Arte de Weberson Santiago |
Quando eu era criança tinha a mania de deitar no chão e imaginar como
seria a vida de ponta cabeça. Passava um bom tempo imaginando como seria andar
no teto.
O cuidado para não pisar na lâmpada. A viga no meio da sala seria um
obstáculo a ser pulado se caminhássemos no forro, e a luminária seria como uma
mesinha com tampo de luz.
Hoje eu entendo que ficar imaginando a casa de ponta cabeça era um
exercício de alternar meu ponto de vista sobre a vida.
Ao caminhar no teto em pensamento, me observava fazendo algo. Penso no quão
importante é se observar na vida: como
nos comportamos nas situações mais desafiadoras? Como nos relacionamos com as
pessoas a nossa volta? Quais foram os sentimentos nas condições vividas?
O autoconhecimento só é possível com uma porção de distanciamento. Ver
de fora.
A outra condição importante é se colocar no lugar do outro. O exercício
de pensar em como se sente, quem convive com a gente, nos torna capazes de
evitar atitudes desnecessárias e contraproducentes.
Exemplifico. Alguém que convive comigo ficou envolvido em um trabalho
esperando um resultado que não veio, e ficou com uma baita raiva de ter feito
tudo em vão e revoltado com todos os que estiveram envolvidos no resultado
negativo.
Se eu fizer o exercício de me colocar no lugar dele, saberei entender
seu sentimento diante da frustração. Não irei contra aquilo que ele diz ou faz
com argumentos, tentando convencê-lo que a vida tem dessas coisas. Muito menos
irei cobrá-lo de qualquer coisa neste momento, ainda que ele tenha prometido
fazer algo pra mim há um bom tempo. Eu sei que o sentimento dele vai
comprometer nossa comunicação e, talvez, a nossa relação.
Autocontrole é analisar as contingências antes de se comportar, ao invés
de pensar depois de já tê-lo feito.
Saiba experimentar o ponto de vista do outro. E saiba que isto não
significa assumir responsabilidades do outro ou fazer as coisas pelo outro. É
experimentar as lentes dos óculos do parceiro para entender o que ele vive e saber
como lidar com ele.
E de uma coisa eu não tenho dúvida. A melhor posição para fazer tudo
isso é deitado no chão, olhando para cima.
Deite no chão da sala e olhe para o teto. Deite no chão do quintal e observe
as estrelas. Deite na grama e veja as nuvens.
Se você não se permitir este tempo, a hora que você deitar na cama e encaixar
sua cabeça no travesseiro, um excesso de pensamentos e sentimentos irão invadir
o espaço reservado para o seu sono.
Reserve um tempo em sua rotina para andar no forro da sua casa. Abra uma
brecha na agenda para deitar no chão. Tome distância da sua própria vida em
pensamento. A hora que seus pés tocarem o chão novamente você estará muito mais
preparado para agir.
| Saiba vestir o figurino das
pessoas que convivem com você para saber onde a roupa aperta e onde tem
espaço sobrando.
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Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, capa do Caderno Dois, 14/12/2013, Edição Nº 1280.
3 comentários:
simples, complexo e tão verdadeiro...
simples, complexo e tão verdadeiro...
Muito bom o texto.
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