![]() |
Arte de Weberson Santiago |
Luciana se enchia de esperança a cada novo relacionamento. Bastava o
primeiro encontro e o telefonema do rapaz na semana seguinte para que ela
começasse a se imaginar casando. Conforme o relacionamento avançava, ela que
trabalhava no comércio, começava a comprar coisas em lojas de departamento:
utensílios domésticos, roupas de cama, mesa e banho.
Quando Carlos, o primeiro namorado, descobriu a compra, se assustou com
o tamanho do passo, com a rapidez da evolução. Fugiu do compromisso e abandonou
o relacionamento. Luciana ficou muito chateada, perdeu a esperança de se casar,
mesmo com as amigas lhe dizendo que ele partiu porque não gostava dela de
verdade. Sentiu-se culpada.
Ainda assim, bastava que ficasse com outro rapaz em uma festa e ele
demonstrasse a intenção de marcar outro encontro, para que ela fosse tomada por
uma coceira incontrolável para comprar algum objeto para quando viesse a se
casar. Era uma vontade persistente, que se sustentava em um sonho muito
desejado.
Como percebeu que as compras tinham assustado o seu namorado anterior,
Luciana passou a adiar mostrar todos os objetos que ela dispunha para usar após
o casamento. Mantinha-os em um quartinho na casa de sua mãe. Quando o novo
namorado Fábio, conheceu o enxoval, também pulou fora da relação. E foi assim
com o Lucas, o Paulo e o Edgar.
Luciana já tinha uma casa completa dentro daquele quarto, entre móveis,
enxoval e utensílios de cozinha, mas lhe faltava a esperança. Pouco a pouco ela
foi diminuindo, chagando a pensar que não usaria nada daquilo que foi juntando,
pois seus namoros não evoluíam.
Até que Luciana conheceu o Marcos, um cliente que atendeu na loja onde
trabalhava. Ele era auxiliar administrativo em uma imobiliária do centro da
cidade e havia acabado de receber as chaves de um pequeno apartamento que tinha
financiado desde a planta. Ele havia entrado na loja para comprar as primeiras
coisas pro novo apartamento.
Luciana lhe vendeu um jogo de cama de casal e entendeu que ele tinha a
cama, mas não tinha a companhia. Observou as mãos e não encontrou nenhuma
aliança. Ele achou ela bonita, mas só tomou alguma iniciativa quando lhe
encontrou num restaurante por quilo e a convidou para sentar na mesa dele.
Pronto. Ele tinha o apartamento e ela era dona de tudo o que era preciso
para transformar aquele espaço em um lar. Era a panela conhecendo a sua tampa.
As metades da laranja que se completavam. Os opostos se atraindo na intensidade
de um imã.
— Você não se importa de usar todas aquelas coisas que eu comprei em
outros relacionamentos? – perguntou Luciana.
— Não – respondeu Marcos sem titubear – você comprou pra usar com seu
marido, mas nenhum deles merecia ocupar este lugar. Você já comprava pra nossa
casa, só que ainda não sabia disso.
| Relacionamentos que não deram certo devem nos ensinar algo para
quando estivermos diante de um relacionamento que pode dar certo.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário