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Arte de Weberson Santiago |
Todo relacionamento que se preze tem em seu histórico um conjunto de
pequenos motivos para divergir, para brigar, ou para reclamar. Não me causa
espanto que um casal que enfrenta um conflito venha a discutir, a se
descontrolar, a agredir verbalmente o parceiro. O que eu realmente não entendo
é um casal que decide, em conjunto, dar um tempo. Dar um tempo no sentido de
suspender o relacionamento temporariamente, com ou sem afastamento físico.
Dar um tempo é optar pelas reticências onde não deveria ter uma vírgula
ou então onde se deveria colocar um ponto final. Dar um tempo é adiar a tomada
de decisão: se vai ou racha. É preferir a interrogação ao invés da exclamação.
Dar um tempo é a pior maneira que lidar com um problema na relação. Dar
um tempo é fugir de enfrentar o conflito.
Dar um tempo é uma atitude que prova a incapacidade de um casal de
entrar em consenso. Dar um tempo é aceitar que nenhum dos parceiros está
disposto a abrir mão de seu ponto de vista.
Dar um tempo é a melhor maneira de se criar a privação. Opta-se pelo
afastamento e perde-se os beijos, os abraços, os amassos, a atenção e a
presença.
A privação vai se tornando maior e cada vez mais incômoda. Até que leva
a atitudes desesperadas de ter tudo o que foi perdido de volta. Mas só até que
se fique menos privado novamente. Ou até que os mesmos motivos anteriores levem
a um novo conflito, semelhante ao anterior.
O problema é que o que gerou o conflito não foi encarado, não foi
resolvido. Dar um tempo cria uma condição que desvia o foco do que precisa ser
cuidado.
Dar um tempo é testar o óbvio. Se não tivessem afinidades, não teriam se
aproximado. Se não tivessem química, não teriam mantido uma relação. O que
motiva um conflito não é o que um casal tem de bom, o que leva a um conflito
são os problemas que surgem no relacionamento.
Para mim, quem escolhe dar um tempo na relação deveria, na verdade, dar
um tempo de si mesmo.
Lutar pela relação, se ainda houver amor, é munir-se de ânimo para
enfrentar o caminho mais difícil. Fugir da decisão e dar um tempo é optar pelo
caminho mais fácil.
Pôr um ponto final na relação, se já está fracassada, ou enfrentar o
conflito é coragem. Dar um tempo é covardia.
| Relacionamentos:
escolhidos ou impostos impõem desafios a serem superados.
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