete todos os dias é o que constrói o futuro.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário