Arte de Weberson Santiago |
Eu escrevo porque vivo. Estou vivo porque escrevo.
A escrita me salvou. Não me livrou do mundo nem das agruras
de viver. A escrita me salvou de mim mesmo. Me livrou de habitar os recônditos
do esquecimento.
Vivo a esquecer o que eu busco quando eu vou de um lado para
o outro dentro da minha própria casa, mas não aceito perder o sentido da vida.
Escrevo para tentar encontrar o rumo da minha.
Eu escrevo para não viver apenas de rascunhos. Escrevo para
passar a limpo as minhas experiências.
Se eu não posso desfazer os caminhos que percorri, escrevo
para documentar os lugares que passei, as pessoas que encontrei, as histórias
que compartilhei.
Escrevo porque acredito nas palavras. Uma vez que meu excesso
de vontades encontra no vocabulário da língua a infinidade que precisa para
divulgar emoções.
Escrevo para fazer publicidade do amor. Para defender que é
preciso tirar o amor da dimensão dos sentimentos para praticá-lo em ações.
Escrevo para mostrar que são poucos os que se atrevem a praticar o amor. Para
que eu tenha o que fazer quando não fizer amor. E quando o amor está soterrado
pela fadiga ou pela raiva, escrevo para resgatar o amor.
Escrevo por falta de modéstia. Ocupar meia página do jornal com
a primeira pessoa do singular não é coisa de quem vive no retraimento. Não é
pra quem sofre de timidez. Ao contrário, escrever é pra quem tem pretensão de
sobra.
Escrevo porque não consigo ficar de boca fechada. Escrevo
porque não consigo calar minhas mãos.
As palavras promovem mudanças, mas o percurso dessas só se
revela depois. Como as vezes me falta paciência, eu semeio com pressa os
termos, vocábulos, verbos e expressões e preciso que você regue com os seus
sentimentos. O que vai germinar é incerto.
A palavra deixa de me pertencer no exato instante em que lanço
mão do último ponto final e é recolhida
pelos seus olhos, ouvidos e coração. A palavra dita não pode ser recolhida, a
palavra escrita não pode mais ser desdita, apagada. Está documentada e passa e
ser sua, de quem a ouviu ou leu, e você faz o que quiser dela.
| Escrever é fazer tatuagem no espelho.
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Publicado no Jornal Democrata, coluna Crônicas de Padaria, capa do Caderno Dois, 08/12/2012, Edição Nº 1229.
Um comentário:
Escrever é mágico e libertador mesmo.
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