sábado, 1 de novembro de 2014

Enxoval de Esperanças

Arte de Weberson Santiago



Luciana se enchia de esperança a cada novo relacionamento. Bastava o primeiro encontro e o telefonema do rapaz na semana seguinte para que ela começasse a se imaginar casando. Conforme o relacionamento avançava, ela que trabalhava no comércio, começava a comprar coisas em lojas de departamento: utensílios domésticos, roupas de cama, mesa e banho.
Quando Carlos, o primeiro namorado, descobriu a compra, se assustou com o tamanho do passo, com a rapidez da evolução. Fugiu do compromisso e abandonou o relacionamento. Luciana ficou muito chateada, perdeu a esperança de se casar, mesmo com as amigas lhe dizendo que ele partiu porque não gostava dela de verdade. Sentiu-se culpada.
Ainda assim, bastava que ficasse com outro rapaz em uma festa e ele demonstrasse a intenção de marcar outro encontro, para que ela fosse tomada por uma coceira incontrolável para comprar algum objeto para quando viesse a se casar. Era uma vontade persistente, que se sustentava em um sonho muito desejado.
Como percebeu que as compras tinham assustado o seu namorado anterior, Luciana passou a adiar mostrar todos os objetos que ela dispunha para usar após o casamento. Mantinha-os em um quartinho na casa de sua mãe. Quando o novo namorado Fábio, conheceu o enxoval, também pulou fora da relação. E foi assim com o Lucas, o Paulo e o Edgar.
Luciana já tinha uma casa completa dentro daquele quarto, entre móveis, enxoval e utensílios de cozinha, mas lhe faltava a esperança. Pouco a pouco ela foi diminuindo, chagando a pensar que não usaria nada daquilo que foi juntando, pois seus namoros não evoluíam.
Até que Luciana conheceu o Marcos, um cliente que atendeu na loja onde trabalhava. Ele era auxiliar administrativo em uma imobiliária do centro da cidade e havia acabado de receber as chaves de um pequeno apartamento que tinha financiado desde a planta. Ele havia entrado na loja para comprar as primeiras coisas pro novo apartamento.
Luciana lhe vendeu um jogo de cama de casal e entendeu que ele tinha a cama, mas não tinha a companhia. Observou as mãos e não encontrou nenhuma aliança. Ele achou ela bonita, mas só tomou alguma iniciativa quando lhe encontrou num restaurante por quilo e a convidou para sentar na mesa dele.
Pronto. Ele tinha o apartamento e ela era dona de tudo o que era preciso para transformar aquele espaço em um lar. Era a panela conhecendo a sua tampa. As metades da laranja que se completavam. Os opostos se atraindo na intensidade de um imã.
— Você não se importa de usar todas aquelas coisas que eu comprei em outros relacionamentos? – perguntou Luciana.
— Não – respondeu Marcos sem titubear – você comprou pra usar com seu marido, mas nenhum deles merecia ocupar este lugar. Você já comprava pra nossa casa, só que ainda não sabia disso.
UM CAFÉ E A CONTA!
| Relacionamentos que não deram certo devem nos ensinar algo para quando estivermos diante de um relacionamento que pode dar certo.

Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, capa do caderno Dois, 01/11/2014, Edição Nº 1329.

Nenhum comentário: